No alto da Serra da Mantiqueira, a pequena São Bento do Sapucaí se espalha por um mar de montanhas e é simplesmente capaz de arrancar suspiros. Para onde quer que você olhe, surge uma paisagem mais bonita que a outra, repleta de muito verde e geralmente com o icônico complexo da Pedra do Baú coroando o cenário de maneira imponente.
É um destino de fato apaixonante, marcado por belezas naturais, vistas de cartão-postal, um centro que se mantém autêntico, culinária farta e um povo acolhedor – tanto que muitos dizem que esse é um pedacinho de Minas Gerais em São Paulo, em referência também à proximidade com o estado vizinho.
Desde a pandemia, houve um crescimento do número de visitantes e residentes em São Bento, em busca de mais tranquilidade e contato com a natureza. Muitas pessoas deixaram as grandes cidades, como São Paulo, para trás, se estabeleceram de vez por ali e foram responsáveis pela abertura de novos negócios na cidade, como pousadas, restaurantes e lojas. Ainda que pacata, São Bento do Sapucaí está cheia de novidades, que podem e devem ser combinadas com os atrativos já tradicionais do destino.
Aventura e ecoturismo
Em meio ao relevo acidentado de São Bento, um ponto se destaca no horizonte: a icônica Pedra do Baú, uma enorme rocha cujo inconfundível formato da face norte ou da face sul lembra uma caixa. Chega aos 1.950 m de altitude e pode ser vista de vários bairros da cidade e até de municípios vizinhos, como Campos do Jordão. De um lado, fica a Pedra do Bauzinho e, do outro, a Ana Chata. Todo esse complexo, que integra uma unidade de Conservação, pertence a São Bento do Sapucaí.
Na década de 1940, o montanhismo no Baú passou a ser explorado, primeiramente por meio da via ferrata, que são grampos de ferro cravados na rocha, formando uma espécie de escada que facilita a subida. Mas foi só nos anos 80 que São Bento se tornou de fato um polo de escalada no Brasil, o que impulsionou o turismo na cidade. Hoje, há dezenas de vias de escalada no complexo do Baú, de todas as modalidades e graus de complexidade.
Para todos os passeios no MoNa (Monumento Natural estadual) Pedra do Baú, mesmo os mais leves, recomendamos contratar uma agência de turismo local, como a Rotas e Rochas e a Armazém Aventura. No valor do pacote, estão inclusos serviços de um guia, equipamentos e seguro individual contra acidentes.
Os mais aventureiros podem subir até o topo da Pedra do Baú pelos 600 grampos da via ferrata, em uma duração total de 4 horas ida e volta. Já a subida da Ana Chata tem dificuldade média, entre trilha e uma pequena via ferrata. Há ainda passeios feitos em horários diferentes, para aproveitar o nascer ou o pôr do sol sobre um dos cumes, e outros que combinam mais de uma pedra no mesmo circuito.
Ótima trilha
Para quem prefere algo mais tranquilo, mas ainda com vistas espetaculares, a trilha do Bauzinho é uma ótima escolha. Tem 470 metros de ida e volta, com cerca de 30 minutos de caminhada no total. Antes de a trilha começar de fato, é possível avistar os três picos e o centro da cidade a partir de um mirante localizado perto da rampa de voo livre.
A ida é praticamente toda por uma subida, mas não tão inclinada, o que faz dela uma trilha mais fácil e democrática. Depois de atravessar um trecho de Mata Atlântica, você caminha sobre a própria rocha do Bauzinho até o ponto mais alto, a 1.760 m de altitude.
A vista compensa todo o esforço: a Pedra do Baú aparece logo em frente. Mesmo sendo a visão lateral da pedra, já impressiona por sua magnitude. Ao redor, uma vista panorâmica para a cidade de São Bento e as montanhas da Mantiqueira.
