Premiações

Brilho do cinema brasileiro, com Fernanda Torres

A atriz, em evidência pelo longa "Ainda estou aqui", pode trazer o Globo de Ouro de melhor atriz, no drama ainda destacado na premiação do melhor filme internacional

Revista Variety aposta na atriz de Ainda estou aqui -  (crédito: Sony Pictures/Divulgação)
Revista Variety aposta na atriz de Ainda estou aqui - (crédito: Sony Pictures/Divulgação)

Um quarto de século depois, a conjuntura se repete: lá está Fernanda Torres, às raias da vitória como melhor atriz, no Globo de Ouro, na defesa do também indicado a melhor filme internacional Ainda estou aqui. Numa prévia, a influente revista Variety a coloca como primeira da lista de apostas. Com o mesmo diretor do filme, Walter Salles, depois de uma estrada pavimentada por vitórias no Festival de Berlim, no clássico Central do Brasil (quando a atriz Fernanda Montenegro e o filme se viram consagrados), Fernanda Torres pode ir tão longe quanto a mãe, que, às vésperas dos anos 2000, concorreu ainda ao Oscar, em um longa também candidato na categoria de filme internacional.

As indicações para a estatueta da Academia serão conhecidas no próximo dia 17. Hoje, logo mais, à noite, Ainda estou aqui pode obter prêmios Globo de Ouro, na 82ª edição da cerimônia, no Hotel Beverly Hilton (Los Angeles). Em 1999, vale a lembrança, Central do Brasil logrou o Globo de Ouro, mas foi barrado na vitória do Oscar pelo despontar do múltiplo talento de Roberto Benigni, ator, diretor e roteirista de A vida é bela, representante da Itália. A festa de premiação, hoje, chega em exibição pelo TNT e ainda pelo serviço de streaming Max, tudo a partir das 22h.

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É bem verdade que, em 1999, ano do fenômeno Central do Brasil, os títulos alinhavados na disputa ao Globo de Ouro faziam a concorrência menos acirrada: havia o consagrado Carlos Saura à frente de um musical (Tango); um filme polêmico dinamarquês (Festa de família) e uma fita mexicana (Homens armados) conduzida por norte-americano, além de um representante dos Países Baixos (A noiva polonesa). Na noite de hoje, o filme brasileiro (premiado, pelo roteiro, no Festival de Veneza) sobre os desdobramentos da ação da ditadura sententista na família do político Rubens Paiva terá concorrentes literalmente de ouro: três grandes destaques no Festival de Cannes (Emília Pérez, A semente do fruto sagrado e Tudo que imaginamos como luz); uma fita polaco-dinamarquesa (A garota da agulha), e, novamente, um produto da Itália (que, na história, só de Oscar, já venceu 11 estatuetas), Vermiglio.

Se, de vez em quando, alguém (no Brasil) faz algo que é compreendido internacionalmente, como já defendeu a atriz Fernanda Torres, a medida de uma compreensão minuciosa da personagem que ela estampa em Ainda estou aqui, é rara e singular. Eunice Paiva era mãe de cinco filhos quando foi jogada à condição de viuvez incerta, com o desaparecimento do marido. Ao Los Angeles Times, Fernanda decifrou parte da pesquisa pela personagem morta há seis anos: "As entrevistas dela eram tão incríveis porque ela era sempre educada, gentil. Ela sempre tinha um sorriso e, ao mesmo tempo, era tão inteligente, racional, persuasiva, muito feminina, mas poderosa", enumerou.

Com chances de burburinho na lista do Oscar, dois concorrentes ao Globo de Ouro de melhor filme estão com campanhas enfraquecidas: Um completo desconhecido traz as comentadas interpretações de Timothée Chalamet e Edward Norton, num filme que cerca a figura folk Bob Dylan, enquanto Setembro 5 se atém a eventos terroristas nas Olimpíadas de 1972, televisionados por equipe da ABC Sports. Nickel Boys, que registra racismo nos anos de 1960, e Duna: Parte 2, outros concorrentes ao prêmio central, ainda estão opacos nas candidaturas ao Globo de Ouro.

Efeito qualitativo

Noutro patamar, estão dois dos candidatos a melhor drama, Conclave e O brutalista. O primeiro traz a direção do alemão Edward Berger, reconhecido por Nada de novo no front (2022), ao passo que O brutalista coloca em evidência o lado diretor de Brady Corbet, lembrado por trabalhos como ator ao lado de diretores icônicos como Michael Haneke e Lars von Trier. Candidato a sete Globo de Ouro, O brutalista retrata uma virada de mesa para um arquiteto foragido da situação violenta na Europa, no pós-guerra. Conclave, pela vez, revela os bastidores conspiratórios numa eleição interna do Vaticano, a partir de livro Robert Harris, com destacados personagens para Ralph Fiennes e de Isabella Rossellini, ambos indicados ao Globo de Ouro no filme que acumula seis indicações.

