Desenvolvido pelo Team Silent, time responsável pela criação de jogos da franquia, e publicado pela Konami, Silent Hill 2 saiu originalmente no ano de 2001 para PlayStation 2, sendo o sucessor de um dos jogos mais inovadores de sobrevivência e terror da história dos videogames. Criado com uma proposta inovadora utilizando a limitação do clássico PlayStation 1 para ambientação presente no jogo, Silent Hill 2 foi um passo importante para a indústria, tanto em poder gráfico, quanto em maturidade de enredos e tramas que a mídia dos jogos tinha o poder de contar.
Um dos maiores sonhos da comunidade gamer, era que algum dia essa marcante franquia ganhasse um remake que atualizasse aquela trama para o visual e a jogabilidade do mundo atual dos jogos. A franquia Resident Evil da Capcom, saiu na frente no mundo dos remakes, trazendo seus primeiros títulos da franquia para versões atualizadas e melhoradas, tanto na questão gráfica, quanto em mecânicas e jogabilidade. Vendo a grama do vizinho crescer mais verde, a Konami quis muito trazer seus maiores títulos no catálogo para versões atualizadas, começando por Silent Hill 2.
Silent Hill 2 (2024) foi desenvolvido pela Bloober Team, responsável por dois outros jogos de terror que se destacaram nos últimos anos, Layers of Fear e The Medium. A nova versão do jogo ainda trouxe membros originais do Team Silent para participar do projeto, o diretor de arte, Masahiro Ito e o compositor da trilha original, Akira Yamaoka.
A densa névoa
Depois de 3 anos que sua esposa faleceu devido a uma doença degenerativa, James Sunderland, recebe uma carta misteriosa assinada por sua falecida mulher, Mary, afirmando que ela está viva e esperando por ele na cidade “Mais bela” que ambos já estiveram juntos, Silent Hill, assim o protagonista vai até lá, mas acaba descobrindo que terá de lidar com criaturas bizarras, no meio de uma cidade repleta por névoa e pessoas tão perdidas quanto ele.
James é um personagem muito comum, diferente de Leon, um dos protagonistas mais admirados de Resident Evil, ele não tem as características de um herói, mas talvez seja essa falta de elementos de protagonismo que crie simpatia por ele no início, sendo um homem comum que entra em uma busca no meio do inferno pela pessoa que ele perdeu. Admito com sinceridade que nunca tinha jogado nenhum título da franquia Silent Hill, sempre mantive meu pezinho do outro lado da cerca nos jogos de Terror e Sobrevivência com a franquia Resident Evil, o remake fez eu me arrepender um pouco de nunca ter dado a chance que Silent Hill merecia. Enquanto temos corporações megalomaníacas criando Zumbis e monstros com ciência na Capcom, uma história mais fantasiosa — Em alguns jogos até meio boba — na Konami, temos o mais puro suco do que faz a humanidade tremer na base, pesadelos reais e até com pernas, literalmente.
Silent Hill 2 discute muitos temas sensíveis, sem dó de usar metáforas para discutir a dor dos poucos personagens dentro do jogo, falando sobre abuso sexual, bullying, luto, culpa e principalmente o medo. A Bloober Team conseguiu fazer com que sentisse medo de novo de um jogo, uma das ferramentas para isso foi definitivamente o salvamento manual, existem pontos no jogo para você salvar seu progresso, diferente da maioria dos jogos atualmente que salvam automaticamente conforme você progride, te colocando no lugar mais próximo possível, caso você morra antes de alcançar o ponto de salvamento seguinte, você retorna do último e tem de refazer seus passos novamente. Essa ferramenta cria um medo natural de perder itens e avanços em quebra-cabeças, fazendo a sua cautela ficar a cada passo maior.
