TELEVISÃO

Eduardo Moscovis comenta camadas semelhantes entre personagens no ar

No ar em sequência na Globo, o ator Eduardo Moscovis compara o mocinho e o vilão que interpretou nas novelas "Alma gêmea" e "No Rancho Fundo", uma reprise e uma inédita. Ele também aborda o desafio de fazer psicopata em "Bom dia, Verônica"

Alçado ao posto de galã já no seu primeiro trabalho, como um jovem cigano em Pedra sobre pedra (1992), o "menino do Rio" nascido e criado no Leblon Eduardo Moscovis emendou trabalhos importantes na Globo com mocinhos que passam tanto pelos politicamente corretos Tito (Mulheres de areia), Nando (Por amor) e Rafael (Alma gêmea) quanto pelos rudes e machistas Carlão (Pecado capital) e Petruchio (O cravo e a rosa). O primeiro vilão veio mais de uma década depois, quando ele mostrou outra faceta ao dar vida ao inescrupuloso Reginaldo, a fruta putrificada do cesto farto da matriarca vivida por Suzana Vieira em Senhora do destino, de 2004. Agora, no ar na novela No Rancho Fundo, da TV Globo, o ator carioca retoma a vilania na pele de Quintino Ariosto.

O personagem atual vem, desde abril, armando para se apossar dos bens da família Leonel e foi capaz de sequestrar o próprio filho. "Ele é seco como o chão do sertão", resume Du — como Carlos Eduardo de Andrade, que pode ser visto jogando bola e pegando onda na zona sul carioca,  é conhecido entre os colegas. Apesar de ser sublinhado como vilão na sinopse da produção e em tantas cenas que vai ao ar desde a estreia, o ator prefere destacar que Ariosto é um cara ganancioso, preconceituoso, ressentido e amargurado que não trata bem as pessoas, com o jeito de falar agressivo e ríspido, "que existe em qualquer família".

"As pessoas não ouvem mais o Ariosto. Ele é um tipo de pessoa que reclama tanto, que fala tanto, que as pessoas chegam a comentar: 'Alguém ainda dá bola para o que ele fala? Você ainda liga para o que ele fala?'. A gente tem pessoas assim na nossa família", aponta o ator de 56 anos, que celebra, ainda, por meio desse trabalho atual, a nova parceria com a colega de cena Andréa Beltrão, que faz a protagonista Zefa Leonel, a mulher que consegue umedecer o coração árido do vilão.

Leo Rosario/Globo/Divulgação - Du Moscovis repete a parceria com Andréa Beltrão em No Rancho Fundo

A dupla atuou junto nos três primeiros trabalhos dele na tevê e se reencontrou na novela Um lugar ao sol, de 2021 — ano em que ambos ganharam os prêmios de melhores ator e atriz no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro com o filme Ela e eu, de Gustavo Rosa de Moura. "Caminhos que se cruzaram lá no ínicio, e isso se manteve para a vida toda. E a Andréa é uma explosão! Não é à toa que até o durão Ariosto se desmonta diante dela, a ponto de se mostrar humano e sensível", derrete-se.

Mas é equivocada a impressão de que Eduardo Moscovis ameniza a maldade de Ariosto. Ele apenas enxerga a criatura com mais leveza, até mesmo por causa do horário em que a novela é exibida. "Muita gente fala da preferência pelo horário das seis, e eu acho que é mais bonito, sim, porque há uma certa exigência para não se aprofundar tanto nos temas mais pesados, então, consequentemente, deixa a história um pouco mais leve, um pouco mais gostosa", pondera o ator, que entende o malvadão da fabulesca No Rancho Fundo como um ranzinza engraçado, aos moldes do avarento Nonô Correia que Ary Fontoura imortalizou em Amor com amor se paga (1983). "As pessoas acham graça em gente assim. Mas também não é uma busca minha amenizar ou querer criar empatia ou que ele seja engraçado", reforça o pai de Gabriela, 25, Sofia, 23, Manuela, 17, e Rodrigo, 12.

Globo/Divulgação - Com Priscila Fantin, os mocinhos apaixonados de Alma Gêmea, de 2005

Direito de imagem

Desde a terceira semana de exibição, a atual trama das 18h é precedida pela reprise de Alma gêmea (2005), no Vale a pena ver de novo. Coincidentemente, para alegria dos fãs que lamentam a sua presença bissexta na televisão aberta, Eduardo Moscovis está nas duas produções seguidas, permitindo ao público vê-lo primeiramente como vítima para, em seguida, se deparar com ele disparando maldades. O ator diz que acha curiosa essa exibição dupla e admite que assiste uma após a outra no ar. "É um horário que eu sento na frente da tevê para relaxar", confessa o ator.

Sobre a trama de Walcyr Carrasco, Du lembra com muita saudade, apesar de reconhecer o desafio que foi à época. "Era uma delícia o ambiente da novela, os colegas, a energia, tudo. Mas eu emendei um trabalho no outro, foram poucos meses entre Senhora do destino e Alma gêmea, e era um personagem complexo, porque não era um mocinho solar e leve como o Nando e o Petruchio, por exemplo. Ele sofria muito desde o início, e acabava tendo também essa camada de aridez e amargura", recorda.

Ex-estudante de administração de empresas, Eduardo carrega, entretanto, um posicionamento crítico às exibições dos trabalhos passados. "Eu acho que a gente tem uma discussão séria. Uma coisa é eu gostar das reprises, outra coisa é a gente profissionalmente estar atento aos direitos de imagens. Estamos nas plataformas digitais e não recebemos quase nada por isso. Por um lado, me deixa feliz, porque é um trabalho que as pessoas assistem e gostam; mas, por outro, profissionalmente, estou sendo desrespeitado por isso. Essa é a questão. É uma nova era que a gente está tendo que lidar. Está muito defasado, a gente precisa equalizar isso. Enfim, a gente só quer os direitos", reivindica.

Sem defesa

Se o Quintino Ariosto da novela fabulesca das 18h da Globo desperta um mínimo de defesa do intérprete, esse não é o caso de Brandão, o personagem perverso e totalmente do mal que Eduardo Moscovis viveu na primeira temporada da série Bom dia, Verônica, na Netflix. Um policial corrupto, abusador da esposa Janete (Camila Morgado), torturador e assassino de mulheres e algoz da protagonista vivida por Tainá Muller.

"Ali, nem era uma questão de ser vilão ou alguém árido. Estamos falando de um serial killer, um psicopata. Foi uma construção diferente, porque a gente já sabia onde estava entrando — eu, a direção e as pessoas estavam envolvidas artisticamente na criação, me ajudando na composição", argumenta o ator.

Du confessa que teve muita dificuldade no começo da produção, até pouco antes de gravar a série — trabalho pelo qual venceu o Prêmio APCA de Melhor Ator de Televisão em 2021. "Tive muita resistência, de aceitar o papel a incorporá-lo. Eu estava com os textos dos episódios nas mãos, tinha feito meu estudo todo, visto documentários, lido livros, investigava tudo. Mas no Brandão mesmo, eu não conseguia entrar. Foi complicado conceber essa criatura tão monstruosa", desabafa, frisando que a colega Camila Morgado foi fundamental nessa construção.

"Espero que as pessoas tenham gostado do trabalho, porque foi, sim, um processo bem intenso e dolorido. E que a sociedade enxergue, através do Brandão, o quanto o machismo pode ser mortal", conclui o artista, que, encontrou no humor uma forma de escapar do rótulo de galã da tevê e, entre os compromissos no audiovisual, se mantém no teatro, em turnê com a peça cômica Duetos, ao lado de Patrycia Travassos. 

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