Lemas de vida do ator britânico Nicholas Hoult — em absoluta projeção, por uma trinca de filmes, simultaneamente em alta — parecem servir a qualquer e simples mortal: vivenciar a vida, conhecer pessoas e novidades, numa perspectiva de sempre estar "crescendo e mudando". Nas filmagens de Nosferatu, em que ele interpreta o desesperado Thomas Hutter, à beira de perder a esposa, o grau de exigência do diretor Robert Eggers era tamanho, a ponto de Hoult ter que controlar as sobrancelhas. Numa combinação perfeita, Eggers escalou o ator movido pela naturalidade, com aspectos emocionais e sensíveis. "Acho que depois de ele trabalhar em A favorita, com Yorgos (Lanthimos, o cineasta grego de Pobres criaturas), Hoult me impressionou, particularmente na atenção aos detalhes de cada cadência e micro domínio dos diálogos, a cada cena", observou Eggers ao site Deadline.
Uma cumplicidade extrema é notada pelos cinéfilos fãs de Nicholas Hoult, desde a época em que ele tinha 12 anos. Foi ao lado do astro Hugh Grant que ele impressionou, em Um grande garoto (2002). "Eu estava muito ciente, quando criança, do fato de que atores mirins não se tornam necessariamente atores adultos. Então também havia essa consciência de 'talvez isso tudo não dê certo'", comentou o astro para a revista Vanity Fair, na qual, em entrevista, se reencontrou com Hugh Grant, um real ídolo dele, tal qual Jim Carrey. Trampolim para a idolatria parece bem armado para Hoult, neste começo de 2025: uma vez que Nosferatu chegou na esteira de outros dois filmes, o polêmico The order (do diretor australiano Justin Kurzel) e ainda Jurado nº 2, no qual encontrou Clint Eastwood. "Foi incrível trabalhar com esses três diretores num mesmo período. Ao final, sentei-me por um minuto e refleti. Colaborar com aqueles três diretores, em um ano?! Isso foi um sonho, e cresci muito", comentou à imprensa norte-americana.
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Do set meticuloso e específico de Robert Eggers, Hoult saltou para o relaxamento e improviso proposto por Justin Kurzel (que, com The order, disputou o Leão de Ouro, no Festival de Veneza). Um assassino frio e manipulador esteve prospectado para a tela, e inspirado na realidade descrita em livro de 1989 (A fraternidade silenciosa), de Kevin Flynn e Gary Gerhardt. Bob Mathews (Hoult, na tela) foi um personagem real que teve a disposição de espalhar uma supremacia branca desafiada pelo personagem da lei vivido por Jude Law. "Foi interessante tentar entender onde essas inverdades (de Mathews), sementes falsas, são plantadas e como elas se desenvolvem junto a pessoas que ele manipulava e desorientava. Foi um aprendizado ter a noção de como esse tipo de ódio (racista) se espalha", demarcou o astro que, outrora, esteve do lado da lei, na pele azulada de Hank, o mutante Fera, na saga cinematográfica dos X-Men.
Atualmente casado com a atriz Bryana Holly, e pai de dois filhos, Hoult não desperta tanto furor quanto à época em que estendeu, por cinco anos, um romance com a estrela de Jogos vorazes, Jennifer Lawrence. Nos tabloides, esteve em alta, mas parece ter levado bem o jogo de exploração da imagem. Parado por fãs, sedentos de selfies, Nicholas não perde a linha. "Acho que, nisso, sou legal. São 10 segundos do meu dia! E se isso torna o dia de um fã melhor, mesmo que ele pense que eu sou outra pessoa, então, tudo bem", respondeu ao colega Hugh Grant, numa recente entrevista protagonizada por ambos. Mas que ninguém confunda: Hoult é muito protetor dos filhos e detesta cliques sem solicitação.
Convincente numa gama de papéis derivados do abstrato, Hoult já deu voz à animação Garfield: Fora de casa (como narrador), foi um ser fora da curva do terror, em Meu namorado é um zumbi (2013) e ainda tirou proveito, no incremento da performance, como Nux, de cada dólar empregado na superprodução Mad Max: estrada da fúria (2015). Com tanta cancha, até ele deve ter estranhado ter sido preterido, à época da seleção para encarnar o novo Batman no cinema; um papel que ficou com Robert Pattinson. Mas o universo de adaptação dos quadrinhos, em 2025, verá o astro como o vilão Lex Luthor, na versão zerada de James Gunn para Superman. "Inteligente e implacável, Luthor tem que superar Superman em certos níveis porque não pode enfrentá-lo em outros", já demarcou o ator, em torno do desafio. Ainda que com todo o respaldo de James Gunn na temática, o astro se diz "assustado", além, claro, de curioso, com o aval dos cinéfilos.
Se a sensação de estar à deriva no mundo de tensões experimentadas em Nosferatu perturbou Hoult, The order demandou toda sorte de compreensão desmedida para o ator que, desde 2023, está no quadro dos membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas que votam no Oscar. Em jogo estava a estupidez na defesa de uma supremacia branca. Testando a jocosa intenção de ver a própria (e futura) lápide ostentar: "Sua versatilidade (a de Nicholas Hoult) nunca pode ser questionada", o astro se entregou para o recente, e estimado como o último filme dirigido por Clint Eastwood, Jurado nº 2. Sobre os bastidores, para edição britânica da revista Rolling Stone, o ator contou: "Estava obviamente tentando fazer o meu melhor, mas Eastwood estava ali, e me observando, nada ficaria mais icônico do que isso". Embarcar no tom emocional, "sem excessivo filtro do raciocínio", foi a indicação do mestre (do western) e dos thrillers, quanto à interpretação do protagonista Justin Kemp, imerso num julgamento e consumido por uma latente culpa. Hoult parece ter seguido à risca todos os conselhos.