O título Volta por cima tem tudo a ver com o momento que Tereza Seiblitz está vivendo. Após brilhar em novelas entre as décadas de 1990 e 2000, a atriz retorna à Globo após 22 anos, agora, como Doralice, a mãe da protagonista, Madalena (Jessica Ellen), na atual novela das 19h. Um papel de destaque na trama de Claudia Souto, digno da grandeza da artista carioca que esbanja, aos 60 anos, a mesma beleza e talento que a destacaram na virada do milênio quando se consagrou nacionalmente com personagens como a Joaninha, da primeira versão de Renascer (1992), e a cigana Dara, mocinha de Explode coração (1995).
Tereza atuou em apenas quatro novelas. Ela estreou na tevê, em 1990, como Laura, em Barriga de aluguel, e emendou com a Jerusa, de Pedra sobre pedra (1992), e a Joaninha. Após a primeira e única protagonista, que veio dois anos depois pela mesma mão de Gloria Perez que a lançou na tevê, a atriz ainda participou de produtos como a minissérie Hilda Furacão (1998), da mesma autora, episódios do extinto Você decide e de uma temporada de Malhação, em 2002. "Não fiz mais porque pararam de me convidar, e voltei a fazer quando me convidaram. Simples assim", afirmou ao Correio a canceriana descendentes de espanhóis.
Nesse período distante da emissora, Tereza exerceu duas outras paixões: a maternidade e o teatro. Ela é mãe de três filhos: Manuela, 25, com o ator André Gonçalves, formada em cinema; Vittório, 23, da relação com o diretor Luiz Fernando Carvalho, que estuda música; e o estudante de história Juliano, 18, do casamento com o músico Kiko Horta — pai da enteada, Rosa, 25, que ela considera como filha. Nos palcos, entre outras peças, brilhou em O avarento, texto de Molière, no qual contracenou com o ator Tonico Pereira, seu atual colega de elenco às 19h, e produziu Carangueja, em que também atua.
"A vida não para. Criei meus filhos, quis estudar mais, atuei bastante no teatro, porque é onde a gente se exercita como ator, escrevi peça e decidi produzir meus próprios espetáculos", argumenta Tereza, que também se formou em letras, com direito a mestrado. E a veterana não guarda nenhum rancor por ter ficado afastada tanto tempo da tevê.
"Lembraram de mim após esse anos todos, fui convidada e estou de volta. Isso é muito bonito também", comemora, mostrando que levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima, como canta os versos que embalam a abertura da novela.
Realidades opostas
Tereza Seiblitz retornou, na verdade, em Justiça 2, série da Globoplay, lançada este ano. Na produção de Manuela Dias, ambientada no Distrito Federal, teve a oportunidade de conhecer um pouco mais a capital do país. "Eu fui muitas vezes a Brasília, desde os anos 1990, e sempre me estranha aquela arquitetura, mas, agora, com essa vivência de Justiça, a gente parou para pensar nas várias pessoas que estão nas cidades que a gente se acostumou a chamar de satélite, como Ceilândia. A série retrata bem esses mundos tão distantes coabitando no mesmo lugar, porque as histórias se passam em alguns lugares como o Lago Sul e, ao mesmo tempo, o Sol Nascente, duas realidades extremamente opostas. É bom que se fale de todo mundo, e não só do que a gente já sabe de Brasília", defende.
Intérprete de personagens de enorme destaque, como Joaninha e Dara, Tereza não se sente desconfortável por ter ficado marcada por elas. Ao contrário: ela se sente orgulhosa quando alguém a chama pelos nomes das moças da ficção a quem deu vida na juventude. A cigana de Explode coração, por exemplo, foi a responsável por batizar muitas meninas nascidas de lá para cá.
"Eu acho que foram umas 20 Daras que eu conheci pessoalmente. No Instagram, eu perdi a conta das pessoas que me mandam mensagem se apresentando como Dara por minha causa. E tem uma história interessante: quando eu dançava flamenco, porque eu já fazia dança cigana bem antes da novela, eu dançava em um restaurante chamado El Pescador, em São Conrado, que, hoje em dia, é uma concessionária que se chama Dara. São essas coisas da vida que nos dão alegria...", diverte-se.
A figura de Tereza ganhou uma repercussão maior logo que anunciaram o remake de Renascer, especialmente quando começou a se especular que jovem atriz faria a sua personagem, Joaninha. A escolhida foi a premiada Alice Carvalho, de 28 anos, conhecida por trabalhos no cinema e no streaming, mas estreante em folhetins. A veterana não somente aprovou a escolha, como conversou bastante com a nova intérprete. "Eu acho a Alice maravilhosa. A gente não se encontrou pessoalmente, mas a gente se falou muito. Ela é uma atriz deslumbrante. Eu fico muito honrada também de ela ter sido escolhida para fazer essa personagem porque ela não é só atriz, mas também uma roteirista e produtora, como eu também me tornei", festeja.
Em relação às suas personagens, a atriz admite que existe um certo apego, mas nada que a impediu de celebrar o trabalho da colega mais jovem. "Tem um apego porque tem um afeto. Joaninha foi muito importante na minha vida, como artista e como pessoa. Isso não tem como tirar, mas, ao mesmo tempo, eu também quero que outra pessoa tenha experiência", conclui Tereza.