Explorando a Pedra do Baú
Para explorar o complexo da Pedra do Baú e suas “irmãs”, há três pontos de acesso. A Portaria MoNa Pedra do Baú é a única entrada pública, onde é cobrada uma pequena taxa de preservação ambiental. Tem estacionamento, ponto de venda de snacks e banheiros. É a mais indicada para a trilha do Bauzinho. As outras entradas são a do Restaurante Pedra do Baú e a do estacionamento Chico Bento, ambas privadas e com estacionamento pago.
Depois de tanta aventura, nada melhor do que uma boa cachoeira para relaxar. em meio a lindos cenários, a Cachoeira dos Amores conta com uma ótima estrutura turística, com estacionamento, lanchonete, banheiros e vestiário com chuveiro, além de uma lojinha de artesanato. Bem tranquilo, o lugar é um verdadeiro refúgio, com diversos poços para banho, tanto ao longo do rio quanto junto às quedas d’água.
Entre vinhos e azeites
O enoturismo também é um atrativo da região. E a maioria das vinícolas que integram a chamada Rota dos Vinhos da Mantiqueira está em São Bento do Sapucaí. Localizada no Vale do Baú, a vinícola Villa Santa Maria traz o terroir especial da serra para sua linha de vinhos finos Brandina. De 3.500 parreiras iniciais em 2004, a propriedade hoje conta com mais de 60 mil pés de videiras.
A Villa Santa Maria tem um ambiente encantador, bem aberto, com vistas para as montanhas de todos os lados. Há várias experiências disponíveis aos visitantes, sempre mediante reserva. Uma delas é o tour pela vinícola, com uma caminhada pelos vinhedos, na qual um dos sommeliers da fazenda conta sobre a história do local e a produção dos vinhos, possível graças à técnica da colheita invertida, ou dupla poda.
Por causa do clima da Mantiqueira, a colheita ali é feita no inverno, o oposto do que acontece em outros lugares pelo mundo, onde a vindima corresponde ao verão. O inverno da Mantiqueira é perfeito para a maturação das uvas: seco, com dias ensolarados e de grande amplitude térmica.
Depois do tour, há a opção de seguir para a degustação, também guiada por um sommelier. É uma experiência muito rica e bem-humorada, que busca simplificar a degustação do vinho ao acessar nossas memórias para identificar os aromas de cada rótulo e despertar os sentidos.
Desde 2018, a Villa Santa Maria conta também com um restaurante. Além de bruschettas e tábuas de queijos e frios, há um menu fechado em cinco tempos (couvert, salada, entrada, prato principal e sobremesa), no qual se sobressaem os ingredientes de fazendas da região. É possível optar pelo menu sem bebida ou pela sequência harmonizada com os vinhos da casa, em uma experiência enogastronômica completa.
Experiência do azeite na Oliq
Também na zona rural de São Bento, a Oliq cultiva oliveiras a uma altitude entre 1.200 e 1.800 metros de altitude, produzindo azeites extravirgens de alta qualidade desde 2009, extraídos de azeitonas frescas colhidas manualmente e processadas na própria fazenda. Para saber mais sobre todo esse processo e muitas curiosidades sobre o azeite, há uma visita guiada pela propriedade.
O passeio é seguido de uma degustação, na qual você vai aprender a harmonizar diversos tipos de azeite com alimentos que vão muito além do simples pãozinho, e até mesmo fazer combinações inusitadas, que envolvem frutas e doces.
Para ampliar ainda mais a experiência do visitante na Oliq, em 2020 foi inaugurado um restaurante no local, no qual brilham os azeites e produtos regionais. Com ambientes aconchegantes e integrados aos pomares e jardins ao redor, funciona só para almoço.
O cardápio apresenta uma releitura contemporânea da cozinha caipira combinada à culinária do Mediterrâneo, com pratos sempre regados com os azeites da casa. Essa mistura aparece em receitas como o angu Mantiqueira, composto por polenta, fonduta de queijos, cogumelos e crisp de ora-pro-nóbis. Até algumas sobremesas levam azeite. É o caso do gelato artesanal Oliq de azeite e manjericão ou do doce intitulado “azeite, azeite e azeite”, que leva bolo, sorvete e tuile feitos de azeite. É necessário fazer reserva.
