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Entre dores e mitologia

Documentário Trópico de leão, dirigido por Luna Alkalay, é atração da mostra Caleidoscópio do Festival de Brasília

Luna Alkalay em Trópico de leão
 -  (crédito: Divulgação)
Luna Alkalay em Trópico de leão - (crédito: Divulgação)

Selecionado para a Mostra Caleidoscópio do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, o filme Trópico de Leão, da diretora Luna Alkalay, narra a experiência de Luna em um relacionamento abusivo com um homem 35 anos mais jovem do que ela. A diretora, que estudou filosofia na Universidade de São Paulo, entrou no cinema por acaso e nunca mais saiu. Trópico de leão será exibido terça-feira, às 15h, e concorre a dois prêmios Candangos (Melhor Filme e Prêmio Especial do Júri). 

Com uma abordagem poética, o filme se entrelaça entre as memórias de Luna, o momento atual e elementos místicos. A diretora também é roteirista e atriz de suas próprias vivências. "Fiz o Trópico de Leão para sobreviver ao trauma de um abandono. Foi minha única saída, além de muita análise. E foi isso mesmo que aconteceu, o percurso entre escrever os textos, roteirizar com meus dois amigos, dirigir e finalizar foi exatamente o que me deu força não só para superar a relação como ajudou a me redescobrir uma cineasta", relata a diretora. 

Sobre acessar suas memórias para a criação do filme, Luna Alkalay acredita que, inicialmente, foi um ato de coragem e, depois de um tempo de elaboração, compreendeu seu papel na história toda. "A escrita foi desde o primeiro dia o canal de acessar a dor. Ao mesmo tempo que 'vomitava' os textos eu ia compreendendo a força poética que eu era capaz de encontrar em mim mesma", afirma Luna. Os maiores desafios de tratar uma história tão pessoal eram os medos de ser apenas uma queixa e cair na armadilha de culpar o outro. "Mas ainda bem, escapei dessas justificativas tolas e me coloquei no filme, literalmente", reflete a diretora. 

O filme relata dores de um universo feminino, e esteve sempre presente na cabeça de Luna o número de mulheres que vivem algo parecido e nem percebe o abuso psicológico. A seu lado como montadora e produtora, sua filha Rama de Oliveira, embarcou na realização do filme ao lado da mãe. "Minha filha foi imprescindível. A montagem do filme deu a Trópico de Leão a fluidez na narrativa fazendo dele uma história contada. Ela também é a Produtora que levou e leva essa cruzada que é filmar no Brasil. Obviamente essa experiência nos aproximou como nunca antes", relata Luna. O pai de Rama, o cineasta André Luiz Oliveira também está na produção e realizou a trilha sonora.  

Três figuras femininas são representadas no filme, além de Narciso e o barqueiro Caronte. Eco, é uma figura que repete o que lhe é ordenado; Penélope espera que o amor volte; e Medeia implora por uma vingança que não vem. "Tenho em mim personagens que me acodem quando preciso. Precisei e na mitologia encontrei a profundidade que o Trópico de Leão demandava", finaliza Luna.

Estagiária sob a supervisão de Severino Francisco

postado em 01/12/2024 06:01
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