Dança

Espetáculo 'Ser Tão' traz reflexão sobre fé e resiliência do povo nordestino

Em cartaz nos dias 14 e 15 de dezembro, no Teatro Mapati , apresentação de sapateado brinda o público com 13 coreografias e textos interpretados pela filósofa Gigliola Mendes

Deserto, desertão, onde o ser tão só vaga em luta por sobrevivência: rir para não chorar! O cenário mais cultuado do Nordeste e de outros interiores do Brasil será representado na capital do país em forma de dança, mais especificamente com a arte do sapateado, no espetáculo Ser Tão, em cartaz com sessões duplas nos dias 14 e 15 de dezembro (sábado e domingo), às 18h e 20h, no palco do Teatro Mapati (707 Norte). Produzida pelo Studio Sá Pateia, a performance oferece uma reflexão leve e bem-humorada acerca da fé e da resiliência do povo sertanejo. Ingressos a R$ 40 no site Sympla.

"O Sertão nordestino representa a resiliência e a fé, algo que, hoje em dia, a sociedade está perdendo. Neste sentido, quis ressaltar a importância desses valores. Os ensaios e as concepções coreográficas começaram em junho e vão até a véspera do espetáculo. Trabalho árduo", comenta a diretora do grupo, Samantha Lemes, que coordenou o desenvolvimento das 13 coreografias inéditas da apresentação.

O elenco do espetáculo é composto por 15 alunas e alunos do Studio Sá Pateia, que atuam juntos há mais de 20 anos — alguns mais recentes, outros mais antigos. O entrosamento do grupo é construído no dia a dia das aulas e intensificado nos seis meses que antecedem a estreia. "É o período em que nos encontramos mais vezes, fazendo atividades extras para nos aproximarmos ainda mais", explica Samantha.

As coreografias do espetáculo são intercaladas por textos interpretados pela doutora em filosofia Gigliola Mendes, também integrante do grupo de dança. "O espetáculo traz, em especial, o Sertão de Ariano Suassuna, poeticamente homenageado por meio de um cordel inédito escrito por mim e uma seleção de textos de outros poetas sertanejos consagrados, como Patativa do Assaré,  Bráulio Bessa e Guibson Medeiros", explica a filósofa, que estabelece paralelo entre Brasília e o universo sertanejo. 

"A capital do país, com o bioma Cerrado, é a convergência de vários Sertões brasileiros. Os valores sertanejos nos compõem simbólica, cultural, social e ambientalmente. Resgatar os nossos Sertões é cultivar nossas raízes diversas, conhecer nossa história de luta e resistência, ouvir as vozes dos diferentes sujeitos subalternizados em nosso país e reconhecer nossos modos únicos (alegres e criativos) de lidar com as adversidades cotidianas. Ainda persistem a desigualdade social e as muitas negações de direitos, que obrigaram o sertanejo do Brasil profundo, que também habita Brasília, a criar todo um saber, uma ética e uma estética que forjam a identidade do nosso povo, entre luta contra a opressão e criação de novas realidades mais coloridas e divertidas", reflete Gigliola.

Para compor o ambiente que remete ao tema da apresentação, a cenografia traz elementos típicos do Sertão nordestino — como cactos —, enquanto o figurino dos dançarinos é inspirado no cangaço. A própria arte do sapateado, segundo a diretora do espetáculo, se conecta diretamente com o real e originário universo sertanejo. "A tap dance (sapateado) vem da África e, assim como o Sertão, o povo africano tem uma história muito densa e nos faz refletir sobre a vontade que esse povo tem de vencer e manter viva a cultura", comenta a diretora do espetáculo.

Após meses de preparação e diversos desafios superados, o grupo vive a expectativa da estreia e espera uma boa acolhida do público. "Durante o processo, é necessário administrar emocionalmente cada um dos integrantes até dificuldades técnicas da própria dança. Tudo feito com muito acolhimento e trabalho em equipe, pois somos uma família reunida em prol da arte e do amor. Estamos ansiosos para a estreia, porém, o que mais importa é o caminho todo que fizemos até aqui, muito bonito, com parceria e companheirismo. Queremos provocar o respeito pelo povo nordestino e a admiração pela cultura que nos ensina a ser mais resilientes e a ter mais fé", conta Samantha.

"Sertão é dentro da gente. Fé, resistência e capacidade de recriação de mundos, sentidos e relações. Todo mundo tem essa força e poder. Ariano Suassuna e os demais poetas que cantam e contam o Sertão reafirmam, recriam e nos reensinam sobre esse poder de ser tão, de ser tudo, de ser potência, além da dor", finaliza a filósofa Gigliola Mendes.

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