Um passeio pela São Bento cultural
Para quem decide explorar os bairros mais centrais da cidade, São Bento do Sapucaí reserva um interessante roteiro cultural, que revela muito de suas raízes e seus talentosos cidadãos. E três pontos que integram essa rota se tornaram alguns dos lugares mais fotografados da cidade. São as famosas capelas de mosaico, assinadas pelo artista Ângelo Augusto Milani. Seu trabalho com mosaico começou há cerca de 20 anos e sem grandes pretensões, mas caiu nas graças de moradores e visitantes.
Na Capela I, no centro, além do mosaico clássico, Milani usou uma miscelânea de peças quebradas e desgastadas, principalmente imagens de santos católicos, em uma proposta totalmente diferente de qualquer outra capela. O resultado foi uma explosão de cores e formas, onde uma mistura das mais diferentes composições foi capaz de criar uma singular harmonia.
Casa da Cultura Miguel Reale
Ainda no centro de São Bento, a Casa da Cultura Miguel Reale, instalada em um casarão do século XIX que foi residência do ilustre sambentista professor Miguel Reale, é um espaço coletivo de exposições temporárias, oficinas e eventos culturais.
Vale conhecer também o museu do Zé Pereira, que conta a história de uma manifestação cultural de Carnaval, o bloco do Zé Pereira. Os primeiros registros dessa tradição de São Bento datam do final do século XIX. O que caracteriza esses grupos carnavalescos são os bonecos gigantes, semelhantes aos de Olinda, que representam alguns personagens da própria cidade. O principal é o Zé Pereira, sempre vestido de paletó e cartola. E no museu você pode ver cada um dos bonecos de perto.
Bairro do Quilombo
Já no bairro do Quilombo, o Museu do Carro de Boi preserva outra antiga tradição local. Fica no sítio onde vivia o mestre carreiro Quim Costa, responsável por construir carros de boi com uma destreza ímpar. Além de ser uma homenagem póstuma e abrigar um rico acervo de carros de boi, ferramentas e maquinários construídos por ele, o museu vai além e ajuda a resgatar e exaltar a cultura rural da cidade.
Aliás, o bairro do Quilombo tem o seu próprio roteiro cultural. O Arte no Quilombo, por exemplo, é um espaço para admirar e, é claro, comprar os itens artesanais produzidos por um grupo de mais de 70 talentosos artesãos. Cada peça é criada com elementos encontrados na natureza, como palha de bananeira, madeira, argila e fibras, em um movimento de preservação da cultura quilombola remanescente.
Perto dali está o Ateliê Ditinho Joana. Natural de São Bento, Ditinho Joana abre as portas de seu ateliê para dividir a sua arte com o público. Com uma habilidade admirável, ele cria esculturas em madeira com um realismo impressionante, sendo sua marca registrada a escultura de uma botinha gasta, como as usadas pelos trabalhadores rurais.
Ditinho conta que a botinha é uma metáfora para a vida, na qual caminhamos por entre alegrias e decepções. Homem simples, mas de uma tremenda sabedoria, Ditinho está sempre aberto a um bom papo.
Pousada do Quilombo: conforto e natureza
Uma das hospedagens mais tradicionais de São Bento, a Pousada do Quilombo tem apenas 40 apartamentos dentro de uma área verde de 170 mil m², o que garante muita tranquilidade. Ali, a vista para a Pedra do Baú é acompanhada pelo canto de seriemas, tucanos e outros pássaros e pelo vai e vem do bambuzal. Além de quartos com lareira, varanda e cama king size, a pousada conta ainda com piscina, sauna, jacuzzi, ofurô, spa, sala de jogos, brinquedoteca, academia, quadra poliesportiva e espaço para eventos.
Já o café da manhã tem uma fartura de pães e bolos caseiros, queijos artesanais, geleias de frutas locais e muito mais. Hoje, a Pousada do quilombo funciona também como um complexo turístico aberto ao público externo e abriga ateliês de cerâmica e mosaico, o Museu da Revolução, trilha e tirolesa, além de ótimas opções gastronômicas. A principal é o Restaurante Trincheira, com uma cozinha rústica de montanha e amplo uso de ingredientes locais, em um ambiente que lembra uma casa da fazenda.
