O Teatro Goldoni teve as atividades encerradas em 2021 por pedido de desocupação do prédio onde se situava, na Asa Sul. Após mais de duas décadas de atividade cultural, o acervo do teatro passa por um processo de pesquisa e disponibilização ao público. O projeto Memória Compartilhada revisita a história da associação Núcleo de Arte e Cultura (NAC), responsável pelo Teatro Goldoni e pelo Espaço 51. Os dois espaços foram palcos de montagens memoráveis.
Viabilizado pela Lei Paulo Gustavo, o Memória Compartilhada promove uma triagem do material teatral guardado — notícias de jornais que destacam a arte cênica do DF, filipetas, cartazes, documentos, registros fotográficos e em vídeos. A organização da equipe visa separar o acervo de forma cronológica ou tipológica para a disponibilização do material na plataforma digital Tainacan, software desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal de Goiás e da Universidade de Brasília.
Alguns espetáculos exibidos e registrados no acervo são Machadianas: Cenas cariocas, da obra de Machado de Assis, com André Amaro, Alexandre Ribondi, Cristiane Sobral e Miran Virna; Arlequim, Servidor de dois patrões, com direção de Hugo Rodas; e Romance, com Ary Para-raios. Materiais de divulgação de diversos espetáculos também estão presentes, como Virilhas, Reveillon, Hamuleto, Dois de paus, Terça Crônica, Decamerão e Contos de alcova.
Produtor cultural e consultor do acervo do Teatro Goldoni, Josuel Junior destaca a importância de investigar e entender os arquivos da história teatral de Brasília: "São narrativas e momentos de outros artistas que ainda ecoam nos recortes culturais da capital." Foi ao revisitar momentos que presenciou como espectador que Josuel compreendeu que o acervo não é terceirizado, mas faz parte da vida dos brasilienses. Pela vivência compartilhada, a equipe adotou o slogan 'Nossas melhores lembranças se encontram ali'.
Os documentos físicos serão doados ao Arquivo Público do DF, garantia que Josuel reserva para que futuros pesquisadores tenham acesso às informações do teatro de Brasília.
Idealizadora e gestora do Teatro Goldoni, Maria Carmen é exaltada por Josuel e descrita como uma profissional esmerada em gerir o trabalho cultural. "Ver ela guardar todo o material com cuidado me faz perceber que devemos reverenciar quem veio antes de nós. Todo o trabalho dela é motivo de muito orgulho", argumenta.
Mesmo com catálogos e livros que reverenciam nomes da cênicas, Josuel ressalta que o teatro de Brasília ainda não possui uma literatura própria que unifique todas as histórias. O consultor ressalta que, uma cidade que não transforma o ofício teatral em documento público, terá sempre dificuldade em contemplar novas gerações.
*Estagiária sob a supervisão de Severino Francisco