A analogia do vinho costuma ser clichê, mas é perfeitamente aplicável no caso de Marcos Pasquim. Com 55 anos de idade, o ator de sorrisão largo, voz doce e ao mesmo tempo encorpada melhora com o tempo. E lá se vão três décadas de carreira desde que ele surgiu pela primeira vez em cena na televisão, em uma rápida aparição no sucesso A viagem, de 1994, emendando, em seguida, seu primeiro papel fixo em novelas em Cara e coroa, produção que está em reprise no Viva.
"Eu comecei bem inexperiente, fui e estudei e, como em todas as profissões, quanto mais o tempo passa e mais você faz, eu fui atuando e aprendendo cada vez mais. Talvez, em algumas profissões, você chegue até um limite que você não tem mais para onde ir, mas, graças a Deus, na minha profissão, existem infinitas versões do ser humano que a gente pode fazer. Um balanço que eu faço desses 30 anos é que eu continuo aprendendo desde que eu comecei e espero que até o final da minha vida", afirmou Pasquim, em entrevista ao Correio.
Ex-jogador de vôlei e integrante de boy band, Marcos Fábio Prudente gosta de se ver no início da carreira para perceber a evolução. "É bom ver que a gente evolui, né? Eu gosto de ver isso", reforça ele, que, atualmente, pode ser visto nas séries Desejos S.A, disponível no Star +, série Luz, da Netflix, e Fim, do Globoplay, além do filme Morando com o crush, no Prime Video. Recentemente, ele esteve na Itália gravando Loucos amores líquidos, longa ainda sem previsão de estreia.
Sem camisa
Com uma trajetória sólida na TV, no teatro e cinema, o ator paulistano tem diversos trabalhos memoráveis, como as novelas Uga uga, Kubanacan e Pé na jaca e nas séries O Quinto dos Infernos e Guerra e paz — todas disponíveis no Globoplay e frutos de uma parceria bem-sucedida que consolidou com o autor Carlos Lombardi. Nesses trabalhos, Pasquim é lembrado por personagens como Van Damme, Dom Pedro I e Lance, que passavam mais da metade do tempo sem camisa e usando um minúsculo short que realçava seus músculos bem definidos. Alçado como galã e símbolo sexual dos anos 2000, ele, porém, não se queixa. Até porque, por algum desses personagens, como o Esteban de Kubanacan, foi premiado como melhor ator de 2003.
"Na realidade, o estar sempre sem camisa não era que eu queria estar sem camisa; estava escrito, vinha no texto. Como as novelas do Carlos Lombardi se passavam em lugares quentes, os personagens — não era só eu, embora, como protagonista, talvez aparecesse mais sempre tinham pouca roupa", explica. "Teve um momento, talvez, que ficou desconfortável, mas passou rápido, porque eu não tinha como lutar contra, então, está tudo certo."
Censura do sofá
Recentemente, Marcos Pasquim declarou, em uma entrevista ao programa Sabadou com Virgínia, no SBT, que ficou frustrado com o personagem que interpretou na novela Babilônia, de 2015. Previsto na sinopse para ser um ex-atleta de saltos ornamentais gay enrustido, Carlos Alberto acabou tendo a orientação sexual "corrigida" pela censura do sofá. Houve até uma cena em que ele "come com os olhos" o personagem vivido por André Bankoff em uma cena em que o rapagão loiro surge de sunga apertada na piscina, mas não houve continuidade.
O motivo foi a reação do público ao beijo entre um casal lésbico da terceira idade vivido pelas veteranas Fernanda Montenegro e Nathalia Thimberg logo no primeiro capítulo. "A novela tinha tudo para dar certo, mas não deu, porque foi mudado tudo de última hora", lembrou o pai de Alicia e Stefano, que teria um romance homoafetivo com o personagem de Marcelo Mello Jr e acabou virando par da mocinha vivida por Camila Pitanga e assassinado no final.
