Crítica

Assustador exame da fé: confira crítica de Herege

Com interpretação precisa de Hugh Grant e conteúdo contestador e controverso, Herege atrai ainda pelo suspense

Crítica // Herege ★★★

Um roteiro intrigante para um filme de terror dá base para Herege, filme comandado pela dupla Scott Beck e Bryan Woods. Além de lembrados por A casa do terror (2019), ambos coescreveram o roteiro de Um lugar silencioso (2018), ao lado do astro John Krasinski. Alguns breves tópicos do judaísmo, do cristianismo e ainda do islamismo entram em pauta no filme, a partir do encontro entre o versado Reed (papel de Hugh Grant) e as jovens missionárias irmã Paxton (Chloe East, vista na série Genaration e no longa Os Fabelmans) e irmã Barnes (Sophie Tatcher, atriz do recente Boogeyman: seu medo é real).

Entre bênçãos e sacrilégios, o discurso de todo o filme é provocativo. Grosso modo, duas moças vacilantes adentram uma casa de estrutura complexa habitada por um maníaco que manipula ideologias e sustenta profecias e substâncias tóxicas ancorada em acônito e beladona. Acanhadas e predispostas à defesa de preceitos, as moças adentram a insana toca de Reed. Espirituoso e preparado, ele discorre sobre a cultura da conversão e cita de Voltaire à dificuldade (atual) da propagação religiosa.

O que sustenta o filme, com imagens asquerosas (em momentos), é uma dinâmica de jogo de tabuleiro. Por vezes, as moças "avançam casas"; noutras, retrocedem. A partir de perguntas com potencial de desconforto, transparecem as camadas de sadismo de Reed (Grant, em excelente forma). Demover a fé parece um dos propósitos dele, à medida em que avança no ataque (indireto) ao poder de conforto das orações, reduzidas a mero instrumento de consolo.

Aos poucos, o protagonista injeta nas jovens conceitos perniciosos. Numa atmosfera sufocante, o duelo mental estipula limites entre materiais de origem (matrizes) e derivados, numa ótica torta estendida para temas de fé. Gráfico, num crescente, o horror se estabelecerá no porão do casarão. O filme entra nos trilhos, dado o potencial e a esperteza do revide das jovens. Junto com o terror psicológico, Herege tem momentos de deboche. Os melhores dizem respeito às partidas de Monopólio (jogo que desbancou Elizabeth Magie, a criadora do simular jogo The landlord´s game — fonte criativa apropriada por Monopólio) e ainda às das redes de plágio cultural — quando entram as teorias dos acordes de The air that I breathe (do The Hollies), Creep (do Radiohead) e Get free (de Lana Del Rey).

 

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