Música

Conheça Gaidaa, cantora sudanesa que se apresenta em Brasília esta semana

Artista do R&B e New Jazz radicada na holanda se apresenta no Sarau Secreto nesta sexta (6/12)

Gaidaa saiu do Sudão para encantar Brasília -  (crédito: Sebastian Boon/Divulgação)
Gaidaa saiu do Sudão para encantar Brasília - (crédito: Sebastian Boon/Divulgação)

O evento misterioso Sarau Secreto decidiu que vai funcionar diferente nesta semana. A produção anunciou os artistas e o local desta edição, que terá uma atração internacional, a cantora sudanesa Gaidaa. Pela primeira vez no Brasil, ela faz show único na Casa de Jorge, nesta sexta-feira (6/12), a partir das 20h.

Gaidaa é uma cantora de 25 anos que cresceu na Holanda e apareceu para a cena em 2018 com o sucesso A storm on a summers day, que acumula mais de 73 milhões de reproduções no Spotify. Com um som que mistura o R&B, o New Jazz e a síncopa dos ritmos africanos, ela tem fãs no mundo todo e mais de 2 milhões de ouvintes mensais nas plataformas de streaming.

O sucesso se dá pela bela voz associada à união de letras e sons que trazem profundidade. No entanto, a própria artista garante que faz o trabalho sem pretensão. “Eu faço música honesta, não tem um gênero específico. Tento fazer música que venha da alma e encontre a alma de quem está escutando”, explica Gaidaa em entrevista ao Correio. “Estou cantando o que me deixa em paz, espero que as pessoas gostem ou ao menos deem uma chance”, adiciona.

Filha de um músico e uma psiquiatra, ambos sudaneses, a cantora entende que o resultado do próprio trabalho são afluentes vindos dos parentes que deságuam em um grande rio. “Aprendi com a minha mãe a ser muito analítica e olhar para os detalhes, às vezes até demais. Porém, me tornei boa em absorver e enxergar o mundo ao meu redor”, pontua. “Do meu pai herdei o amor pela música. Agora que estou mais velha, saio mais com meu pai e percebo que até nossos gostos são parecidos”, complementa. “Me sinto bem no meio de tudo isso. Sou criativa expressiva e engajada politicamente como meu pai e tenho um lado perfeccionismo, da análise be do detalhe que vem da minha mãe”, conclui.

A atração do Sarau Secreto sobe ao palco para mostrar as próprias ideias, contar uma história que fala mais sobre si mesma do que sobre a mistura de coisas que a colocaram no caminho da arte que faz. “O que eu prego é liberdade de pensar, de viver e de ser você mesmo”, diz a artista que entende que não é difícil se relacionar com o que será cantado. “Não tem nada complicado em mim. Eu sou uma mulher sudanesa que tenta amar o mundo, mesmo que às vezes ele não me ame de volta”, comenta.

Sudão no sangue

Gaidaa é naturalizada sudanesa. “Eu nasci na Holanda, mas toda minha família é sudanesa, meu sangue é sudanês e eu vou para o Sudão com muita frequência”, conta. Por isso, ela entende que é importante levantar a bandeira do país. “O Sudão está sempre de fora das discussões. Isso é grave, tem muita gente que não sabe nem que o Sudão existe”, acredita. “Com o passar dos anos, as pessoas foram tentando tornar o país invisível. Quando o Sudão, em tradução direta significa terra dos negros”, critica.

O Sudão passa por um processo geopolítico complicado. O país atravessa uma guerra civil que gerou a separação do território em Sudão e Sudão do Sul. Ela quer mostrar para outros sudaneses que é possível ter uma vida para além desses problemas. Que os jovens do país dela possam sonhar. “Para mim é muito louco pensar que só de eu existir e fazer música, existem pessoa que enxergam que é possível fazer o mesmo”, destaca.

Ela lembra de um show que fez no país, em que se apresentou com o Rio Nilo como cenário. Ela já estava achando tudo aquilo incrível, quando foi visitar uma escola para falar sobre a carreira. Lá, ela descobriu que os alunos estudavam as músicas delas nas aulas de artes. A emoção foi maior quando uma das meninas que ouviam a palestra a encontrou na saída e pediu para que ouvisse uma música em que estava trabalhando. “Falei: ‘é claro!’ e logo depois que ela me mostrou a música me disse: não desiste, que eu prometo que não vou desistir também”, recorda embargada de lágrimas. “É por meninas como ela que eu continuo”, crava.

A artista não se importa tanto com os números. Ela quer transmitir uma mensagem que é possível viver dos próprios objetivos, que há espaço na arte para garotas sudanesas como ela. “Eu tenho certeza que se eu me visse quando eu era uma criança, eu ia achar incrível. Então eu tento fazer o que posso para continuar representando esses sonhos”, reflete.

postado em 05/12/2024 20:28
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