De entrada, vale pedir a burrata regada com azeite e pesto de tomate assado, ou então a linguiça flambada na cachaça com farofa de pinhão e trio de molhos, perfeita para dividir. O menu é bem variado, com sopas, fondue, carnes, risotos, massas e, é claro, truta.
Já no Dona Mariquinha Café, o aconchego está tanto no ambiente quanto nas delícias do cardápio. Há cafés de variados tipos e métodos de extração, uma carta de chás compostos por ingredientes cultivados ali perto, refeições leves (como caldinhos, sanduíches, ovos e até fondutta de queijo minas), salgados (como os palitos de pão de queijo) e doces imperdíveis (destaque para o bolo de fubá supercremoso e o bolinho de chuva assado), tudo feito na casa com um carinho que transparece.
Tesouros gastronômicos
Quando o assunto é gastronomia, São Bento do Sapucaí está muito bem servida. Um bom exemplo é a Montanha Bela vista, um dos mais novos empreendimentos da cidade, no bairro do Paiol Grande. O nome não poderia ser mais apropriado: por estar a 1.380 metros de altitude e para aproveitar bem a vista ao redor para a serra e a Pedra do Baú, a casa tem janelas de ponta a ponta e uma varanda que cerca todo o ambiente. A natureza parece abraçar o lugar, e o pôr do sol é imperdível.
O cardápio atende bem tanto um café da tarde quanto um jantar, com uma variedade de bebidas quentes e geladas, empanadas assadas na hora, toasts (como bruschettas em um pão italiano artesanal) e pizzas deliciosas, com uma massa leve de fermentação lenta. Vale e muito subir montanha acima só para provar a pizza de bacon caramelizado e a doce de banana caramelizada com chocolate branco.
Pizzaria Fiore
No centro de São Bento, a Pizzaria Fiore é o lugar certo para um bom papo e uma boa pizza. Desde a concepção do espaço, a ideia foi exaltar os produtos autênticos de São Bento e região. Isso fica bem evidente nas pizzas chamadas de Km Zero, as mais pedidas da casa, que levam molho de tomate San Marzano orgânico da Fazenda do Retiro, azeite Oliq e ingredientes frescos da região, como cogumelos da Quinta dos Cogumelos, queijos vendidos pelo Empório Caminhos dos Queijos e lombinho defumado de Quiririm.
Bar do Tião
Também no centro, o Bar do Tião é um dos points do agito em São Bento, principalmente às sextas e aos fins de semana, quando tem música ao vivo. As mesas ficam ao ar livre, em um ambiente bem descontraído, e o cardápio é daqueles que agradam a todos os gostos: hambúrgueres com batata frita, lanches muito bem recheados no pão francês e porções de bolinhos, mandioca frita, pastéis e outras delícias de boteco. Também tem drinks autorais.
Restaurante Sabor da Serra
Aberto diariamente, o Restaurante Sabor da Serra é um dos mais tradicionais da cidade, em um ambiente bem familiar. Instalado em um antigo casarão no centro, tem um menu bem democrático, com porções, carnes, peixes e massas. Do mesmo proprietário, o Café Sabor da Serra é ideal para um café da manhã, café da tarde ou refeição mais rápida. Vale experimentar as receitas mais regionais, como a broa de fubá na folha de bananeira assada na fornalha, o virado de banana e a pamonha doce recheada com queijo.
Empório Caminhos dos Queijos
Para finalizar o roteiro gastronômico, o Empório Caminhos dos Queijos é um projeto tocado pelo casal Anna e Brunno, que escolhem a dedo cada um dos queijos vendidos na loja. São mais de 20 tipos de queijos premiados e autorais de vários produtores pelo Brasil, principalmente da região da Mantiqueira e da Canastra, sempre exaltando o trabalho de pequenos produtores. A casa também vende outros produtos autênticos da região, como geleias, doces, embutidos, azeites e vinhos.
Por Patrícia Chemin – revista Qual Viagem