Há 30 anos, uma dupla trouxe uma forma diferente de se comunicar e educar as crianças brasileiras. A Palavra Cantada, formada por Paulo Rubens e Sandra Peres, comemora três décadas de existência em 2024. Com um longevo trabalho, eles fazem parte da história de vida de gerações de crianças brasileiras que até hoje se perguntam o "que que tem na sopa do neném?".
Nesse período de tempo, o duo lançou 20 álbuns e assinou 430 composições. Os números são impressionantes, com mais de 2, 3 bilhões de visualizações no canal do YouTube, que acumula 3,7 milhões de inscritos. No Spotify, são mais de 750 mil ouvintes mensais e músicas que somam 20 milhões de reproduções.
Porém, antes de atingir a popularidade no mundo virtual, a Palavra Cantada foi fenômeno na televisão. Contemporâneos da programação infantil da TV Cultura em São Paulo, os compositores entendem que ocuparam um espaço de mercado que estava aberto para novidades em 1994. "A gente surge em 1994 de uma preocupação nova dos pais que queriam saber o que os filhos estão ouvindo", explica Paulo Rubens, em entrevista da dupla ao Correio. "Não bastava mais a criança estar matriculada na escola e passar de ano, tem o alívio dos pais de ver as crianças ouvindo algo compatível com o que eles entendem como boa música", complementa.
O duo percebeu que os pais estavam interessados em ver os filhos recebendo boas influências, por isso os dois trabalharam para fazer algo bonito, interessante, criativo e educativo para as crianças. "Quando você se envolve com a música, você repete o que está sendo dito. Ou seja, você está trazendo conceitos, percepções, crenças, verdades e mentiras para dentro de você", pontua Sandra Peres. "Os pais que ouviam eram fidelizados na confiança de que a nutrição musical que a gente oferece, isso faz diferença na vida da família. O adulto desenvolveu muita confiança na gente", acredita.
Dessa forma, a Palavra Cantada foi angariando público que fez o grupo permanecer ativo e produzindo ao longo do tempo. "Só foi possível seguir, acreditar e continuar fazendo graças ao público tão fiel que temos. As pessoas consomem, acreditam e se fidelizam com o nosso trabalho", classifica Sandra. "Eu tenho pensado muito sobre o que é estar 30 anos numa dedicação para o mesmo trabalho. Mas eu acho que mais recebo do que dou", reflete.
Contudo, ambos percebem que o alcance do trabalho está também na qualidade do que está sendo feito, para além do interesse do público. "As nossas canções e o nosso jeito de cantar vão levando o público para cenas, mesmo que elas não sejam muito explícitas. Realmente existe uma aventura em que a criança mergulha", analisa Paulo.
Antes de amarem o retorno do público, os dois integrantes da Palavra Cantada querem fazer música e viver dela. "O convite externo faz com que a gente se estimule, mas também há o convite interno. A música é o grande estímulo. A composição de novos temas e a criação de conteúdos é o que nos dá vontade de continuar", diz Sandra que dá a certeza de que continuaria fazendo o que faz mesmo sem o sucesso. "Mesmo que não estivesse acontecendo um movimento cada vez mais positivo com a Palavra Cantada, ainda assim estaríamos e estaremos de mãos dadas com o livre criar", destaca.
Imagem é tudo
De 1994 a 2024, o mundo mudou muito. A forma como as crianças consomem cultura foi se alterando e, atualmente, é muito mais rápido. A Palavra Cantada precisou se adaptar aos tempos e encontrar novas formas de alcançar os pequenos. "A criança de hoje é muito diferente dos últimos 15 anos", destaca Sandra.
A questão da imagem foi crucial para uma nova vida útil para o duo. "A gente percebeu que, se não colocarmos uma imagem, um clipe, a música não existe para o público infantil", aponta Paulo. "O estímulo sonoro continua, o diferencial é o código de linguagem. Hoje estamos mais ancorados em conteúdos oferecidos junto com a imagem", acrescenta Sandra.
Para além desse trabalho, o fato de terem conquistado os pais ainda quando crianças faz com que a Palavra Cantada se torne uma herança familiar. "A gente foi percebendo que as pessoas que eram crianças no nosso início apareciam de outras formas nos nossos shows, seja como pai, ou cinegrafista, ou jornalista", comenta Paulo. "Tem vezes que vemos do palco o pai olhando para a criança esperando reações para ver se o filho está entendendo tudo que ele entendeu quando era pequeno", conta. "Existem músicas que a gente precisa tocar nos shows até hoje porque, pelo menos os pais, a gente sabe que vai agradar", brinca.
Esses 30 anos são uma conquista, mas Sandra entende que a Palavra Cantada é eterna. "A gente já tem um legado, uma coleção de músicas que vai seguir mesmo depois que formos embora", comemora. "A arte não tem tempo, desde que o que nós criamos não seja datado e não seja moda. Queremos que as famílias no futuro nos ouçam como clássicos", almeja.