MÚSICA

A vez do feminejo: as estrelas que estão na dianteira do gênero

O sertanejo tem se transformado e as mulheres cada vez mais abrem portas no gênero. O Correio entrevistou Ana Castela, Luiza Martins e Mari Fernandez sobre carreira e história na música

Ana Castela, Mari Fernandez e Luiza Martins são alguns dos nomes do 'feminejo' -  (crédito: Divulgação)
Ana Castela, Mari Fernandez e Luiza Martins são alguns dos nomes do 'feminejo' - (crédito: Divulgação)

Famoso pelas letras sobre casos de amor, corações partidos e superações amorosas, o sertanejo é um fenômeno com raízes antigas. Porém, em um universo onde a visão masculina é predominante, uma nova perspectiva vem se destacando nos últimos anos: a feminina. A palavra feminejo já não é mais estranha no cenário musical brasileiro, na verdade, ela vem ganhando cada vez mais destaque e nomes para representar a vertente.

Apesar de a palavra ser recente, a presença feminina no sertanejo não data de hoje. Paula Fernandes, febre do sertanejo no meio dos anos 2000, já emplacava hits antes da nova perspectiva do gênero musical, dominado por homens. Em 1993, a cantora lançou o primeiro álbum, Paula Fernandes, mas foi só em 2009, com Pássaro de fogo, que conseguiu reconhecimento nacional e se tornou um dos grandes sucessos da cena.

Porém, foi somente em 2016 que o termo se popularizou e começou a ser usado com um subgênero do sertanejo. No mesmo ano, o maior fenômeno do sertanejo feminino explodiu no Brasil. Marília Mendonça lançou o álbum intitulado com o próprio nome da cantora. O álbum foi o primeiro passo para a carreira de sucesso da artista, que se tornou uma das principais revelações da música sertaneja. Não demorou muito para Marília furar a bolha do sertanejo e se tornar uma das maiores cantoras da cena musical brasileira.

Desde o sucesso de Marília Mendonça, diversas artistas continuam a construir o legado e as mudanças iniciadas pela cantora. Mari Fernandez, Ana Castela, Luiza Martins, Simone Mendes, Maiara e Maraísa e Lauana Prado são alguns dos nomes que vêm mudando o sertanejo e construindo uma nova era do gênero. O feminejo explora uma diversidade maior de ritmos e coloca as mulheres em foco na composição e interpretação das músicas que tratam a independência feminina, paixões e traições. 

O Correio conversou com Mari Fernandez, Ana Castela e Luiza Martins sobre os sucessos, as mudanças e perspectivas de futuro no sertanejo feminino.

Diretamente do Ceará

Uma jovem de apenas 23 anos tem deixado grandes marcas no mundo sertanejo e no gênero do piseiro. Mari Fernandez é cearense e a música sempre esteve presente em sua vida. "Com 16 anos, me mudei para Fortaleza atrás do meu sonho, passei a compor todos os dias e a cantar em barzinhos. Foi assim que tudo começou até uma das minhas músicas viralizar nas redes sociais", conta a cantora.

Apesar de cantar desde criança, seu sonho sempre foi ser compositora, área na qual também se destaca. Para ela, a composição faz parte da sua essência e deflagrou a sua carreira. "No início, meu sonho era vender minhas letras para outros artistas cantarem. Consegui vender algumas até que conheci um dos meus sócios e ele estava procurando uma menina para cantar piseiro. Ele confiou em mim e apostou no projeto Mari Fernandez e aqui estou", destaca.

A artista conta que surgiu no piseiro, um gênero em alta mas que tinha como grandes sucessos apenas homens. Apesar do seu início no piseiro, Mari Fernandez ressalta que gosta de experimentar diversos estilos e seu amor mesmo é pela música, tendo o privilégio de navegar por onde desejar.

Mari Fernandez foi uma das artistas atuais que cresceu por meio do boom das suas produções nas redes sociais. "Demorei muito a entender o que estava acontecendo. As pessoas falam para mim: você viu que fulano fez um vídeo com sua música? E sicrano que está fazendo a dancinha…. Confesso que a ficha demorou um pouco para cair", destaca. A cantora acredita que esse processo foi uma forma dos fãs receberem seu trabalho e fazer uma divulgação mais orgânica.

A festa Mari sem fim é uma marca da cantora que foi criada de forma despretensiosa. Mari sempre estourava o tempo dos shows e ficava com desejo de mais. "Um dia, brincando com minha equipe, falei que ia fazer um show sem hora para acabar, para não passar mais por isso. Ia testar o meu limite e o dos fãs… eles acharam a ideia massa e montamos o Mari sem fim", comenta. Com o projeto, já percorreu o país e entrega uma energia diferenciada ao público.

