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Ísis Pessino fala sobre trabalho no filme "As polacas", de João Jardim

Atriz de 27 anos vive uma das mulheres traficadas da Polônia para serem prostituídas no Brasil

Isis Pessino, atriz -  (crédito: Bryan Hix)
Isis Pessino, atriz - (crédito: Bryan Hix)
Protagonizado por Valentina Herszage e Caco Ciocler, As polacas é um filme que mergulha nas narrativas de mulheres europeias que chegaram no país a partir do ano de 1867 até a primeira metade do século XX). O longa de João Jardim chega aos cinemas em novembro e conta a saga da polonesa Rebeca (Valentina), uma mãe judia que chega ao Brasil fugindo da guerra na Polônia, em 1917, com o pequeno Joseph, seu filho. No Rio de Janeiro, ela se torna alvo de Tzvi (Caco), dono de um bordel, envolvido com tráfico de mulheres.
Uma dessas vítimas é Helena, outra polonesa submetida à prostituição, vivida pela atriz Ísis Pessino. Com 27 anos e 21 de carreira artística, ela estreou na TV na novela Deus salve o rei, na Globo. Depois, foi a vez de Amor de mãe, onde vivia uma jovem ativista ambiental. Em seu currículo, ainda constam várias peças de teatro, a série Fim, disponível no Globoplay, e o filme Domingo à noite, em que contracena com Marieta Severo, Zecarlos Machado e Natália Lage.  

Atualmente estudando Estética e Teoria do Teatro, Isis Pessino já lançou Parto, um livro de poesias em 2019, e planeja seu primeiro romance para o próximo ano. Sobre o trabalho no filme, ela conversou com o Correio
 

ENTREVISTA/ Ísis Pessino

 
Como foi fazer esse trabalho que retrata a resistência de um grupo de mulheres? Acha que esse assunto ainda se mantém atual?

Totalmente atual. O tráfico humano ainda acontece e 80% das vítimas são mulheres. Isso sem falar nos números aterrorizantes de feminicídios e estupros, e nas políticas misóginas e racistas que vulnerabilizam mulheres cis e trans, que acabam submetidas a prostituição para sobreviver. O filme As Polacas nos lembra que nossa resistência vem de muito longe, e ainda há luta pela frente. E precisamos valorizar nossas conquistas. Por exemplo, é impossível contar a história das Polacas sem mencionar a Sociedade da Verdade, e conhecer esse movimento foi o que mais me mobilizou no processo para o filme. É muito importante olhar a história por essa narrativa, para não colocar as mulheres só como vítimas, mas também como um coletivo organizado de agentes de transformação. É muito importante lembrar que essas mulheres se uniram para lutar por direitos. “Nada deve parecer natural, nada deve parecer impossível de mudar”, frase de Brecht. 

Você é a única atriz do filme que não tem ascendência judaica. Como fez para se aproximar desse universo?

Eu já tinha algum contato com o universo judaico. Meu melhor amigo, Gabriel, é judeu e aprendi muito com ele muito sobre seu povo e sua religião, e também conversamos muito sobre questões atuais da comunidade aqui no Brasil. Já fui em celebrações de Pessach e Chanucá e sempre me interessei pela história judaica. Para o filme, adentrei minha pesquisa, li livros, vi séries e filmes e também conversei muito com as meninas do elenco, a Dora principalmente, que fala ídiche e me ensinou muito. Tenho muito respeito pela história e filosofia judaica e é uma honra interpretar a Helena. 

Além de trabalhar como atriz, você tem construído uma carreira como diretora de teatro. O que é mais difícil: atuar ou dirigir? 

O mais difícil é responder essa pergunta (risos). Acho que depende do projeto, da linguagem proposta. Mas na estreia da minha primeira direção eu estava muito mais nervosa do que quando estou em cena, porque eu sentia que agora eu não poderia interferir em mais nada, a peça estava na mão dos atores, da técnica e do público. Como atriz busco me tranquilizar para estar presente, num estado de prontidão para o jogo. Como diretora, pude ser tomada pela emoção, afinal, não poderia fazer mais nada. Meu trabalho estava entregue. 

Você tem mais de 20 anos de carreira artística. Quais seus sonhos profissionais ainda não realizados? 

São muitos sonhos para realizar ainda! Acho que o maior sonho é viajar o Brasil com o teatro, alguma peça bem bacana que me levasse para conhecer nosso país tão incrível e pulsante culturalmente. Tenho vontade de estar perto das pessoas, fazer um teatro que tenha consciência de classe. E um sonho no audiovisual seria fazer alguma personagem do universo de Marguerite Duras, estou devorando todos os livros dela, totalmente inebriada pela representação feminina tão confusa e vertical que ela propõe. 
 
Quais seus próximos projetos?
 
Para o ano que vem estou no próximo filme do Murilo Salles, A vida de cada um, que ainda não posso dar detalhes, mas já adianto que é uma história intensa. Também estamos trabalhando para produzir uma terceira temporada de Ensaio ir embora, peça que o Grupo Chão me convidou para dirigir. E estou encarando o desafio, que é dirigir o solo de palhaçaria da atriz Livia Feltre — já fizemos algumas apresentações dentro de escolar municipais esse ano, e ano que vem vamos estar em temporada. E também vou lançar meu segundo livro, que estou há anos escrevendo, é um romance. 

postado em 06/12/2024 22:16
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