Para Isabel Teixeira, a vida é hoje, sem pressa, mas com objetivos claros. Comemorando nesta data 51 anos de idade, com 40 de carreira no teatro, a atriz é quase uma novata na televisão, onde iniciou há apenas cinco anos, quando estreou, quase simultaneamente, na série Desalma, na Globoplay, e na novela Amor de mãe, na Globo. Entre colegas de elenco, autores, produtores, diretores e fãs, porém, o status é de veterana. Em sua quarta novela consecutiva na emissora — após emendar Pantanal (2022), Elas por elas (2023) e a atual, Volta por cima (2024) —, Bel — como é conhecida — está no ar quase ininterruptamente e avisa: quer fazer uma atrás da outra. O resto da vida.
"Eu gosto mesmo de fazer novela, e eu descobri isso quando tinha 46 anos. Quero fazer muita novela e tenho que fazer uma atrás da outra para fazer um monte. Tony Ramos já fez mais de 40, não fez? Então, para igualar a ele, preciso fazer uma por ano, até os 80 e tanto. Eu tenho e quero fazer um monte!", garantiu Isabel ao Correio.
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Dona de um rosto forte e expressivo e de dois olhos verdes enormes e vibrantes como seu sorrisão largo, a escorpiana esbanja carisma e simpatia seja ao receber o carinho dos fãs, seja para conceder entrevistas. Intensa e proprietária do dom da palavra, regozija-se em falar sobre sua arte e sua vida — o que, para ela, são praticamente sinônimos.
Formada pela Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo (USP), Isabel Teixeira ostenta uma trajetória admirável no teatro, onde se lançou aos 10 anos de idade com Uma aventura a caminho do Guarujá, mas passou a ser conhecida nacionalmente por meio de Maria Bruaca, personagem que interpretou no remake da novela de Benedito Ruy Barbosa e pela qual abocanhou quase todos os prêmios possíveis daquele ano. E não parou mais, sem reclamar.
"Fazer uma novela atrás da outra é bom! Eu gostaria de ficar fazendo isso sempre, porque é um estilo de vida. É todo um know-how que a gente só aprende fazendo. Eu faria uma atrás da outra e sem medo de errar. Eu queria ter longa vida na dramaturgia para poder entender o que eu já fiz e o que eu ainda posso fazer. Eu acho que eu estou meio viciada em fazer novela", admitiu a atriz, diretora e dramaturga premiada.
Eu sempre digo sim!
Filha da atriz Alexandra Corrêa e do músico Renato Teixeira — de quem busca herdar o dom de falar para muitos com simplicidade —, Isabel respira arte, música e teatro desde que nasceu. Ela iniciou nos palcos em 1984 e entendeu, ainda menina, a sua vocação. Hoje, quatro décadas depois, define-se como uma artista que sempre vai dizer "sim". "No teatro, depois que eu comecei a produzir, comecei a escolher o que fazer, mas, no geral, eu sou uma atriz que fala 'sim' sempre, porque eu gosto de desafio. E não acredito que tenha personagem pequeno ou grande, porque personagem é ser humano, e todo ser humano tem o seu o valor e sempre vai ter composição", observou a atriz, que sequestrou a atenção dos telespectadores ainda com personagens coadjuvantes, como a Jane, melhor amiga da vilã interpretada por Adriana Esteves em Amor de mãe.
Até abril deste ano, Isabel estava no ar como Helena Aranha, protagonista-vilã do remake de Elas por elas, originalmente vivida por Aracy Balabanian em 1983. Agora, a paulistana, moradora do bairro de Santa Cecília, vive a contraventora Violeta, uma personagem totalmente inserida no subúrbio do Rio de Janeiro. "Eu não sou carioca, e isso, para mim, é um fator de reverência até. Como é que eu trago isso de uma maneira que não seja ofensiva e caricata, mas que seja reverenciando um lugar? Isso tudo é composição, e é isso que me atrai no trabalho", define a atriz, que, neste trabalho, reencontra os colegas Milhem Cortaz e Juliano Cazarré — seus pares românticos nas duas primeiras produções. "E é sempre uma delícia esses encontros cênicos!"
Viciada em novelas
Em meio às discussões sobre a finitude das telenovelas, ela não tem dúvidas. Para Bel, o futuro das novelas é, simplesmente... ser novela. "E eu espero estar em todas. Meu objetivo é tentar convencer o pessoal da Globo que dá para fazer três ao mesmo tempo", brincou. Para a dramaturga, agora falando sério, o gênero continuará existindo, porque "novela existe para a gente falar mal". Ela contou que, em Ubatuba, na casa das tias, todo mundo se arruma para assistir novela, vê as três que são exibidas em sequência e comenta todas. Falando bem e mal.
"Ainda hoje, há uma interação com a novela que as redes dão para a gente, né? Eu sou viciada em ficar sentada vendo e comentando com todo mundo, ir escutando as opiniões do público. A gente vai continuar comentando, e neste mundo dos streamings é a mesma coisa", defendeu ela, que confessou ainda usar máquina de escrever. "Eu acho que as tecnologias todas podem coexistir e as plataformas de série e filme, de novelas, e teatro podem coexistir também. Tem público para tudo e é um tiro no pé decretar o fim do gênero", conclui a mãe de Diego, 20, e Flora, 13, que, transformou a própria casa, em São Paulo, na sede de uma editora, a Fora de Esquadro, onde produz livros artesanalmente.
Onde o mundo dá certo
Cria do teatro, Isabel Teixeira chegou a acreditar que a televisão a tiraria dos palcos. Felizmente, estava errada. Paralelemente à novela, a atriz está em turnê com o espetáculo Jandira, em que homenageia a atriz e dramaturga Jandira Martini, falecida no início deste ano. O projeto é fruto do encontro com o colega Marcos Caruso, que viveu seu pai em Elas por elas. "Jandira e Caruso escreveram peças que são joias da dramaturgia brasileira, como Sua excelência, o candidato e Porca miséria. Minha mãe era atriz, e os dois eram uma grande referência porque eram atores que escreviam e que faziam toda uma dramaturgia inteligente que tocava em feridas sociais. Eles eram uma dupla, começaram a fazer novela também um pouco mais tarde, e foram atores populares que fizeram muitas novelas. Caruso ainda faz, e gosta de fazer também", comemorou.
Outro encontro festejado por Isabel foi com o ator Mateus Solano, que deu vida ao marido dela na mesma novela. Com ele, a dramaturga produziu o monólogo O figurante, que ele protagoniza. "É uma peça que fala muito sobre a novela, sobre o set, e é bonito porque a gente coloca o protagonismo em quem dá vida para uma cidade em uma novela. O que seria um cenário de praia se não tivesse nenhum figurante?", explicou Isabel.
De acordo com a autora, Augusto, o personagem vivido por Mateus, é um profissional de figuração que existiu e era muito querido na Globo. "A gente joga luz nessa profissão tão importante e que normalmente é invisibilizada. Isso tudo aqui é uma grande máquina, que funciona muito bem. O set é onde o mundo dá certo. E eu sou apenas uma peça nessa grande engrenagem, assim como qualquer figurante", finalizou, demonstrando, ao apequenar-se, toda a sua grandeza.