Exposição

Exposição no CCBB reúne 16 artistas engajados no universo queer

A mostra reúne 114 obras que tratam de temas como amor, família, maternidade, paternidade, casamento, ancestralidade, gênero e a própria história do Brasil

"A exposição é, antes de mais nada, uma celebração contestatória", afirma a curadora Luana Kayodè - (crédito: UÝRA SODOMA - LAMA 23)

Oriundos de diferentes regiões e sempre egressos das margens da cena das artes plásticas nacionais, os 16 artistas de Indomináveis presenças propõem um exercício de deslocamento do olhar para um espaço no qual as questões decoloniais e etno-raciais são a base do pensamento. Em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) e com curadoria de Luana Kayodè e Cíntia Guedes, a exposição reúne 114 obras que tratam de temas como amor, família, maternidade, paternidade, casamento, ancestralidade, gênero e a própria história do Brasil. "A exposição começa com essa ideia de trazer as individualidades, a multiplicidade da nossa comunidade melaninada. A curadoria começa na eleição de artistas que trabalham com temas voltados para a pele melaninada e a gente tem essa variação do colorismo que, no Brasil, vai do preto retinto até o índio", avisa Luana. "A camada a mais e que vem à frente é o corte LGBTQIA : todos os artistas pertencem a essa comunidade. São artistas que trazem esses temas, mas a gente traz também esse lugar da brasilidade. É uma questão muito territorial de como esses corpos sobrevivem."

De acordo com a curadora, o colorismo no Brasil ainda precisa ser estudado e discutido para que haja um amadurecimento. Os brancos, ou não melaninados, como Luana gosta de falar, são minoria no país e há uma variação muito grande dos tons de pele. Segundo o Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 55,5% da população brasileira se declara preta ou parda. "A exposição fala dessas diferenças do tom de pele que traz essa diferenciação de território para que a gente possa, de fato, se posicionar e ser respeitado individualmente", diz Luana. Quando uma pessoa considerada não negra ou não indígena sai do território brasileiro e vai para outro lugar, lembra a artista, muitas vezes ela é vista e tratada como "pessoa melaninada". "No Brasil, tentam o tempo todo nos colocar em pacotes, nos perguntam se a gente se considera preto, branco, amarelo e dificilmente tem a opção indígena. Isso deixa as coisas em um lugar muito superficial,  estamos longe de um letramento coletivo", lamenta.  

É uma união de universos e vozes que orienta a proposta de Indomináveis presenças. São obras como a da baiana Mayara Ferrão, que reflete sobre a felicidade de casais de mulheres a partir da criações de imagens feitas com inteligência artificial, ou o também baiano Bernardo Conceição, que traz a série Pelo direito de amar no Brasil do jeito que eu quero, ou ainda os maranhenses Panamby, com criações que remetem a rituais, e Gê Viana, que faz do cotidiano do povo Anapuru um tema para falar da história afro-indígena. "A exposição é, antes de mais nada, uma celebração contestatória. A gente não pode deixar de lembrar que corpos pretos no Brasil morrem, então são várias camadas para essas pessoas estarem vivas aqui. E pessoas trans, no país, têm expectativa de vida de 35 anos. A maioria dos nossos artistas têm menos de 30 anos", explica a curadora. 

 

  • MAYARA FERRÃO :  O BEIJO 2
    MAYARA FERRÃO : O BEIJO 2 Foto: MAYARA FERRÃOx
  • RAFA BQUEER criou o  
 Casaco Themônia
    RAFA BQUEER criou o Casaco Themônia Foto: RAFA BQUEER
  • EDGAR AZEVEDO - SEM TÍtulo
    EDGAR AZEVEDO - SEM TÍtulo Foto: EDGAR AZEVEDO
  • BIXA TROPICAL -  AMARELO NÃO
    BIXA TROPICAL - AMARELO NÃO Foto: BIXA TROPICAL
  • Oyá Imagens de Revolta, por Rafa Bqueer
    Oyá Imagens de Revolta, por Rafa Bqueer Foto: Paulo Evander
postado em 26/11/2024 06:01
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