Arnaldo Júlio Barbosa veio para Brasília em 1959 para trabalhar. A rampa do Congresso Nacional, a cidade de Taguatinga e a Igrejinha Nossa Senhora de Fátima, onde assistia à missa todos os domingos ao lado de Juscelino e Dona Sarah Kubitschek, contam parte da história deste importante potiguar, que, a partir desta quinta-feira (7/11) — data em que completa 106 anos —, torna-se cidadão honorário da capital que ajudou a construir.
Seu Arnaldo deixou a família no Rio Grande do Norte para vir a Brasília há 65 anos. Antes disso, porém, já escrevia, no Nordeste, poesia em formato de cordel. Foi em 1947 que ele deu à luz as 143 estrofes de A jovem Margarida e as proezas do amor, pelo qual concorre ao Prêmio Jabuti no eixo ‘inovação’ como escritor estreante na categoria poesia.
Àquela época, ele era apenas alfabetizado e contava com o conhecimento do que via ao redor, e ainda assim construiu todo o cordel com métrica perfeita. “Foi ele com ele”, conta ao Correio a neta Andréia Cardozo. Professora, ela diz que o avô é autodidata: “Quem conhece e é da área de literatura vê que é um trabalho quase perfeito”.
Estruturado em sextilhas, com versos metrificados em redondilha maior, a trama em forma de poesia dá vida ao dilema de Margarida, uma jovem dividida entre dois amores, aquele com quem precisa se casar e aquele com quem quer se casar.
Andréia descreve a obra como “revolucionária”. A percepção dela, “como leitora, não como neta”, frisa, é a de um livro “que faz a gente pensar; atemporal, moderno e multifacetado”, assim como o próprio avô. Há 77 anos, ele escreveu sobre uma mulher que lutou pelo amor e não desistiu.
“A mente dele é muito poema”, afirma. Apesar da cultura de criação da época, a neta conta que Arnaldo tem uma visão de mundo muito aberta e, por isso, apesar da idade, ele é atual. “O vô desafia até hoje as dificuldades que tem. Ele é inovação aos 106 anos.”
Nesta quinta-feira (5/11), às 19h, além de comemorar o aniversário, Arnaldo Júlio Barbosa recebe, na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), o título de cidadão honorário de Brasília, cidade para a qual trouxe toda a família após a construção.
Sobre o Jabuti, do qual o avô é finalista, Andréia comenta: “A gente não esperava, a gente inscreve ele sempre pelo carinho que a gente tem, e sempre tem resultados”. Outra neta de Seu Arnaldo, também escritora e formada em direito e letras, não foi classificada para o prêmio, mas ficou feliz, como toda a família, em passar a honra para o avô.
A professora Andréia finaliza ressaltando a alegria que sente, pelo livro, pelo fato de chegar à final do mais tradicional prêmio literário do Brasil, pela honra do título de cidadão honorário, pelo aniversário que se aproxima e, claro, pelo avô, dono de todas essas vitórias: “Cada dia dele é uma conquista, um presente”.
Além do Jabuti, Seu Arnaldo concorre a prêmio da Biblioteca Nacional e ganhou concurso literário em Portugal com A jovem Margarida e as proezas do amor. O livro foi lançado, junto ao padre Fábio de Melo, em Caicó, município do estado em que nasceu.
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