À reportagem, o ator — que estreava na faixa nobre da emissora após uma jornada longa às 19h, em que ainda atuou em A lua me disse, de Miguel Falabella e Maria Carmem Barbosa, e Caras & bocas e Morde & assopra, de Walcyr Carrasco — declarou que não se sentiu prejudicado. "Acho que prejudicou a própria novela. Claro que, quando a gente tem a possibilidade de fazer novos personagens, diferentes do que você costuma fazer na televisão, é muito bom. É excelente você poder demonstrar uma versatilidade, obviamente, daí não tivemos, não só eu como muitos atores da novela não tiveram oportunidade de mostrar uma versatilidade", argumentou.
Pasquim ressalta que, apesar dos problemas, Babilônia foi um trabalho que deixou saudades, pontuando o texto de Gilberto Braga, a direção inovadora de Dênis Carvalho, o reencontro com Adriana Esteves — seu par em pelo menos três novelas anteriores — e o elenco estelar encabeçado por Glória Pires. "Se a novela tivesse ido ao ar da forma que ela tinha sido escrita em princípio, eu acredito que a novela e ia cair no gosto popular porque realmente era uma novela excelente no papel, quando foi escrita", acrescentou.
Do início ao fim
No início da carreira, Marcos Pasquim teve uma vivência intensa com o público infantil ao fazer a novela Chiquititas, no SBT. Recentemente, o ator retornou ao gênero na série Luz, na Netflix e declarou à reportagem que é um universo que o atrai. "É muito bom você poder trabalhar com criança. Ela vem sem vícios de atuação, vem pura, é muito gostoso trabalhar com criança. Tem bastante criança aí, e muita gente talentosa. Foi muito bom ter feito Chiquititas e Luz, e eu gosto de fazer tanto produtos infanto-juvenil infantis como adultos. É sempre bom estar trabalhando e variando", afirmou.
Em contraponto, em seu último trabalho para o grupo Globo, Marcos atuou na série Fim, que fala de forma bem poética sobre a finitude da vida. "Quando nós somos jovens, nós não pensamos muito na velhice e, a partir do momento que a gente vai envelhecendo, passa dos 50, você começa a ver os seus pais, por exemplo, com esse olhar mais para as pessoas mais velhas, porque antigamente as pessoas não ficavam tão mais velhas, elas morriam com 55, 60 anos. Agora, eu vejo mais pessoas mais velhas hoje em dia do que quando eu via quando eu era mais jovem. A gente não vai morrer daqui a pouco como a gente achava antes, e isso me preocupa no sentido de eu me cuidar", reflete Pasquim, que admite se cuidar bastante para conseguir viver mais com qualidade. "Eu me preocupo em dormir mais, me alimentar melhor, me exercitar... Tudo para eu poder exercer a minha profissão e viver com melhor qualidade de vida."
O agora galã maduro acrescenta que não se considera um homem tão vaidoso como sua aparência sempre impecável pode supor. "Acho que é vaidade normal, não é demais não. Na realidade, a aparência é uma consequência de como você se cuida. Como eu trato o meu interno é o que aparece no meu externo, entende?", argumentou, adiantando que não é do tipo que busca procedimentos estéticos. "O único procedimento que eu fiz foi com o cabelo que eu transplantei. Isso porque acho importante ter esse instrumento de trabalho. Eu posso ter a possibilidade de cortar o cabelo, depois ele vai crescer de novo e não ficar careca para depois usar peruca", relatou, sublinhando que atualmente ingere menos bebida alcoólica e fez uma uma rotina totalmente diurna. "Antigamente, virava a noite, mas hoje em dia não fico fazendo coisas até depois das dez da noite."
Que Marcos Fabio Prudente se aproxima dos 60 anos como um espécime similar a um bom vinho, não se discute. Mas o que ele faria diferente se pudesse voltar no tempo? Segundo o ator, faria tudo igual. "Acho que tudo que eu fiz me transformou no homem que eu sou hoje no profissional que eu sou hoje eu faria tudo igual eu gosto do que eu vejo então é isso não mudaria nada não", concluiu.
Saiba Mais