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'Fernanda Montenegro foi injustiçada', avalia o ator Vinícius de Oliveira

Protagonista com Fernanda Montenegro do filme "Central do Brasil", de 1999, Vinícius de Oliveira, hoje com 37 anos, comenta sobre a possível ida ao Oscar em 2025 de "Ainda estou aqui", do mesmo diretor, Walter Salles, e protagonizado por Fernanda Torres

Há 25 anos, um garoto ganhou a atenção do mundo ao protagonizar, ao lado de Fernanda Montenegro, um filme brasileiro que chegou ao Oscar. Vinícius de Oliveira, então com 13 anos em 1999, deu vida a Josué em Central do Brasil, filme que concorreu como Melhor Filme Estrangeiro e deu à rainha da dramaturgia brasileira a oportunidade de concorrer como Melhor Atriz em Hollywood. Agora, o rapaz cresceu e, aos 37 anos, atuando em produções no streaming como Os quatro da Candelária e Um dia qualquer, vê a oportunidade de Ainda estou aqui, dirigido pelo mesmo Walter Salles que o revelou estar na disputa pela icônica estatueta.

Confira a conversa do ator com o Correio.

 

Ronaldo Corrêa/Divulgação -
Divulgação -

 

Entrevista | Vinícius de Oliveira

Você estreou como ator no audiovisual em um filme emblemático, Central do Brasil. Quais são as lembranças mais marcantes que tem deste período?

As minhas lembranças dessa época são muito vivas. Foram momentos muito incríveis, desde filmar no Rio de Janeiro, na Central do Brasil — que é um lugar enorme, com um intenso ir e vir das pessoas —, até quando viajamos para o Nordeste, com a realidade do final da década de 90, conhecendo novas pessoas e lugares. Nos bastidores eu adorava ficar junto da equipe, sempre ajudava no que precisavam. Era muito curioso e era um universo muito novo pra mim. Me divertia muito por trás das câmeras, observando o trabalho de todo mundo — tenho isso bem vivo na minha memória. Foram momentos muito ricos, em que aprendi muito sobre cinema. Meu desejo de direção vem daí, de ver essa movimentação do set, olhar o Valter dirigindo...

Agora, 25 anos depois, Ainda estou aqui revive esse momento, com chances de representar o Brasil no Oscar. Como sente que agora a injustiça pode ser reparada?

Está todo mundo na torcida pela indicação do filme ao Oscar, assim como pela indicação da Fernanda Torres como melhor atriz. E também vibrei muito com a indicação do Globo de Ouro. Mas, sobre o Oscar, caso o filme ganhe, não acho que vai ser uma reparação porque se a gente for falar de A vida é bela, ele não é aquele filme que você assiste, você pensa: “Pô, é duvidoso, por que que ganhou do nosso filme?”. É claro que tem outras questões que envolvem isso, como a temática que tem um certo favoritismo nos Estados Unidos — pode reparar, todos os filmes que vão disputar o Oscar, principalmente em filme estrangeiro, que tem a temática do holocausto, na maioria das vezes vencem. Isso porque tem muitos judeus em Hollywood e que é a galera da grana, que conseguem fazer uma campanha bem forte. Mas, sem dúvida, a injustiça foi com a Fernanda Montenegro, porque o trabalho dela é excepcional e não dá nem para comparar com o que a Gwyneth Paltrow fez em Shakespeare apaixonado. Neste lugar, eu acho que foi injusto. E aí, com a Fernandinha, podemos ver sim uma coisa de reparação, até porque se ela ganhar é também porque fez um trabalho extraordinário e belíssimo. Assim como o filme também é incrível e muito emocionante.

Reprodução/IMDb - central do brasil

O cinema brasileiro tem joias que reforçam a nossa qualidade também na sétima arte. E você está no elenco de diversos filmes premiados, como Linha de passe e Boi neon. Pode comentar sobre?

A qualidade de cinema nacional é de muito tempo. Temos uma história muito rica e emblemática com grandes cineastas que deixaram um registro inestimável de suas obras. Hoje em dia a gente vem reforçando isso. Nós tivemos uma retomada nos anos 90, assim como também tivemos filmes levados para grandes festivais internacionais. Então, acho que a nossa dificuldade com o cinema nacional é de manter a força, porque a qualidade já existe. E hoje, especialmente, também estamos saindo do eixo Rio e São Paulo e expandindo para outros lugares, sul, norte e nordeste, que trazem suas culturas ricas e diversas que potencializam ainda mais as histórias cinematográficas. Eu acho que o desafio é que enxerguem o cinema nacional como uma potência artística e econômica no país. Essa é a nossa luta: fazer com que o cinema tenha o seu lugar de excelência perante as políticas públicas. É inadmissível a gente trocar de governo e as artes ficarem ‘capengando’. A arte, dentro do país, também tem que ser soberana. Porque senão não temos o fortalecimento da nossa cultura. Eu acho que esse é um dos grandes problemas para o cinema nacional. Depois da década de 90, estávamos indo muito bem. No Governo Temer, houve a extinção do Ministério da Cultura, depois com o Bolsonaro, penamos mais ainda. Agora com o novo governo ainda estamos correndo atrás, porque foram anos difíceis pra gente. Esperamos que os próximos anos sejam mais potentes para realizações, descentralização de verbas, com editais mais completos que dialoguem com todos os interessados em fazer cinema e assim por diante...

Você está em Os quatro da Candelária e Um dia qualquer, séries do streaming que retratam a dura realidade da violência no Rio de Janeiro. Como produções como essa te impactam?

As histórias das duas séries me impactam muito porque não consigo viver nesse mundo e não ser afetado pela tremenda violência que ele nos impõe. E, falando especificamente do Rio de Janeiro, lugar onde nasci e cresci, cria da Favela da Maré, onde morei até meus 12 anos, e também um lugar muito violento. Então, acho que as séries trazem a importância da gente mostrar essa verdade através da arte e levar para o máximo de pessoas possível. E, também servem como um registro disponível, um material documental mesmo, sobre a realidade do país que a gente vive. Acho que é fundamental lembrarmos dessas situações, como retratadas Os quatro da Candelária e Um dia qualquer — que fala sobre as milícias tomando conta do Rio de Janeiro em uma escala tão grande. Acho que a gente tem que botar a nossa boca no trombone, usar temos de nosso reconhecimento, enquanto artistas, nos colocar perante a sociedade, se indignar diante de todas as situações de violência.

E os trabalhos na TV aberta fazem parte dos seus planos? Pretende fazer mais novelas?

Tenho vontade de fazer sim e estou sempre disponível, isso está no meu radar. Eu não sei exatamente o que os produtores de elenco das emissoras buscam enquanto artistas, mas tenho vontade e estou aberto para isso.

 

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