LITERATURA

Fabrício Carpinejar lança novo livro para 'maiores de 40 anos'

Em entrevista ao Correio, poeta fala sobre amor, sexo, luto, tristeza e tempo, temas do livro Se eu soubesse — para maiores de 40 anos

Poeta, cronista e jornalista, Fabrício Carpinejar lança o livro Se eu soubesse — para maiores de 40 anos, no qual debate sobre temas polêmicos que permeiam a vida adulta. Amor, sexo, luto, tristeza e tempo são pautas abordadas pelo autor na reflexão de quatro décadas de vida. Confira a entrevista de Fabrício sobre a obra ao Correio:

O que te motivou a escrever um livro voltado especificamente para pessoas acima dos 40 anos?

Essa é a primeira geração, historicamente, a cuidar dos pais, dos filhos e dos netos ao mesmo tempo. Isso porque nossa longevidade aumentou, beira uns 80 anos. Eu concilio o cuidado dos filhos com o cuidado dos pais, ao mesmo tempo que presto atenção na carreira e amores. Sou de uma geração sobrecarregada, sem ter a quem pedir ajuda. É uma geração de uma natureza muito diferente da geração que sucedeu. Ela é analógica e virtual ao mesmo tempo, com vários mundos e tempos dentro de si. Também é a primeira geração que começou a fazer terapia e teve conhecimento de limite e equilíbrio. 

Seus livros alcançaram vendas próximas a 1 milhão de exemplares. O que acredita que faz suas obras ressoarem tanto com os leitores?

Eu quebro a ideia tradicional e trago a verdade especial. Por exemplo, falo sobre combater o amor romântico, a ideia do amor como sacrifício, renúncia e penúria. O 'somos um só e temos que fazer tudo juntos' são movimentos que anulam a individualidade. E quando se separa de uma pessoa, também acham que você está se separando do amor, o sentimento. Entenda que ela é essa pessoa, com uma identidade, temperamento e que existia antes de você. A liberdade precisa ser maior que o amor. Abordo também que o envelhecimento é uma escolha diária, uma construção. 

O envelhecimento é um tema central em seu novo livro. Como você percebe o impacto do tempo na forma como nos relacionamos, tanto com os outros quanto com nós mesmos?

Você começa a entender os seus pais porque entende o quanto que você é parecido com eles. Você não quer ter todos os amigos do mundo, você faz uma triagem das amizades e escolhe quem serão os seus fiéis escudeiros dali por diante. A maturidade é renunciar. Você já se conhece o bastante para saber o que te faz bem. Eu me sinto muito mais sozinho, mas muito mais confiante. Quero relações que me deem tranquilidade, não preciso provar o meu amor a todo momento. Ao envelhecer, seu manual de instruções pessoais é definido e você sabe que funciona de tal jeito. E a alegria de ir para a festa se compara com a alegria de voltar para a casa (risos). Também percebi que educamos os filhos para o mundo, e não para nós mesmos. Isso é doloroso, ver a criança se despedindo dos pais gradualmente. Mas é necessário.

Você foi uma testemunha das enchentes no Sul do Brasil. Como esse evento te afetou pessoalmente e em sua obra? Acredita que desastres ambientais estão se tornando um novo desafio emocional e social?

Não tem como não pensar na ecologia das emoções dentro de um ecossistema viável. Isso implica na nossa própria sobrevivência. É a qualidade do ar, da comida, do mundo e das relações, e o quanto desfrutamos dessas coisas sem destruí-las. Estamos nos dando conta que os recursos do planeta são finitos. E o que vamos deixar para os nossos filhos? Precisamos nos proteger. 

Você escreve sobre o amor de forma poética e filosófica. Como o amor muda ao longo da vida? E qual o papel do sexo nesses relacionamentos após os 40 anos?

É preciso que a liberdade seja maior do que o amor. A intimidade não é feita de um acaso, são afinidades acumuladas e ideias em comum. Eu destaco a importância intelectual e a comunicação. A base do amor é a amizade, o enamorado deve envolver todas as emoções. E o sexo é maravilhoso, mas ele não é mais predatório e quantitativo. É a celebração do amor e da gentileza com a parceria. As práticas silenciosas do respeito, da reverência e do cuidado são um aprendizado para com o outro. Parece que tudo que se faz antes dos 30 tem a ver com você, mas agora não somos mais o centro das atenções. A gerência do tempo é o que traz satisfações quando se tem tempo para as interações sociais. Mas a exclusividade nos leva à servidão e também temos que ter tempo individual. 

A dor e o luto aparecem em muitas de suas reflexões. Você acredita que curar a tristeza passa necessariamente por cuidar da tristeza do outro?

Ao perceber que o outro também faz parte da sua tristeza, o remédio da empatia se faz presente. Você vê o que você sente. Se você é viúvo, enxerga viúvas e viúvos por toda a parte. A dor cria um vínculo maior do que as circunstâncias. O luto não deve ser combatido, porque é saudade e amor. O que mais queremos é ser lembrados.

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