MÚSICA

Pesquisa mapeia sons, narrativas e afetos da Escola de Música de Brasília

Pesquisadora brasiliense faz mapa sonoro da Escola de Música de Brasília (EMB) e constrói uma paisagem musical costurada de memórias

Amiscelânea de sons ouvidos pelos corredores e espaços de circulação da Escola de Música de Brasília (EMB) sempre intrigou Bárbara Fragoso. Formada em comunicação, aluna de canto erudito e popular na escola brasiliense, ela passou a relacionar as sonoridades naturais de um espaço de ensino de música com uma paisagem, quando começou o mestrado em comunicação e economia criativa na Universidade Católica de Brasília (UCB). Como queria produzir uma pesquisa que ligasse a economia criativa com a escola, mergulhou na investigação de qual seria a paisagem sonora característica da EMB e quais os caminhos para valorizá-la. 

O resultado é uma extensa pesquisa batizada de Paisagem sonora: escuta imaginativa e afetos da Escola de Música de Brasília. "A EMB é extremamente rica e representa a cultura brasileira. É um ponto de encontro, um cluster (pacote) musical da capital, com grande potencial criativo que não é tão explorado, que tem grande possibilidade e variedade a ser explorada", explica. "A ideia de criar essa pesquisa veio de modo cartográfico mesmo". Barbara queria fixar o estudo em algum aspecto relacionado à escola, mas não sabia por onde começar. Um dia, enquanto caminhava pelos corredores, à espera do início de um concerto, pensou em gravar os sons que brotavam aqui e ali. "A pesquisa foi vindo para mim aos poucos", diz. 

A intensão era relacionar os sons com narrativas e, para isso, a pesquisadora preparou uma vivência e convidou um professor de violão para improvisar enquanto ouvia os sons gravados pelos corredores da escola. O professor, que não sabia a origem das gravações, interagiu com os sons enquanto um grupo de ouvintes vendados era exposto aos improvisos acompanhados da narrativa de uma musicista que também estudou na EMB. Dois tipos de ouvintes passaram pela imersão sonora: um que conhecia a escola e outro que nunca esteve por lá. 

Ao final, uma roda de conversa permitiu que cada um falasse sobre as impressões experimentadas durante a vivência, realizada em 2022. "Coletei os dados e fui vendo as percepções, o que tinha de semelhante entre os grupos que conheciam o ambiente e os que não conheciam. Foi curioso perceber que o corredor da EMB era um ponto chave, ponto de encontro de diversas produções artísticas", conta Bárbara. 

No mapa sonoro desenhado pela pesquisadora, o público interno trazia relatos marcados pela diversidade de fontes, já que faziam parte maestros, pessoal da limpeza, professores, pessoas que frequentam, pais e mães de alunos, ex-alunos e ex-funcionários. "Como tinha muito músico, eles relataram mais aspectos técnicos", avisa a pesquisadora. Entre o público externo, a diversidade era menor, mas os relatos vinham mais oníricos e mais poéticos. "A intenção era identificar os afetos que emergem da paisagem sonora da Escola de Música e entender como cada indivíduo, ao escutar de forma consciente, percebe e cria significados nesse ambiente. O som não é apenas música; ele é memória e conexão", explica a pesquisadora.

Vários temas transversais acabaram notados pela pesquisadora durante o estudo dos relatos. Memórias, percepção musical, espacialidades, processo criativo e sensações foram alguns deles, todos surgidos durante as rodas de conversas. Para a pesquisadora, analisar o resultado foi um verdadeiro desafio, pois a ciência dos afetos, como diz Bárbara, não é exata. Os indivíduos constroem suas memórias e afetos também coletivamente e a Escola de Música de Brasília (EMB) seria uma obra de arte construída com as mãos de todos os frequentadores, de professores e instrumentistas ao pessoal administrativo e aos visitantes.

Raimundo Sampaio -
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Fotos: Raimundo Sampaio -

 


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