Crescendo com Zezé Di Camargo e Luciano, Chitãozinho e Xororó e Leonardo, a cearense acredita que o sucesso repentino traz muitas responsabilidades e hoje, com ajuda da sua equipe, consegue manter a cabeça no lugar para seguir entregando qualidade e grandes projetos para o público. "Essa troca com o público, o carinho dos fãs são algo surreal. Meus fãs são incríveis e eu sou muito grata. Deus abençoou muito minha carreira. Eu nunca imaginei chegar aonde estou em tão pouco tempo", finaliza Mari Fernandez.

Boiadeira raiz

Dona de uma das vozes mais tocadas atualmente no Brasil, Ana Castela, de apenas 21 anos, vem construindo um verdadeiro legado para as próximas gerações. Cantar não estava nos planos dela, mas, de repente, tornou-se a jornada principal da jovem. "Costumo dizer que não tenho noção do tamanho do meu sucesso e nem quero ter. Quero continuar cantando, tocando corações e curtindo tudo isso que a música me proporciona", conta a artista.

Em 2021, Ana Castela lançou o primeiro single, Boiadeira, que estourou no país inteiro e transformou a vida da cantora. Desde então, o nome da música se tornou não só um hit, mas o apelido de uma das artistas de maior sucesso no âmbito nacional, que conquista também o público infantil.

Apesar de ser considerada por muitos a precursora do agronejo, uma nova vertente do sertanejo com referência ao universo do agronegócio, Ana Castela não desconsidera a trajetória de outras artistas para que os caminhos estivessem abertos para que ela pudesse passar. "Antes de mim, vieram outras mulheres incríveis que abriram caminho para que pudéssemos ocupar espaços tão grandes e importantes", afirma. Porém, é inegável que a cantora quebrou barreiras no gênero e inspira outras mulheres a se jogarem na música.

Despretensiosamente, Ana Castela conquistou o Brasil, em especial o coração de muitas meninas, sendo um ícone entre as crianças. A cantora cresceu com o sertanejo, por ser do interior sempre teve contato com nomes como Paula Fernandes, Eduardo Costa, Rio Negro e Solimões, que incluiu no seu DVD de modões.

Em 2024, a jovem conquistou seu primeiro Grammy Latino, com o projeto Boiadeira Internacional, álbum de estreia da sua carreira. Para o futuro, que tem tudo para ser muito promissor, Ana já inicia o ano com o projeto Navio Ana Castela – Férias com a Boiadeira em alto mar, uma experiência de quatro dias de festa ao som do melhor do feminejo.

S de saudade

Luíza Martins ostenta uma trajetória um pouco diferente. Esse ano, a cantora lançou seu primeiro álbum solo, mas sua voz potente já está na música sertaneja desde 2017. Luíza fazia parte da dupla Luíza e Maurílio e encantou o público com sua voz na música S de saudade, que bombou em 2019. Infelizmente, em 2021, Maurílio sofreu um tromboembolismo pulmonar e faleceu.

Depois de uma pausa, a cantora decidiu seguir sua jornada na música e deu início a sua carreira solo com o álbum Continua, lançado em 2023. "Passei quase oito anos cantando com uma pessoa, dividindo todas as decisões. Então, apesar de ser muito difícil, foi um projeto inteiramente meu", conta Luíza.

Um dos grandes destaques do ano da cantora foi a música Baby doeu demais, que iniciou em uma brincadeira pela vinda do Bruno Mars ao Brasil. Luíza pegou a música Locked out of heaven do artista americano e fez uma sofrência com a cara do Brasil. "Estava tocando violão e comecei a brincar com a melodia da música. Meus amigos de composição acharam o máximo e a música explodiu nas redes sociais", conta. Baby doeu demais já alcançou mais de 2 milhões de visualizações no Youtube.

A cantora participou em outubro desse ano de uma homenagem para Marília Mendonça, o maior nome do sertanejo feminino. Luíza Martins comenta que foi um dos primeiros momentos após a perda da artista que conseguiu celebrar. "Ela foi muito única e a homenagem não era sobre quem estava no palco, foi tudo para ela", relata. A cantora também destaca que Marília abriu portas e fez com que outras mulheres conseguissem alçar voos dentro do gênero.

"Sinto muita felicidade de estar fazendo parte desse momento que foi iniciado por ela. Ela fez tudo que fez com muita naturalidade e com certeza abriu caminhos para mim", finaliza Luíza Martins.

*Estagiárias sob a supervisão de Severino Francisco

  •  Mari Fernadez: o sucesso Baby doeu de mais surgiu de uma brincadeira
    Mari Fernadez: o sucesso Baby doeu de mais surgiu de uma brincadeira Foto: Divulgacao
  • Ana Castela; a boiadeira ganhou o Grammy Latino em 2024
    Ana Castela; a boiadeira ganhou o Grammy Latino em 2024 Foto: Divulgação
  •  Luiza Martins começou cantando piseiro, mas abandonou porque só tinha música de homem
    Luiza Martins começou cantando piseiro, mas abandonou porque só tinha música de homem Foto: Divulgacao
Mariana Reginato*
Tainá Hurtado*
postado em 04/01/2025 07:00
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