Foi na Itália, em 1978, que Jô Oliveira teve a ideia de fazer uma história em quadrinhos com uma história típica do sertão nordestino. Naquele fim de década, Jô teve um encontro inusitado com o quadrinista Hugo Pratt e, de uma conversa entre os dois, surgiu a ideia.
Pratt, criador do famoso Corto Maltese, acabava de publicar O homem do sertão e, ao conversar com o ele, o brasileiro disse que queria muito fazer uma história parecida, que se chamaria O homem de Canudos. O italiano adorou a ideia e apresentou Jô ao editor Sérgio Bonelli, que topou a empreitada.
Com roteiro de Wanderley Diniz e desenhos de Jô Oliveira, a HQ foi publicada na Itália e, mais tarde, em uma edição limitada no Brasil, que acabou esgotada. Agora, está de volta às coleções de quadrinhos graças a um financiamento coletivo encabeçado pela Editora Trem Fantasma em parceria com a Confraria Bonelli. Jô lança a reedição hoje, às 15h, na Oto Livraria.
A história imaginada por Jô se passa no final do século 19, no sertão nordestino, onde Pedro, um vaqueiro sem terra, enfrenta um latifundiário e, em seguida, precisa fugir da perseguição inevitável. "O Wanderley resolveu fazer uma ficção dentro de Canudos, que é o pano de fundo", avisa Jô.
"O vaqueiro e a família são trucidados por aquelas questões latifundiárias que sempre existiram no Nordeste. Ele se vingar do latifundiário com a ajuda dos cangaceiros e foge para Canudos. Infelizmente não tinha MST na época", brinca o autor. Como é uma HQ, ele evitou o tom didático para as questões históricas e Canudos virou o palco no qual a vida do jovem vaqueiro se desenrola. "E, claro, como a maioria, ele foi trucidado. Na história tem o extermínio geral de Canudos", avisa.
Na época em que criou O homem de Canudos, Jô ainda era um novato na experiência com a ilustração. "Na época que fiz tinha um estilo muito definido", conta. Mais tarde, ele resolveria dar uma característica bem brasileira aos próprios desenhos, inspirados em referências culturais populares nordestinas, no cordel e na xilogravura. Mas essa HQ ainda seguia por outros caminhos.
A primeira incursão real de Jô no mundo dos quadrinhos foi com Trilogia sobre o Nordeste, série incentivada por Ziraldo e publicada no Pasquim. "Mais tarde, em todo o meu trabalho resolvi dar uma característica bem nacional.
"Vim do Nordeste, morei 15 anos lá e tive muita influência das manifestações populares, o cordel fazia parte do nosso dia a dia, meu avô tinha coleção, e o cordel veio ao encontro da minha ambição de ser um narrador visual. O cordel oferecia tudo: conteúdo literário e uma referência visual, que era a xilogravura", diz Jô.
O homem de canudos
De Jô Oliveira e Wanderley Diniz. Lançamento hoje, às 15h, na Oto Livraria (302 Norte, bloco E, loja 39, subsolo). Trem Fantasma, 64 páginas. R$ 80
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