Ponte mais sólida entre os cineastas do presente e do passado, Vladimir Carvalho, mais do que professor da UnB, foi o mestre de gerações de diretores da cidade. Em todas as edições do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, ele era ovacionado por um entusiasmado público de admiradores que incluía inúmeros alunos como José Eduardo Belmonte, Cibele Amaral, René Sampaio e colegas como Dácia Ibiapina (que chegou a fazer um documentário sobre a trajetória dele) e Mauro Giuntini. Outro registro documental recente da vida e obra veio com Quando a coisa vira outra (de Marcio de Andrade) que foi exibido no Cine Brasília. Uma das particularidades foi a aguerrida defesa de materiais ligados ao cinema candango, e ele manteve um lugar carinhosamente chamado de Cinememória (no começo da W3-Sul). A luta pela propagação de seu acervo atravessou anos.
Pela Coleção Aplauso, Carlos Alberto Mattos assinou a biografia de Carvalho, em Pedras na lua e pelejas no Planalto, que dava conta da carreira, em muito politizada — com filmes como Barra 68 — Sem perder a ternura, O país de São Saruê e Conterrâneos velhos de guerra. Desde dos fins dos anos de 1960, o paraibano chegou à cidade com experiências junto a diretores como Eduardo Coutinho do qual foi produtor, no marco do cinema brasileiro Cabra marcado para morrer (finalizado apenas nos anos de 1980).
Entre os profissionais da capital que prestigiaram sua experiência estiveram o produtor Marcus Ligocki Jr. Combativo, Vladimir lutava pela difusão de poesia (Cora Coralina esteve no filme dele Vila Boa de Goyaz) e ainda era capaz de tomar as ruas, a fim de, com faixas, promover suas criações, sempre limitadas para o esquema de distribuição. Entusiasta da capital, publicou Cinema canango: matéria de jornal, enfatizando o apreço e compromisso com o cinema local.
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Temas do coração na carreira de Vladimir foram o desenvolvimento do Brasil, o fim do ciclo de sistemas agrários, a cultura brasileira e a capital do país, pela ordem, vistos em filmes como O homem de areia, A bolandeira, O engenho de Zé Lins, Rock Brasília: era de ouro, Barra 68 — Sem perder a ternura e Vestibular 70. Num dos últimos registros, saudou Giocondo Dias, um notório militar comunista, em Ilustre clandestino.