Artes cênicas

Em entrevista, Samantha Schmütz fala sobre humor no Brasil

Dividida entre televisão, cinema e música, Samantha Schmütz celebra longevidade do humorístico Vai que cola e revela planos para filme de Juninho Play

Uma das principais representantes femininas na comédia brasileira, Samantha Schmütz trilha uma trajetória de sucesso há mais de 20 anos. A atriz, formada em artes cênicas pela Casa das Artes de Laranjeiras, deu início à vida artística no fim da década de 1990, estreando como comediante em 2004, na peça O surto. O talento da carioca no humor foi reconhecido rapidamente — no ano seguinte, fez uma participação no seriado A diarista, da Rede Globo, e, em 2007, ganhou projeção nacional com o personagem autoral Juninho Play, no Zorra total, programa em que permaneceu até 2012. Em meio a trabalhos também no cinema e na música, ela protagoniza, desde 2013, o Vai que cola, no papel da personagem Jéssica.

Na 12ª temporada, o humorístico exibido pelo Multishow é um dos mais longevos da televisão nacional. "É um humor leve, livre e que acompanha a realidade do Brasil", assim justifica Samantha o sucesso da atração. "Os personagens são imitações da vida real, e isso faz o público se ver naquela situação e rir de suas próprias mazelas", comenta a atriz, que divide, desde a 1ª temporada, os holofotes com Catarina Abdala, Marcus Majella e Cacau Protásio.

"O Vai que cola tem um lugar de mudança e vitória no meu coração, larguei a Globo e o Zorra total para fazê-lo a convite do Paulo Gustavo, e isso também marcou nosso primeiro trabalho juntos na TV. Foi muito especial", conta. Amiga próxima do humorista que morreu em 2021 devido a complicações da covid-19, ela fez parte do elenco da trilogia cinematográfica Minha mãe é uma peça, criada e protagonizada por Paulo.

Para Samantha, outro segredo por trás do êxito e da longevidade do humorístico é o poder de adaptação. "Acho que estamos evoluindo e vendo que existem piadas que não cabem mais, porque, no fundo, não são piadas, e, sim, um bullying disfarçado, que pode afetar seriamente a saúde mental das pessoas e contribuir para que preconceitos e padrões se perpetuem", aponta a comediante.

"O programa está sempre refletindo o comportamento da sociedade", afirma. Jéssica, por exemplo, é uma crítica à busca desenfreada pela fama de hoje em dia, explica a carioca. "As pessoas querem ficar famosas antes mesmo de se prepararem para que seu trabalho seja relevante, é simplesmente a fama pela fama. Eu acho isso horrível", lamenta.

Colecionando personagens em produções de humor, Samantha resume Jéssica como a personagem mais feminina da carreira. "Ela foi importante para mostrar ao público meu lado mulher, já que meu personagem mais popular é um menino adolescente (Juninho Play)", aponta a atriz.

Já são mais de 10 anos da saída da atriz do Zorra total — ainda assim, ela ainda é reconhecida na rua pelo papel vivido entre 2007 e 2012. "Todos os dias na rua me chamam de Juninho, tenho a sensação de que ele é algo além de mim", diz. "Consegui criar um personagem que é tratado como se fosse uma pessoa fora de mim. É muito lindo ter feito algo tão impactante que está no imaginário das pessoas. Acho que ele é especial, porque é verdadeiro, não quer ser bom, nem ruim", avalia.

"Ele apenas existe em sua totalidade de defeitos e qualidades, mas deixando o carisma e a malandragem se sobressair a todas elas. Ele é sacana demais, as pessoas amam", complementa Samantha.

Ainda amado pelo público, o personagem deve ganhar um filme próprio em breve. Em fase de trabalho de roteiro, o longa-metragem irá acompanhar Juninho Play no mundo das lutas. "Ele finalmente vai correr atrás do seu sonho, ser campeão do Ultimate Fighting Championship (UFC)", adianta a humorista.

"Quero fazer um filme de comédia e luta, no sentido literal e figurado. Um filme para a família inteira se divertir junto, colorido e filmado da maneira mais cinematográfica possível", descreve. "Às vezes, acho que as comédias brasileiras são filmadas de maneira televisiva demais. Quero ousar, nosso público merece", declara a carioca.

Para além do humor

Vivendo nos Estados Unidos desde 2022, Samantha Schmütz tem se dedicado ao canto, instrumento que estuda desde os 17 anos de idade. "A música tem fluído muito bem pra mim aqui em Los Angeles. O fato de eu não ser conhecida como comediante me ajuda a ser ouvida com pureza. Na imagem, as pessoas me escutam com os ouvidos e não com os olhos, como aí no Brasil. Aqui, eles enxergam primeiro a cantora. Aí, eles enxergam tudo que sabem de mim primeiro, antes mesmo de me ouvirem", pondera.

Ao longo da carreira, a artista participou de oito musicais, comandou quatro temporadas do programa Samantha canta, no Canal Bis, em que apresentava versões próprias de músicas do pop, e, em 2023, acompanhou Arthur Verocai em uma turnê pelos Estados Unidos. Recentemente, ela lançou o single Nossa cor com o produtor norte-americano Adrian Younge.

 


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