Junto com a diferenciada indicação do consagrado francês Jacques Audiard (de O profeta e Ferrugem e osso, além de Dheepan), pelo sucesso Emilia Pérez, duas mulheres estão bem situadas na disputa pela melhor direção: Coralie Fargeat (do filme sensação A substância, que colocou as atrizes Demi Moore e Margaret Qualley na disputa) e Payal Kapadia, bem-sucedida pela conquista do Grande Prêmio do Júri, no Festival de Cannes, por Tudo que imaginamos como luz. O criador de Anora, Sean Baker, lembrado pelos cinéfilos brasilienses pelas participações no Biff e no FicBrasília, também está em completa evidência pela direção do prestigiado longa.

A passos da nova presidência de Donald Trump, o ator Sebastian Stan (de O aprendiz, que interpreta o político ainda em formação) está presente no Globo de Ouro em dupla exposição: por O aprendiz (em que brilha ainda o coadjuvante Jeremy Strong) e por Um homem diferente, lançado nos cinemas em dezembro. Sem considerar as 12 categorias reservadas aos produtos televisivos, o Globo de Ouro, pelo lado do cinema, promete projetar nomes como Jesse Eisenberg, o ator e roteirista de A verdadeira dor; a dupla de cantoras e atrizes de Wicked Ariana Grande e Cyntia Erivo; outra dulpa (Zoe Saldaña e Selena Gomez) reunida em Emilia Pérez e o talentoso Gabriel LaBelle (descoberto por Steven Spielberg em Os Fabelmans), destacado como melhor ator de comédia, em Saturday Night: A noite que mudou a comédia, ao interpretar o lendário produtor de tevê Lorne Michaels.

 

Na trilha dos prêmios

Na escalada de Fernanda Torres a um possível Oscar, a ausência nas finalistas Critics Choice Awards pesa, mas, em sociedade com a mesma entidade, na quarta edição da Celebração do Cinema e da Televisão Latina, em outubro passado, a brasileira de Ainda estou aqui foi premiada como atriz internacional. Além de estar no radar do Greater Western New York Film Critics Association, ao lado de concorrentes como Mikey Madison e Pamela Anderson, Fernanda Torres ainda obteve (ao lado de Demi Moore, vista em A substância), a segunda posição de melhor atriz, numa votação da Associação de Críticos de Los Angeles.

Na esfera do sindicato que, grosso modo, tem alto peso nas indicações para o Oscar, (o Screen Actors Guild), Fernanda Torres só saberá das indicações no dia 8 de janeiro. Já a cerimônia de premiação dos membros da entidade será em 23 de fevereiro.

Outra sinalização do efeito na campanha rumo ao Oscar será sentido no 26 de janeiro com os resultados do Satellite Awards, que, desde 1997, vota pelos melhores do cinema. Formado pela International Press Academy, primeira instituição a adotar a nomenclatura de "filme internacional", no lugar de estrangeiro, Fernanda Torres compete com seis colegas, entre as quais Saoirse Ronan, de The outrun, e Lily-Rose Depp, de Nosferatu.

Por fim, Fernanda Torres ficou em alta, no circuito de representantes internacionais da imprensa, ao lado de jornalistas do The Hollywood Reporter, Variety e The Wrap, como finalista ao Discussing Film Global Critic Awards, que teve candidatos apontados no domingo passado.

  • Emilia Pérez: atenção para o musical
    Emilia Pérez: atenção para o musical Foto: Pathe/Divulgação
  • Nickel boys trata da questão do preconceito racial
    Nickel boys trata da questão do preconceito racial Foto: Amazon MGM/Divulgação
  • A verdadeira dor multiplica o talento de Jesse Einsberg (E)
    A verdadeira dor multiplica o talento de Jesse Einsberg (E) Foto: Searchlight Pictures/Divulgação
  • Isabella Rossellini, rara presença feminina em Conclave
    Isabella Rossellini, rara presença feminina em Conclave Foto: Focus Features/Divulgação
  • Gabriel LaBelle na comédia Saturday Night
    Gabriel LaBelle na comédia Saturday Night Foto: Universal Pictures/Divulgação
  •  Adrien Brody, o ator de O brutalista
    Adrien Brody, o ator de O brutalista Foto: A24/Divulgação
Ricardo Daehn
postado em 05/01/2025 10:18 / atualizado em 05/01/2025 10:22
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