Música

Festival Convida reúne talentos de Brasília em série de shows na Infinu

Capital recebe grandes músicos do país e do mundo para o Festival Convida na Infinu Comunidade Criativa

Brasília tem um calendário musical abarrotado, mas um evento permanece firme e forte no cargo de "diferentão" na programação cultural da cidade. O Festival Convida chega para mais um ano e promete oferecer shows de refinada qualidade, com uma diversidade musical ímpar no cenário da capital. Esta edição será na Infinu e começa neste domingo (22/9).

A lineup está abarrotada de nomes interessantes que vão desde talentos locais como 7naRoda, Gaivota Naves, Aloizo, Pratanes, Bebé e YPU, passam por figuras de profusão nacional como Terno Rei, Tuyo e Boogarins — que faz um show exclusivo de Clube da Esquina — e chega a nomes internacionais como os japoneses do Acid Mothers Temple e a cantora francesa Clair.

Essa lista de atrações foi pensada como celebração da diversidade musical contemporânea. "O Festival Convida é um evento que quer falar que a experiência real é a música. Nosso foco é a música 100%", diz Eli Moura, sócia e coordenadora geral do festival que acredita que a noção dessa experiência que destaca o festival na cena da cidade. "A experiência foi uma palavra muito banalizada nos últimos anos e passou a ser falada por todos para qualquer evento de entretenimento", reflete.

Tradicional em Brasília, o evento começou focado em música e diferença. "O Convida surge de entender que as pessoas têm os gostos diferentes, que a música é feita de uma pluralidade incrível, para a gente se deliciar, se envolver e conhecer coisas que talvez não pudesse escutar se estivéssemos apenas na nossa bolha de algoritmos", lembra o diretor-geral Fabio Pedroza. O organizador também pretende fazer mais para música com atividades formativas na chamada Rede Convida.

Quando surgiu, o festival levava o nome Móveis Convida e tinha uma ligação direta com a banda Móveis Coloniais de Acaju. Porém a ideia foi sempre juntar a diversidade musical em Brasília. "O projeto começou como Móveis Convida, e a banda sempre teve na essência a diversidade musical. Porque era de uma cena em que haviam artistas de vários gêneros que tocavam todos nos mesmos eventos", pontua Fabio. "Brasília tem o potencial de ser um grande ponto de encontro de culturas", complementa.

Eli Moura entende que é uma forma de mostrar a maior potencialidade da cidade para o Brasil, e trazer as maiores potências do país para a capital. "Brasília é feita de uma grande diversidade regional. Desde a construção, na década de 1960, brasileiros vieram de todos os lugares do país. As pessoas acham que somos neutros, mas na verdade somos a grande identidade dessa miscelânea", analisa.

Nesta lineup, um show especial se destaca. Donatinho comemora com o público da cidade os 90 anos que o pai, João Donato, faria em 2024. Ao Correio, o produtor musical e artista fala da emoção de dividir com os brasilienses, no dia 25 de setembro, essa homenagem a um dos nomes mais importantes da música brasileira, e detalha planos futuros.

Serviço

Festival Convida

A partir deste domingo (22/9) até 29 de setembro, na Infinu Comunidade Criativa (506 sul). Abertura dos portões às 17h30. O valor inicial dos ingressos é R$ 40 e o passaporte para todos os dias custa R$ 250 (meia). A programação completa do evento está disponível no @festival.convida do Instagram. Não recomendado para menores de 18 anos.

Entrevista // Donatinho

Qual a importância de estar em um festival com diversidade de gêneros musicais, gerações e intenções na capital?

A maior de todas! Donatão e eu somos reconhecidos por essa diversidade, além de eu ser o filho temporão com uma diferença de 50 anos em relação ao meu pai. João Donato foi precursor da bossa nova e também teve uma forte influência da música afro-cubana, do jazz e do pop e uma coisa muito legal de lembrar é que ele teve uma grande história de amor que começou em Brasília. Durante um show na capital, ele conheceu a jornalista Ivone Belém, se apaixonaram e ficaram juntos para sempre.

Como você enxerga o trabalho que tem feito de manter o legado do seu pai vivo?

É tudo muito natural. Eu acompanhei meu pai em shows e gravações desde pequeno e mesmo ele nunca tendo me ensinado a tocar piano na prática, só o fato de acompanhá-lo, vê-lo tocar, ouvir música com ele e ouvir os conselhos dele, foi como ter uma formação acadêmica praticamente. Meu primeiro show profissional foi com ele, aos 16 anos. Ele viu em mim um talento e me chamou para tocar. Além disso, tenho o mesmo nome e toco o mesmo instrumento, eu acabei acompanhando muito ele em palcos e gravações pelo mundo. Também fizemos um lindo disco em parceria, só de composições nossas, o Sintetizamor (2017) que venceu do Prêmio da Música Brasileira como melhor álbum do ano.

Na apresentação em homenagem aos 90 anos do seu pai você vai passear pela carreira dele. Como é o processo de transformar algo tão extenso quanto o trabalho do seu pai em uma performance concisa?

É impossível resumir a obra dele em um show de 1h ou 1h30. Tinha de ser uma série de televisão com vários capítulos (risos). A escolha do repertório foi baseada no que eu mais gosto dele e ao mesmo tempo o que eu gostaria de apresentar para o público. Ou seja, tem músicas muito conhecidas e tem também outras bem lado B. Eu quero reproduzir os arranjos originais das gravações antigas e ao mesmo tempo entregar um show super animado, respeitando a essência do Donatão, mas também colocando a minha identidade.

Você e seu pai têm interesses musicais distintos. Como é dar uma assinatura sua para o trabalho do seu pai?

Na verdade, a gente é até bem parecido nesse sentido. A gente sempre gostou das mesmas coisas, mesmas referências. Ele que me apresentou muita coisa que é referência até hoje na minha música. O que difere mesmo é a idade e, mesmo assim, a gente encurtou essa distância quando fizemos um disco todo com sintetizadores e beats eletrônicos, à época, ele com 83 anos e eu com 33. Parecia que tínhamos a mesma idade. Foi o projeto musical mais importante que fiz na vida. Eu fui o produtor musical desse disco e ele não discordou de nada, aprovou todas as ideias que eu sugeri. Foi, certamente, a maior prova de amor que meu pai me deu, por isso o disco se chama Sintetizamor.

Recentemente, você anunciou um álbum todo em homenagem ao seu pai. Como você transformou o luto em arte?

Na verdade, o disco não é em homenagem a ele, e sim mais um feito com ele. É a continuação do Sintetizamor. A estética é a mesma: sintetizadores analógicos, beats eletrônicos, canções pop-dançantes, só que agora a gente trouxe mais latinidade, o que é a cara dele. Esse é o último registro do Donatão tocando e cantando e além da gente o álbum conta com participações especialíssimas de: Russo Passapusso, Joyce e o Bluey, da banda inglesa Incognito. O nome não poderia ser outro: Sintetiza2.

 


Mais Lidas