Outro momento que eu me vi perdido é durante o primeiro trecho do jogo, onde você é jogado em um mini-mundo aberto em Silent Hill, uma cidade coberta por névoa que não deixa você ver um palmo a frente, te deixando desnorteado de você não prestar atenção aos detalhes do cenário para progredir. O jogo conta com um mapa muito eficiente, onde além de registrar sua posição nos inúmeros corredores que James se enfia, o personagem faz constantes anotações no guia, assim caso você precise de um código que descobriu em algum lugar mas não se lembra de cabeça, você pode verificar no mapa a anotação. Não só isso, mas ele também indica passagens fechadas, barradas e lugares que seus itens-chave podem interagir, sendo uma ferramenta muito importante para o jogador mais perdido — Como eu, por exemplo.
Silent Hill conta com inúmeros quebra-cabeças, em certo ponto, eu me vi fatigado pela quantidade que tinha, principalmente porque você saía de uma área, entrava em outra e já tinha uma lista de mais três itens que James deveria encontrar para continuar progredindo. Eu entendo que no original havia muitos desses, mas a Bloober fez questão de adicionar mais uma área no início para ter mais quebra-cabeças do que no jogo de PlayStation 2.
Jogabilidade
James pode correr, desviar, pular em alguns lugares específicos, se estreitar por passagens, além de enfiar a mão em buracos suspeitos, pular em poços de procedência duvidosa e interagir com alguns objetos específicos, alguns documentos e notas que ele interage, guarda para si, ficando disponíveis no inventário para consulta.
Temos disponíveis no jogo três tipos diferentes de arma, um rifle que serve como arma mais a distância, uma escopeta, que redefine o uso da palavra “de perto”, porque muito de seu dano é diminuído dependendo da distância e por a pistola, a primeira arma de fogo que pegamos no jogo, que apesar de fornecer segurança contra os monstros, ainda exige muitos tiros para ser eficaz.
Em Silent Hill, a sobrevivência depende da sua capacidade de economizar e encontrar munição para as armas de James, no jogo temos a opção de atacar corpo a corpo as criaturas, com um pedaço de madeira que o protagonista retira de uma casa ou mais para frente com um cano de metal, ambos servem como o “Item que você utiliza quando as balas acabam”, ou você pode fazer como eu, dar um tiro no inimigo para desnortear-lo e depois descer a porrada nele, assim economizando munição.
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Mas os monstros, diferente dos habituais zumbis de Resident Evil, não são esponjas de bala, eles desviam dos seus golpes, eles correm e atacam. O mesmo sempre tive medo de virar a esquina de algum corredor e me deparar com alguma criatura, tem uma inclusive que eu odeio muito, o manequim, uma criatura que se esconde no cenário e se você não for sagaz o suficiente para perceber ele e encolhido em algum canto do jogo, vai sofrer as consequências de um ataque e um provável susto.
Mas em questão de chefes Silent Hill carece muito de uma luta épica, não que não exista nenhuma no jogo, existem algumas, mas tem outras que são bem fracas comparadas com outros jogos de Terror e Sobrevivência.
Considerações Finais
Silent Hill mostra que dentro do pesadelo você é frágil e fraco, escancarando como o medo pode ser construído rapidamente com um inimigo que você acabou de matar subitamente levantando para te atacar. Não só isso, mas além do medo ficcional, Silent Hill trata do medo de verdade, o que habita o lado de fora da tela, com monstros reais, mostrando uma trama complexa e com diversos significados em seu texto e seus elementos. A Bloober Team conseguiu traduzir um jogo de PlayStation 2 para um novo formato, saindo da câmera fixa e da jogabilidade de “tanque”, para um método em terceira pessoa com câmera livre, o que trouxe um frescor ao original, mesmo para quem já tenha jogado o clássico.
O enredo do jogo da Konami é seu maior destaque, não é atoa que o original de PlayStation 2 é considerado um dos maiores jogos lançados, a maturidade e a coragem de tratar de temas delicados faz essa obra ser um dos maiores pilares no fronte do “videogame também é arte”, e não foi diferente com o remake da Bloober Team, o legado permanece intacto, Silent Hill permanece perturbadora como sempre e bem-feita como nunca. Silent Hill 2 está disponível para PC e PlayStation 5.
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