EVENTO

Distrito Drag lança calendário anual na CLDF nesta quarta (26/11)

'Nós somos uma família' é o tema do Calendrag de 2025, no qual as drags posam montadas ao lado de parentes e amigos

As lutas enfrentadas pela comunidade LGBTQIAPN+ permeiam diversas esferas da vida, incluindo as relações familiares. O coletivo Distrito Drag, ativo desde 2017 em prol de artistas e da preservação da cultura queer, escolheu o tema Nós somos família para o Calendário Drag de 2025. A arrecadação deste projeto, ao longo dos anos, tem financiado as iniciativas do coletivo, que nesta quarta-feira (27/11) lança a nova edição do Calendrag na Câmara Legislativa do DF (CLDF). O evento, ilustrado por nomes conhecidos da cena drag, como Isabelita dos Patins, um ícone da comunidade, terá início às 19h com entrada gratuita.

Esta edição do Calendrag não apenas celebra a diversidade da comunidade LGBTQIA+, mas também visa resgatar e preservar a memória coletiva dessa trajetória histórica. O acervo de calendários realizados em outros anos estará exposto na CLDF e reflete as vivências, desafios, conquistas e celebrações que moldaram a identidade de pessoas da comunidade  LGBTQIAPN+. A cada página, o calendário se torna um testemunho visual de resistência, amor e autenticidade, permitindo que cada artista compartilhe sua narrativa e visão sobre o que significa pertencer a uma família, independentemente das normas sociais.

Ruth Venceremos, diretora do Distrito Drag, explica ao Correio que o tema apresenta desafios enfrentados pela comunidade. "Talvez este seja o tema mais diferente que já abordamos, pois família é um assunto muito significativo para a população LGBT. Alguns setores da sociedade nos acusam de tentar destruir a família, como se não tivéssemos as nossas", diz. "Muitos de nós foram expulsos de casa devido à nossa orientação sexual ou identidade de gênero, mas existem famílias que acolhem e aceitam também. Queremos contar essas histórias.” Nós somos família, título do calendário de 2025, surgiu de um clássico da comunidade, a música We are family, do grupo Sister Sledge, hino de união e símbolo de resistência para a comunidade LGBTQIAPN+.

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O Calendrag também é um espaço de visibilidade, no qual o talento e a criatividade dos artistas drag são valorizados. Por meio de colaborações com fotógrafos e profissionais de diversas áreas, o projeto estabelece uma rede de apoio e solidariedade, reforçando a ideia de que a arte é um meio poderoso de expressão e reivindicação. Como destaca Ruth Venceremos, a arte drag vai além do espetáculo: é uma forma de resistência e uma afirmação de que todas as famílias, em sua diversidade, merecem respeito e direitos. A cada edição, o Calendrag resgata e constrói memórias que muitos desejam apagar.

Isabelita dos Patins, uma figura emblemática da história queer no Brasil, é um exemplo disso. Conhecida como Jorge Omar Iglesias fora da personagem, a artista argentina reside no Brasil desde a década de 1970 e ganhou notoriedade após um beijo na bochecha de Fernando Henrique Cardoso, então Ministro da Fazenda. Este momento foi amplamente divulgado na mídia. “Sempre digo que quem me levou ao estrelato foi ele, FHC”, recorda. Em uma época em que homens gays eram frequentemente retratados como vítimas da AIDS nos anos 1990, Isabelita, ao cumprimentar o futuro presidente, apresentou ao país uma nova perspectiva sobre o que significa ser LGBT.

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Isabelita dos Patins nasceu na Avenida Atlântica durante o carnaval de 1981, permitindo que Jorge Osmar, a pessoa por trás da personagem, encontrasse sua comunidade. “Não tenho família de onde vim; montei a minha quando cheguei ao Rio em 1971. Hoje, tenho minha mãe do coração, afilhados, sobrinhos e irmãos que formei ao longo de meus 50 anos de carreira”, compartilha. Uma frase emblemática do reality RuPaul's Drag Race diz “Nós, como gays, podemos escolher nossa família”, refletindo o direito ao afeto e ao apoio, frequentemente negado à população queer. Ruth Venceremos também aborda o processo de aceitação entre familiares em relação à sexualidade. “Nasci em uma família com 14 irmãos no interior de Pernambuco, então minha sexualidade era um tema de discussão em casa. Minha mãe, ao reprimir meus trejeitos, o fazia para me proteger, mas sempre fomos muito unidos. Apesar das dificuldades, sempre nos amamos muito e superamos o preconceito juntos”, relembra.

Serviço

Lançamento Calendrag 2025, Nós somos família 

Na Câmara Legislativa do Distrito Federal, a partir das 19h

Acesso livre ao público

 

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