O Halloween, também conhecido como o "Dia das Bruxas", tem suas raízes em antigas tradições pagãs e, curiosamente, em rituais cristãos. A celebração como a conhecemos hoje é resultado de séculos de transformações culturais e religiosas, começando com os celtas, povo que habitava a Europa Ocidental entre 750 a.C. e 50 a.C., e se misturando à cristandade ao longo do tempo.
Para os celtas, o Samhain, celebrado na noite de 31 de outubro, marcava o fim da colheita e o início do inverno. Acreditava-se que, durante essa noite, a barreira entre o mundo dos vivos e o dos mortos enfraquecia, permitindo que as almas dos mortos e espíritos vagassem pela Terra. "Para evitar que esses espíritos causassem danos, os celtas deixavam comida e bebida fora de suas casas como oferenda", explica a historiadora Joelza Domingues. E aqueles que precisavam sair de casa nessa noite assustadora costumavam vestir roupas do avesso e carregar alho ou sal, na tentativa de se proteger dos fantasmas.
Com a expansão do Império Romano, os costumes celtas começaram a entrar em contato com as tradições cristãs. No entanto, a relação entre o paganismo celta e o cristianismo foi marcada por tensão e resistência. A Igreja, que passou a dominar a Europa após a oficialização do cristianismo no Império Romano no século IV, buscou suprimir as práticas pagãs, associando-as à adoração do diabo. Rituais como o Samhain foram duramente condenados, considerados uma afronta à fé cristã.
All Hallows’ Eve
Apesar das perseguições, a Igreja medieval adotou uma tática interessante: ao invés de simplesmente destruir os costumes pagãos, passou a incorporá-los. Isso levou à cristianização do Samhain, que foi gradualmente transformado no Dia de Todos os Santos, celebrado em 1º de novembro. A véspera desse dia, conhecida como "All Hallows' Eve", acabou evoluindo para o que hoje chamamos de Halloween.
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O Halloween moderno, com suas fantasias macabras e o famoso "doces ou travessuras", preserva muitos dos elementos das antigas celebrações celtas. Na Idade Média, por exemplo, pessoas se vestiam com panos e cobriam o rosto de fuligem para passarem despercebidas pelos espíritos malignos. Esse costume, incluindo o de visitar casas em busca de comida, foi o precursor da tradição atual de pedir doces.
Abóboras e Jack-o’-lantern
A famosa lanterna de abóbora, ou Jack-o'-lantern, também tem raízes irlandesas. Originalmente, as lanternas eram feitas de nabos e de beterrabas esculpidos, usados para afastar os maus espíritos. Com a imigração irlandesa para os Estados Unidos no século XIX, esses vegetais foram substituídos por abóboras, uma planta nativa da América.
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O Dia das Bruxas no Brasil
No Brasil, o Halloween é uma importação cultural mais recente, que ganhou força a partir da década de 1950, com a popularização do cinema norte-americano. Hoje, a data é celebrada em escolas, especialmente em cursos de idiomas, e se tornou uma oportunidade para o comércio lucrar com a venda de fantasias e de acessórios temáticos.
Embora o Halloween não tenha raízes profundas no Brasil, ele continua a conquistar espaço, especialmente entre as gerações mais jovens. Por influência do cinema, da televisão ou das redes sociais, a festa é um exemplo claro de como tradições antigas podem atravessar fronteiras e se adaptar a novos contextos, mantendo viva a essência de mistério e celebração que remonta aos tempos dos antigos celtas.
*Estagiária sob supervisão de Mariana Niederauer
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