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Premiado cineasta Xavier Legrand abre-alas para o Festival Varilux

Com dezenas de sessões espalhadas por três redes de cinema de Brasília, Festival Varilux traz o brilho do cineasta francês Xavier Legrand

Xavier Legrand, diretor presente no Festival Varilux -  (crédito: ANNE-CHRISTINE POUJOULAT            )
Xavier Legrand, diretor presente no Festival Varilux - (crédito: ANNE-CHRISTINE POUJOULAT )


Há uma década indicado para o Oscar, por um curta-metragem, o diretor francês Xavier Legrand, hoje, aos 45 anos, é dos nomes de peso no cinema europeu. Ganhador do prêmio César de melhor filme, com o dilacerante drama Custódia (2018), agora ele é um dos chamarizes na nova edição do Festival Varilux, que tem programação a partir de hoje, em Brasília, nos cinemas do CasaPark, Liberty Mall e Pier 21. Atração das 20h30 de hoje (7/11), no Cinesystem CasaPark, o drama psicológico O sucessor disputou o Festival de San Sebastián. Estrelado por Marc-André Grondin, na pele do estilista de luxo Ellias Barnès, o filme de Legrand aposta na acidentada trilha para um homem de dramas bipartidos: herda um posto invejável, na indústria da moda, mas, no campo particular, afastado do pai, terá que lidar com a morte dele — fator que acionará um gatilho incontornável. Confira a entrevista para o Correio de Legrand, que comanda o thriller ainda estrelado por Yves Jacques (As invasões bárbaras).

Entrevista // Xavier Legrand, cineasta

Crê que o desgaste emocional dos atores os torne ariscos a uma nova empreitada em cinema contigo? Em O sucessor aparecem exauridos como em Custódia...

Existem muitas cenas que são grandes desafios para os atores e eu acredito que eles gostam desse tipo de cena no limite. A minha responsabilidade enquanto diretor é convocar os processos que possam dar segurança e conforto para os atores. É claro que por exemplo, em Custódia, havia cenas de tensão no final principalmente que exigia uma grande capacidade lacrimal. O ator Marc-André Grondin, em O sucessor, se depara com cenas de extrema tensão, por flertarmos com a tragédia. Não se pode, na minha visão de cinema, mostrar o morno — mas sim ou o gelo ou a febre. Não pode ser morno. Para esse tipo de cena é uma tomada de risco que é quase como um pulo de paraquedas do ator. Não dá então para filmar dezenas de takes: é preciso poucos takes com muito conforto. Se ele precisar de som, por exemplo, para que realize uma imersão no contexto emocional, providencio, e também tiro pessoas que talvez não estejam necessárias no set. Realmente para mim é um momento sagrado.

Esconder a aparição de uma moça na trama cria uma densidade única no filme. Cinema pode ser mais som e menos imagem?

É realmente nós podemos destacar uma potência de algumas ações que ocorrem fora do campo da câmera. Em geral as imagens são sempre mostradas e são importantes — é cinema. Mas se você não mostra, frontalmente, você apenas ouve, sem mostrar, vai aumentar a tensão do espectador. A gente sabe que o cinema é uma manipulação que consiste em mostrar ou não mostrar. Às vezes, quando não mostramos e apenas ouvimos, isso irá solicitar mais a imaginação do espectador.

Como crê que as pessoas têm tratado da morte? O ser humano anda descartável?

Eu acredito que desde o começo da história da humanidade a morte aterroriza os homens e também não saber o que vai acontecer depois da nossa morte aterroriza: qual é o sentido de tudo isso? Qual é a razão para tudo? Acredito que a religião existe por causa disso e como não existe acordo, muitas vezes, sobre as religiões, ocorrem guerras. Acredito que todos passamos por essa vida na Terra: alguns para realizar coisas boas e outros coisas ruins. Para mim, a morte é uma doença sem nenhum antídoto. Nunca haverá cura. Quanto à segunda pergunta, sem dúvida, estamos no momento mais egocentrado: as pessoas estão muito viradas para si mesmo, não tem tanta atenção ao outro, não tem tanta solidariedade, e parece que a fraternidade está se desintegrando em face da promoção de si mesmo.

postado em 07/11/2024 10:21
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