Samba

Sob comando de Teresa Cristina, Samba na Gamboa volta à TV Brasil

Teresa Cristina e Antonia Pellegrino falam sobre o novo Samba na Gamboa, programa de domingo ao meio-dia na grade da TV Brasil

As rodas de samba são lugares que misturam comida para alimentar o corpo e música para alimentar a alma. A TV Brasil, portanto, decidiu proporcionar essa experiência dentro da casa do público com o programa Samba na Gamboa. Ele esteve no ar entre 2008 e 2018 sob o comando de Diogo Nogueira e agora volta de cara nova apresentado por Teresa Cristina.

A atração mistura música e entrevista. Teresa convida grandes sambistas para conversar sobre a trajetória na música. Juntos eles cantam o repertório do convidado e a conversa apresenta uma nova perspectiva sobre o samba e o artista. Entre os convidados da temporada estão Zeca Pagodinho, Xande de Pilares, Leci Brandão, Serginho Meriti, Nilze Carvalho, Péricles e Zé Roberto. "A cada programa uma história, com pessoas que eu me sentia à vontade. Fiquei muito feliz porque vou poder mostrar nomes que o Brasil precisa conhecer. O país não pode desconhecer Serginho Meriti, Zé Roberto e Nilze Carvalho", conta Teresa Cristina em entrevista ao Correio.

Exibido às 13h nos domingos, o programa une o samba com almoço nas casas das família pelo Brasil. "Esse programa tem um ponto importantíssimo de carinho e afeto. Ele chega na hora do almoço, no momento da família reunida. De alguma forma a informação vai chegar a gerações diferentes", reflete a sambista que acredita no potencial da atração: "Vai assistir o avô, o pai, a mãe, o neto e o bisneto. Porque a comida tem o poder de unir as pessoas. O Samba na Gamboa vai chegar em um momento em que está todo mundo bem para dar o acolhimento".

Porém, a intenção do projeto não é só conquistar pelos ouvidos pessoas de barriga cheia. E, sim, trazer conteúdo para quem está em um momento em família aos domingos. "Todos os artistas que participaram, eu adentrei e pesquisei a obra, mesmo já conhecendo", lembra Teresa. "A Teresa Cristina encarna perfeitamente o que o programa precisa e, além disso, traz a dimensão da sambista e da pesquisadora. Ela é uma mulher extremamente culta que tem a vivência do samba e um conhecimento extremamente profundo" pontua Antonia Pellegrino, diretora de conteúdo e programação da EBC.

Antonia crê que a escolha por Teresa no comando do programa, que é um carro-chefe na programação da TV Brasil, rendeu frutos mesmo antes da estreia no último dia 8. "A Teresa traz o frescor de uma mulher negra com uma conversa e uma embocadura muito única", aponta a diretora que também reconhece o valor da nova apresentadora. "Cada programa você vê uma dedicação e um trabalho impressionantes", destaca.

Teresa, por sua vez, diz que o trabalho era fazer jus aos convidados com quem dividia o programa. "Eu devia o respeito a essas pessoas de falar: 'você está aqui como convidado, mas sabemos quem você é, sabemos da sua importância e queremos falar sobre você'", explica. "Foi muito gostoso ver a alegria das pessoas. Todo entrevistado, seja ele intérprete ou compositor, fica muito contente quando conversa com uma pessoa que sabe da obra dele, sabe o que ele fez", complementa

A sambista e apresentadora se esforçou, se emocionou, estudou e chegou ao resultado que queria em um programa da amplitude do Samba na Gamboa: "Pude acolher as pessoas que merecem acolhimento, reverenciar quem merece reverência e aprendi coisas que me surpreenderam, assim como eu acredito que acontecerá o mesmo com as pessoas que vão assistir".

Autoconhecimento

O Samba na Gamboa também foi um lugar para Teresa Cristina se entender melhor em alguns papéis. Afinal, ela é sambista, mas uma amante estudiosa do samba; é também apresentadora, mas teve a maior parte das experiências em temporadas curtas ou nas populares lives que fez nas redes sociais durante a pandemia. Com um programa em um bom horário e em um canal de tevê aberta, ela pode desenvolver mais as habilidades que já tem e ter um alcance ainda maior. "Foi muito importante, porque foi um reaprendizado", exalta.

A começar pelo lado da apresentação, em que ela se desapegou do passado virtual e deu um novo tom para o bate-papo com os colegas de samba. "Eu procurei fazer diferente da live, lá eu me expunha mais, aqui eu segurei um pouco a onda", destaca. "Eu tentei não fazer um programa sobre mim e procurei entrar no mundo do entrevistado", acrescenta.

O fato não impediu que ela se envolvesse. Ela decorou as músicas, cantou com os entrevistados e chegou a se emocionar. "Como não perder a compostura com Jorge Aragão?", brinca a artista. O programa era sobre as relações para além dos estudos. "Foi uma troca de energia muito boa poder exaltar esses artistas e deixar claro que eu conhecia a história deles", adiciona.

Como sambista, Teresa sentiu pertencimento. "Quando a gente começa a cantar e compor samba, a gente sabe que está entrando em um território que já foi ocupado, outras pessoas já fizeram. Os percalços que a gente vai passando parecem ser só com a gente", comenta. "O que eu pude perceber é que cada convidado tem a própria unidade, mas existe uma coisa que é da ancestralidade do samba. Quando ele tem que acontecer ele acontece. Não importa a dificuldade que a pessoa passou, as portas que foram fechadas ou os lugares que ela não ocupou. Isso nos une, aconteceu com todos nós", conclui.

Porém, o Samba na Gamboa também é um sonho realizado. Teresa nunca conseguiu fazer grandes turnês pelo Brasil e o programa é a chance de chegar, de alguma forma, a esses fãs que não a veem com frequência. "Isso é muito importante para mim. Eu tenho 26 anos de carreira e o meu sonho de viajar o Brasil continua cristalizado de viajar o Brasil. Um sonho ainda difícil e caro. Contudo, esse programa está me permitindo entrar nessas casas", diz. "Existem lugares que a gente infelizmente não consegue chegar fisicamente, mas o Samba na Gamboa vai cumprir esse papel. Eu almejava percorrer o Brasil de forma física, mas eu vou percorrer o Brasil de outra forma", comemora.

 


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