Dar um destino adequado e acessível à coleção da Fundação Cine Memória, um acervo precioso, colecionado de maneira quase involuntária e guardado em uma casa na W3 Sul, sempre foi o sonho de Vladimir Carvalho. São mais de 5 mil itens, entre jornais, revistas, fotografias, filmes, máquinas, câmeras e até mesmo a moviola usada por Glauber Rocha em Terra em transe, maquinário pesado que não pode ser transportado com facilidade. Todos os cômodos da casa estão ocupados pelo acervo e a vontade de Vladimir era criar uma espécie de extensão da Cinemateca Brasileira em Brasília.
No dia 3 de outubro, mesma semana em que sofreu o infarto, o cineasta participou de uma reunião com o presidente do Iphan, Leandro Grass, que abraçou o movimento, assim como a jornalista Márcia Zarur, que também estava no encontro. "A gente fez essa reunião para alinhar os próximos passos para a implementação da Cinemateca de Brasília, que nós estamos projetando e que também será a sede, o espaço para recepcionar o acervo, a reserva técnica dos materiais que a gente diagnosticou", conta Grass. Vladimir saiu do encontro muito feliz, segundo Márcia Zarur. "Ele saiu da reunião muito animado, comentando que era um dos dias mais felizes da vida dele porque queria muito dar uma destinação digna ao acervo", lembra a jornalista.
Grass explica que, durante a reunião, recebeu uma sinalização de apoio do Banco do Brasil para viabilizar o projeto. "Tínhamos uma solicitação para o Banco do Brasil (BB) pedindo parceria nesse projeto. Na hora da reunião, fiz algumas ligações e fiquei feliz porque a sinalização foi positiva", diz. O presidente do Iphan deveria fazer uma outra reunião na semana que vem, com o próprio Vladimir, para dar o retorno. "A gente estava respeitando muito o desejo dele, ele estava aguardando há mais de 12 anos, por isso, sempre esperou por isso, por um apoio institucional para que o acervo fosse devidamente cuidado, inclusive para que fosse uma extensão da Cinemateca Brasileira", diz Grass.
Em setembro, o Iphan finalizou a catalogação de todo o acervo do Cinememória, feita em parceria com a Universidade Federal de Tocantins. Era um passo necessário para saber exatamente o tamanho da coleção para, na sequência, poder definir o tipo de espaço físico necessário para receber a fundação. "O Banco do Brasil sinalizou que poderia acolher temporariamente ou patrocinar esse novo espaço. E estávamos vendo junto à Secretaria do Patrimônio da União (SPU) quais equipamentos a gente tem em Brasília, mas não tem algo ainda definitivo. A ideia era retornar com Vladimir para ver quais eram os espaços disponíveis. E temos um imóvel do Iphan que está ocioso, poderíamos fazer uma obra. Brasília também tem museus, como o MAB, que podem receber. Vamos acelerar o passo para fechar o mais rápido possível", garante Grass.
A diretora de Marketing e Comunicação do Banco do Brasil, Paula Sayão, lembra que, em várias ocasiões, a instituição fomentou eventos sobre a obra de Vladimir. Em 2015, o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) realizou uma grande mostra com filmes, exposição de cartazes e debate sobre o cineasta. "Neste momento, o BB avalia como contribuir para conservação do seu acervo, inclusive por meio da identificação de espaços que possam receber as obras na capital federal", diz Paula.