Cinema

Festival de Brasília: filmes do eixo Rio-São Paulo são destaque no último dia

No encerramento da Mostra Competitiva, os holofotes viraram-se para o diretor Ruy Guerra, com o filme A fúria. Os curtas Dois Nilos (RJ), de Samuel Lobo e Rodrigo de Janeiro, e E seu corpo é belo (RJ), Yuri Costa, abriram a sessão

Ovacionado de pé, Ruy Guerra apresenta A fúria no encerramento do Festival de Brasília -  (crédito: Isabela Berrogain/CB/D.A Press)
Ovacionado de pé, Ruy Guerra apresenta A fúria no encerramento do Festival de Brasília - (crédito: Isabela Berrogain/CB/D.A Press)

O encerramento da Mostra Competitiva do 57º Festival de Brasília de Cinema Brasileiro, nesta sexta-feira (6/12), foi marcado pela exibição de produções do eixo Rio-São Paulo. O curta Dois Nilos (RJ), de Samuel Lobo e Rodrigo de Janeiro, deu início à última noite de disputa no Cine Brasília, seguido de E seu corpo é belo (RJ), de Yuri Costa. Muito esperado pelo público, o último filme da programação foi o longa A fúria (SP), de Ruy Guerra e Luciana Mazzotti.

Escolhido para abrir os trabalhos do último dia de Mostra, o documentário Dois Nilos é um passeio pelas memórias do cineasta Afranio Vital. “O filme é um passeio pela Cinelândia carioca junto ao Afranio Vital. É uma homenagem a ele, um realizador do cinema brasileiro, que não é tão lembrado como deveria”, detalhou o diretor Samuel Lobo. “É uma homenagem a Afranio e a todos os fazedores da nossa história, uma carta de amor ao cinema nacional”, complementou o cineasta.

Samuel garantiu que estrear o filme na Mostra Competitiva do festival é “a realização de um sonho”. “A gente já vem fazendo curta-metragem há 10 anos, então conseguir que esse filme em especial, que é uma carta de amor apaixonada ao cinema brasileiro, chegue ao público pela primeira vez no palco mais tradicional dos nossos festivais, que é o Festival de Brasília, é muito importante, porque ele lança filmes que viram grandes clássicos da história”, pontuou. O diretor ainda comemorou abrir a sessão de exibição do filme de Ruy Guerra: “um grande mestre”.

“Espero que o público embarque nesse nosso passeio e que conheça um pouco mais sobre o Afranio, que é essa figura ímpar, um realizador de muitos curtas e longas entre as décadas de 1960 e 1980 e é ainda a memória viva do cinema brasileiro”, torceu.

Em seguida, foi a vez do curta E seu corpo é belo. Misto de terror, romance e musical, o filme se passa na década de 1970, em meio às festas black nos subúrbios cariocas. Carlos reencontra o ex-namorado, Tony, acompanhado de outra pessoa, reacendendo mágoas embaladas pela soul music.

“Com esse filme, a gente volta para os anos 1970, para as festas soul da Black Rio, narrando a história de amor, ou de desejo, de Carlos e Tony, que se apaixonam, desapaixonam e sangram suas mágoas”, detalhou o diretor Yuri Costa. “E com essa história, a gente fala também da paixão pela música, música preta e brasileira, pelos filmes B, em especial a blaxploitation e o terror”, complementou o cineasta.

Para Yuri, participar do Festival de Cinema “sempre foi um sonho”. “É especial que nossa participação seja logo com esse curta, que de tantas maneiras atravessa a gente. É uma produção que nasce de um lugar de muito carinho e afeto pelo nosso território, que é a periferia do Rio de Janeiro, mas também pelo cinema, em especial por aqueles filmes que nem sempre recebem suas flores”, pontuou o carioca.

O thriller político A fúria encerrou a noite, concluindo, após quase meio século, a trilogia do diretor Ruy Guerra, composta por Os fuzis (1964) e A queda (1977). O longa conta a história de Mário, homem que, ao ser traído por Salatiel e Feijó, é morto na ditadura e sai das profundezas da terra em busca de vingança. Trata-se de uma narrativa sobre a renovação de uma sociedade decadente, em que as minorias detém o protagonismo das transformações sociais.

Luciana Mazzotti, codiretora do filme, ressalta que o Festival de Brasília é o mais importante do Brasil. “É o que mais traz novidades do cinema brasileiro, novidades de linguagem e fala sobre questões populares, não de uma questão comercial, mas filmes que falam sobre o povo”, ressaltou.

Protagonista de A fúria, Ricardo Blat substitui Nelson Xavier, ator que estrelou os dois primeiros filmes e morreu em 2017. Luciana comentou que foi lamentável não ter o artista no filme, mas que Blat também foi muito importante para a gravação do longa.

“A gente teve que mudar todo o roteiro, porque a primeira versão foi escrita para o Nelson. E, na verdade, foi muito importante ter o Ricardo Blat, porque ele é um cara que foi aluno do do próprio Nelson de interpretação. Ele fez o papel e foi muito respeitoso”, comentou a cineasta.

Clima

Principal nome da Mostra Competitiva Nacional, Ruy Guerra passeou pelo cinema e foi parado diversas vezes por admiradores e amigos. O cineasta, ao subir no palco para apresentar o longa, foi aplaudido de pé pela sessão lotada. Ele aproveitou a ocasião para agradecer o carinho do público e a companheira de trabalho, Luciana Mazzotti.

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postado em 06/12/2024 22:01
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