A Câmara dos Deputados é palco para a exposição Colagens de tempos, de autoria de três artistas visuais que trabalham a colagem digital para ressignificar a história, celebrar a identidade e questionar os silenciamentos da sociedade. A mostra permanece na Galeria Décimo, localizada no 10º andar do Anexo IV da Câmara, até 24 de outubro.
O conjunto de trabalhos individuais dialogam entre si em temas de questionamento: a brasiliense Akimi Watanabe convida o público a uma reflexão sobre a experiência feminina oriental e os desafios que enfrentam em um mundo marcado por desigualdades; o goiano João Ferré celebra a cultura afro-brasileira através de homenagens a heróis e heroínas da resistência; e o paulistano Rafael Guerra retrata a complexidade e beleza da metrópoles de São Paulo em fotografias.
Em 25 obras expostas, a artista Akimi Watanabe discorre sobre genótipos e fenótipos e questiona os padrões tradicionais de comportamento na série Silenciamentos Indomáveis. A mostra é resultado de um trabalho durante o período da pandemia, quando Akimi analisou pequenos detalhes que não recebiam tanta atenção normalmente: "Confinada com recursos limitados em casa, utilizei softwares de edição de imagem e bancos de dados on-line para criar minhas obras artísticas. Foi um escape e respiro mental do isolamento".
Foi a reflexão sobre as limitações que impedem as mulheres da igualdade que engatilhou Akimi a produzir as peças: "Em face às mazelas do mundo contemporâneo que impõem às minorias uma não liberdade, subverto essa construção de tanta violência ao materializar em minhas obras essa luta, ante um opressor intermitente". A liberdade conquistada pelas mulheres no século 21 incentiva a artista a continuar a produção artística.
Akimi, filha de imigrantes japoneses em Brasília, descreve sofrer com estereótipos de submissão e passividade atribuídos a mulheres orientais. A exposição é um espaço para a artista expressar o descontentamento com o patriarcado, a falta de liberdade e a marginalização de identidades. "Ao explorar representações tradicionais da mulher oriental e questionar os papéis de vulnerabilidade e submissão questiono essa realidade", provoca.
As obras de Akimi retratam a realidade de mulheres submetidas a jornadas exaustivas e responsabilidades excessivas, sem o devido reconhecimento. "Elas evidenciam a desigualdade no acesso ao conhecimento e as barreiras sociais que as limitam. Além disso, a figura masculina é frequentemente representada como uma ameaça constante, simbolizando a opressão e a violência", comenta. Akimi busca utilizar da memória e da identidade como ferramentas de combate ao silenciamento.
A análise crítica de Akimi convida o público a uma reflexão sobre a persistência de normas e padrões que limitam a expressão feminina. "Utilizando a imagem de mulheres orientais como metáfora, pretendo instigar um debate sobre a condição da mulher na contemporaneidade e a importância de desconstruir os estereótipos que a aprisionam", argumenta. Para Akimi, a arte é uma ferramenta poderosa de conscientização e debate para a transformação social.
Exposição Colagens de Tempos
Até 24 de outubro, de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h, na Galeria Décimo (10º andar do Anexo IV — Câmara dos Deputados). Entrada gratuita.
*Estagiária sob supervisão de Severino Francisco