Vulnerabilidade e solidão são temas chaves desenvolvidos pelo artista Giovani Caramello na série de esculturas da exposição Hiper-realismo no Brasil, em cartaz a partir desta terça-feira (12/11), na Caixa Cultural. Com curadoria de Icaro Ferraz Vidal Júnior, a mostra reúne 13 esculturas nas quais o artista reflete, por meio do hiper-realismo, sobre a passagem do tempo e a fragilidade humana.
A exposição conta com figuras infantis, idosas e adultas. "Na curadoria, busquei construir um percurso no qual o fascínio do trabalho em relação à técnica parece conviver com a questão da passagem do tempo e também com uma espécie de paradoxo que ele constrói no interior dessa poética, que é representar esses indivíduos em situação de pressão, realizando gestos que denotam uma certa vulnerabilidade", explica Icaro. "Ele produz como se fosse uma espécie de demiurgo, quase brincando em ser uma espécie de deus e, por outro lado, tematizando uma fragilidade, uma vulnerabilidade na relação com o tempo e com a finitude", diz.
Giovani Caramello é um artista autodidata, de 34 anos, residente em Santo André, no ABC paulista. Ele trabalhava em um escritório de modelagem 3D e, ao buscar um aperfeiçoamento profissional, acabou seguindo o caminho da escultura hiper-realista. "Ele começou a estudar, por conta própria, um pouco de técnicas de escultura e muito rapidamente ele passou a desenvolver uma produção autoral", avisa o curador. Conduzido pela curiosidade, pela inquietação e pela capacidade de transitar tanto por técnicas mais tradicionais da escultura quanto por tecnologias mais contemporâneas, Caramello começou a usar bronze e cerâmica, mas também silicone e outros materiais mais modernos.
O hiper-realismo surgiu nos anos 1970, mas não foi de imediato bem recebido pela cena artística e, em certa medida, foi inclusive mal compreendido. "Na década de 1970, quando aparece o hiper-realismo, há uma dificuldade de assimilação desse movimento, mas ele vai conquistando uma certa legitimidade institucional", explica o curador. Os pioneiros do movimento estavam interessados em provocar uma tensão entre o excesso de trabalho manual na produção das imagens extremamente fieis à realidade e a banalidade dos temas, ligados a uma cultura de consumo de massa e à sociedade capitalista.
"O Giovani Caramello pertence a algumas gerações posteriores e tem uma singularidade na maneira como lida com a técnica porque tem, no trabalho dele, uma dimensão muito lírica no sentido de que lança mão da técnica extraordinária para mimetizar a passagem do tempo, do escoar do tempo sobre os corpos", diz Icaro.
Hiper-realismo no Brasil
Exposição de Giovani Caramello. Abertura hoje, às 19h, na Caixa Cultural Brasília (SBS Q. 4, Lotes ¾). Visitação até 12 de janeiro, de terça a domingo, das 9h às 21h. Não recomendado para menores de 14 anos.