Um orçamento de US$ 290 milhões, um icônico diretor de cinema de 86 anos, Ridley Scott, que respondeu por filmes como Alien e Blade Runner, agora traz a sequência de um estrondoso sucesso, vencedor de cinco Oscar e que, em 2000, lucrou US$ 450 milhões. As credenciais são de Gladiador II, que volta à ambientação da Roma Antiga, a fim de revelar o destino do personagem Lucius (que também atende por Hanno), 16 anos depois da morte do heroico protagonista Maximus (personagem que rendeu ao neozelandês Russell Crowe o Oscar de melhor ator). Boas interpretações como as vistas em Gladiador II, em filmes de Scott, nem chegam a ser novidade — basta lembrar que ele revelou ao mundo talentos como os de Sigourney Weaver (Alien) e Brad Pitt (Thelma & Louise).
"Alerta e altivo", Lucius, personagem movido por espírito de vingança, dá uma chance de acesso do ator irlandês Paul Mescal, aos 28 anos, para o sistema de astros e estrelas de Hollywood. Lembrado pela série Normal People e pela indicação ao Oscar por Aftersun, Paul Mescal intrigou o diretor do filme pela semelhança com o viril astro das antigas Richard Harris, do faroeste Um homem chamado cavalo. Numa era de crucificação de ladrões e cristãos, o protagonista de Gladiador II sai da vida estabilizada na Numídia (situada no norte africano) e se vê em choque com ideais de dois imperadores romanos enlouquecidos chamados Caracalla e Geta. Lucius adentra um universo violento, como escravo de Macrinus (Denzel Washington), no qual enfrentará, entre outros, o general Marcus Acacius (Pedro Pascal).
Nos bastidores de Gladiador II, Ridley Scott optou por Mescal depois de uma videochamada de 30 minutos. "Acho que Scott age por instinto, dentro e fora do set, e estou muito feliz que seja assim", revelou Mescal à imprensa estrangeira. Ao jornal inglês The Independent, Mescal sentenciou, dada a especulação quanto ao seu novo status na indústria: "Se o filme impactar minha vida de modo negativo, vou ter que seguir em frente e fazer uma daquelas peças primitivas que ninguém quer ver", brincou.
Para estabelecer as batalhas na telona, com a batida certa, Ridley Scott demoveu ideias exóticas, como a de Nick Cave, que pretendia um roteiro com a ressurreição de Maximus. Na mesma escala monumental que aplicou para retratar a imponência dos embates napoleônicos (com filme estrelado por Joaquin Phoenix), Scott se armou do roteiro de David Scarpa (de Todo o dinheiro do mundo), com reforço da dupla Peter Craig (de Top Gun: Maverick) e David Franzoni (do primeiro Gladiador), tudo ainda redimensionado pelo aprimoramento de cenas pelo emprego de tecnologia de ponta.
Atriz que revive Lucilla (personagem filha do imperador Marco Aurélio), Connie Nielsen antecipou ao Entertainment Weekly o teor de impacto: "Você pode imaginar o que Ridley faz tão bem, que é a mistura do real, antigo tipo de artesanato cinematográfico — cenários reais, pessoas reais, tudo real e ainda a tecnologia bastante extraordinária, com a soma de novas ferramentas das quais Ridley já tem domínio". Para a superprodução, em que tudo vem a ser monumental, o diretor inglês — nunca premiado com o Oscar de direção (mas que tira onda com o título de cavaleiro do Império Britânico) — contou que, visualmente, buscou inspiração na pintura histórica do francês Jean-Léon Gérôme, atuante no século 19.
Disputa pelo poder
Com o domínio da Pérsia e da Índia a caminho, os poderosos em Roma, no filme, dão as caras: para além de Caracalla (Fred Hechinger) e Geta (Joseph Quinn), há o dúbio general Acacius (Pascal) e Macrinus (Washington), que almeja posto de cônsul, no filme em que, literalmente, cabeças vão rolar. Na trajetória daqueles que "pregam a destruição que chamam de paz", como sublinha Lucius, não faltam discursos grandiloquentes e as empolgantes cenas de ação insufladas por Ridley Scott, desde a primeira incursão em longas, com Os duelistas, que, em 1977, rendeu para ele o prêmio de estreante, por unanimidade, no Festival de Cannes.
Numa escalada, aos poucos, as lutas entre humanos como o abrutalhado Viggo e aquelas movidas pela precisão da mira de peritos arqueiros, dão lugar ao embate, na arena do Coliseu, com feras assustadoras, como as que cercam o assombroso humano Glyceo, que empunha armas bastante brutais. Na trama que une espadas, galés, esperança, rinocerontes, macacos violentos, fortalezas, atos de misericórdia e um público de plebeus sedento de sangue no Coliseu, prevalece o valor da expressão latina "Vae victis", uma sinalização que lamenta o destino dos derrotados.