Artes visuais

Mestre da ilustração, Darel Valença Lins ganha exposição em Brasília

Exposição no Museu Nacional da República reúne quase 200 obras do artista Darel Valença Lins, uma das referências na história do desenho e da ilustração no Brasil

Um dos  ilustradores mais importantes do país e  dono de uma produção tão vasta que se espalha por técnicas como desenho, gravura e pintura, Darel Valença Lins ganha uma exposição com mais de 200 obras no Museu Nacional da República organizada pelo curador Oto Reifschneider. São praticamente sete décadas de trabalho representadas em Darel centenário, que comemora os 100 anos de nascimento do artista pernambucano. 

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De acordo com o curador, a mostra é uma retrospectiva com exemplares de todas as fases do artista, incluindo um núcleo erótico que marcou uma transição nas temáticas retratadas por Darel. "É uma exposição na qual a gente tenta apresentar o artista de forma cronológica, exceto o núcleo erótico, que está separado. Temos obras dos anos 1940 até os anos 2000", avisa Oto. "Essa é a maior exposição, a mais farta já feita sobre ele."

Darel começou a produzir ainda menino, com 13 anos, em 1937. Os primeiros desenhos traziam engrenagens para o engenho de açúcar da Usina Catende, em Pernambuco. Mais tarde, depois de passar pela Escola Nacional de Belas Artes do Recife e pelo Liceu de Artes e Ofícios, a produção de Darel tomaria rumos mais maduros e ele se tornaria um dos nomes de referência da ilustração no Brasil dos anos 1950 e 1960. De Recife, o artista se mudou para o Rio de Janeiro, onde morou até morrer, em 2017. 

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A excelência na ilustração e o domínio das técnicas de gravação, pintura e desenho fez de Darel artista e mestre. Além de dar aulas de litografia no Masp e na Escola Nacional de Belas Artes, trabalhou como ilustrador em jornais, revistas e editoras. Na imprensa, era possível se deparar com o trabalho do artista em veículos como os jornais Última Hora e Jornal do Brasil e as revistas Senhor e O Cruzeiro. No Última Hora, ilustrou as crônicas de A vida como ela é, de Nelson Rodrigues. Ele também esteve à frente da coordenação técnica dos livros publicados pelos Cem Bibliófilos do Brasil, sociedade para a qual ilustrou Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida, publicado em 1954, e Poranduba amazonense, de João Barbosa Rodrigues, publicado em 1961. Em Brasília, a convite de José Salles Neto, ilustrou A Polaquinha, de Dalton Trevisan, para a Confraria dos Bibliófilos. Algumas das gravuras realizadas para essas obras literárias estão na exposição. 

O curador foi buscar em coleções particulares, como a de Gustavo Barata e a do casal Adrian e César Pusch, o material para a exposição. Obras do acervo da Oto Reifschneider Galeria também entraram no conjunto. Livros, fotografias, catálogos e documentos foram incorporados para fornecer ao público detalhes e informações sobre a trajetória do artista. 

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Além das obras em papel, há também uma boa quantidade de pinturas. "O Darel tem realmente uma produção vasta", reconhece Oto. "Tanto em desenho quanto em gravura e pintura. Muita gente conhece mais pela gravura, porque é uma produção monumental e circulou o país." Muitos dos temas que orientavam os desenhos nas primeiras décadas, como as engrenagens e as representações de topografias, reaparecem também nas pinturas. Apesar da formação acadêmica, Darel nunca foi um acadêmico no sentido estético e sempre foi encantado pelo universo mais contemporâneo. A figuração era  uma característica, embora em alguns momentos ele tenha flertado com a abstração de maneira muito sutil. A destreza com que dominava o desenho rendeu prêmios e um importante reconhecimento em vida.

Em 1957, ele ganhou o Prêmio Viagem ao Estrangeiro, do Salão Nacional de Arte Moderna do Rio de Janeiro, o que permitiu uma estadia de dois anos na Europa para estudar arte e produzir. "Nos anos 1940 e 1950, quando estava mais ligado à ilustração, ele teve uma fase mais figurativa. Com a imersão na Europa, a obra dele toma um novo rumo. Nunca deixa de ser figurativo, mas passa a ter umas tendências abstratas fortes", explica Oto. "Quem conhece bem a obra consegue saber o que tem por trás da abstração, mas quem não conhece pode ler os quadros como abstracionismo. Mas sempre tem algo por trás, multidões, topografias, vistas aéreas. Sempre tem algo que povoa."

Em 1963, ganhou o prêmio de melhor desenhista nacional na 7ª Bienal Internacional de São Paulo. Hoje, é possível encontrar obras do artista no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA / NY), no Museu de História da Arte de Viena, no Museu de Arte Moderna de Roma e no Palais de Beaux-Arts de Bruxelas, além de museus brasileiros. 

Serviço

Darel centenário

Curador: Oto Reifschneider. Visitação até 23 de fevereiro, de terça a domingo, das 9h às 18h30, no Museu Nacional da República

 

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