O dia em que virei um pássaro é um livro infantojuvenil que conta a história de um menino que descobriu nos braços entrelaçados de um abraço uma forma de voar. A obra escrita pela francesa Ingrid Chabbert Guridi e traduzida para o português por Livia Deorsola foi lançada no Brasil em 2024 pela editora Pequena Zahar.
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As ilustrações são de Raúl Nieto Guridi, que constrói, em traços monocromáticos — na grande maioria das páginas — o enredo de um menino devoto. O garoto carrega, desde a primeira página, um sentimento famoso, conhecido por muitos e vivido por alguns.
“No dia em que a escola começou, eu me apaixonei”, diz a primeira frase do livro. A entrega e a dedicação para envolver a colega de sala e conquistar a atenção dela são memoráveis — e preocupantes.
Ao perceber que sua amada se encanta por pássaros e tem devoção pelas aves, o menino encontra na paixão da colega uma forma de demonstrar o próprio sentimento. Clara ama pássaros e, sendo ele um pássaro, ela também deveria amá-lo.
O menino desenha, reflete, e, por fim, tem a genial ideia de se transformar em pássaro. Em uma fantasia grande, quente e pesada, ele vira algo que não é para chamar a atenção da menina que despertou seu coração. Ele enfrenta a chuva e o cheiro desagradável da roupa molhada; os olhares malvados dos colegas; as dificuldades para brincar com uma roupa muito maior que ele e mais pesada do que se pode aguentar, mas suporta e supera.
Após alguns dias carregando o fardo de ser um pássaro — e já acostumado ao novo traje — ele é finalmente visto por Clara, que o observa no fundo dos olhos e tira dele aquilo que não lhe cabe. Clara vê o menino além do pássaro e permite que ele voe sem asas. Clara demonstra compaixão e retribui o esforço que o garoto fez por ela. Mas podia ser diferente. O livro provoca uma reflexão sobre os limites que devemos impor para nós mesmos. Quão longe se pode ir para alcançar o outro sem ferir a própria essência?
O dia em que virei um pássaro não é um livro sobre aves, é um livro sobre amor e reciprocidade.