ANO NOVO

Réveillon na Prainha dos Orixás: um espaço de celebração

Comemoração da virada do ano começa nesta segunda (30/12), a partir das 15h, e vai até as 6h de 1° de janeiro. Evento é um dos maiores e mais diversos das religiões de matrizes africanas do país

Passar o réveillon de branco é uma das tradições herdadas das religiões de matrizes africanas -  (crédito: Ogãn Luiz Alves)
Passar o réveillon de branco é uma das tradições herdadas das religiões de matrizes africanas - (crédito: Ogãn Luiz Alves)

O réveillon na Prainha dos Orixás neste ano será marcado por dois dias de muita celebração e espiritualidade. As comemorações para a chegada de 2025 começam hoje, a partir das 15h, com o ritual do Entardecer dos Ojás, e seguem até as 6h do dia 1° de janeiro. Unindo os povos do candomblé e da umbanda, o evento é considerado um dos maiores e mais diversos das religiões de matrizes africanas do país. A expectativa é que a festa reúna mais de 10 mil pessoas às margens do Lago Paranoá. Apresentações musicais e queima de fogos — adequada à nova política de baixo impacto sonoro — fazem parte da programação, além de espaços gastronômicos, artesanais e área especial para pessoas com deficiência.

Segundo Mãe Baiana de Oya, do candomblé, "a chegada do ano-novo é um momento significativo para o povo de terreiro, especialmente nas religiões de matriz africana". "Este período é visto como um momento de renovação, reflexão e celebração das divindades. Representa para nós um ritual de agradecimento comum que as comunidades religiosas realizam diariamente, para agradecer às entidades por suas bênçãos do ano anterior e pedir proteção e prosperidade para o novo ciclo", explica.

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Para a representante do candomblé, tal celebração também fortalece os laços comunitários e a transmissão oral das tradições, garantindo a perpetuação da cultura afro-brasileira das religiões. "É uma forma de renovar a nossa espiritualidade e nossas energias, além de buscar purificação para nossa alma", complementa Mãe Baiana de Oya.

"O ano-novo é um momento de reflexão pelo encerramento e o recomeço de um ciclo, e para nós é importante comemorar esse momento e agradecer as bênçãos recebidas", concorda Rafael Moreira, presidente da Federação de Umbanda e Candomblé de Brasília e Entorno. "Estamos em uma cidade que representa a diversidade de nosso país, e nada mais justo que a cultura afro-brasileira estar presente nessas comemorações", aponta Rafael.

Por isso, Bábà Joel de Osàgíyan, do candomblé, defende a importância da criação e manutenção de lugares tais quais a Praça dos Orixás, como forma de reforçar a existência destas religiões. "Apesar de estarmos em um país de Estado laico, nós ainda somos perseguidos. É preciso que a gente realmente tenha um espaço para poder dizer quantos somos, quem somos e onde estamos", pontua.

O representante ainda destaca: "Todo mundo tem um pezinho na África". Passar o réveillon de branco, acender velas, pular sete ondinhas e jogar flores na água são alguns dos exemplos de tradições herdadas das religiões de matrizes africanas.

A água, inclusive, é um dos principais elementos das celebrações de réveillon do candomblé e da umbanda. "Precisamos de um local às margens do lago, de um rio ou do mar, porque é lá onde sentimos uma energia muito forte e finalizamos o ciclo do ano que está concluindo. É lá também que recebemos o ano que está por vir, na energia da água", compartilha Mãe Cicera da Oxum, da umbanda.

"Ali, nós acendemos as nossas velas e tomamos o nosso banho de cheiro e de ervas, antes da virada, para receber o novo ano de coração limpo, com toda a força e toda a energia dos nossos orixás, guias e mentores", finaliza.

Início das celebrações

A partir das 15h, o ritual do Entardecer dos Ojás dá início às celebrações de ano-novo na Praça dos Orixás. Criado há 15 anos e realizado há 10 na Prainha, a manifestação convida os participantes a pegarem seus respectivos ojás (panos brancos) para adornar todas as árvores do espaço com laços, pedindo paz, amor, energia positiva, saúde e prosperidade para a comunidade.

"O ritual também é uma forma de demarcar território e de dizer que nós, o povo das religiões de matrizes africanas, resistimos e existimos. É um momento de comunhão, de louvar o sagrado e agradecer a Oxalá, Iemanjá e Oxum e pedir força aos nossos Orixás", descreve Bábà Joel de Osàgíyan.

Programação completa

Segunda-feira (30/12)

15h: Ritual do Entardecer dos Ojás

17h: Roda Sambrasília & Real Samba

18h: Samba dos Amigos SDA

20h: Valerinho Xavier e Tereza Lopes

22h: Samba da Tia Zélia

0h: Ponto Br

Terça-feira (31/12)

18h: Encontro de baterias da Aruc e Capela Imperial

19h30: Célia Rabelo e Rosemaria

21h: Asé Dudu

22h: Coletivo das Yas

23h: Apresentações de expressão das religiões de matrizes africanas e afro-brasileiras

0h30: Banda Patacori

1h: Ana Cardoso

2h: Joia do Couro

4h: Grupo Cultural Obará

6h: Encerramento das atividades

  • As celebrações na Prainha dos Orixás começa hoje, a partir das 15h
    As celebrações na Prainha dos Orixás começa hoje, a partir das 15h Foto: Ogãn Luiz Alves
  • Na virada do 31 de dezembro para 1° de janeiro, a programação musical vai até as 6h
    Na virada do 31 de dezembro para 1° de janeiro, a programação musical vai até as 6h Foto: Fotos: Ogãn Luiz Alves
  • A tradicional queima de fogos à meia-noite será adequada à nova política de baixo impacto sonoro
    A tradicional queima de fogos à meia-noite será adequada à nova política de baixo impacto sonoro Foto: Ogãn Luiz Alves
  • São esperadas mais de 10 mil pessoas na festa da Prainha
    São esperadas mais de 10 mil pessoas na festa da Prainha Foto: Ogãn Luiz Alves
  • Passar o réveillon de branco é uma das tradições herdadas das religiões de matrizes africanas
    Passar o réveillon de branco é uma das tradições herdadas das religiões de matrizes africanas Foto: Ogãn Luiz Alves
Isabela Berrogain
postado em 30/12/2024 06:44
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