Em celebração aos 72 anos de vida e de uma carreira marcada pela reflexão crítica, o poeta Salomão Sousa promove o evento de lançamento dos trabalhos recentes Certezas para as Madressilvas e Poesia e alteridade. Hoje, o Beirute da Asa Sul será palco para os lançamentos dos livros a partir das 18h30. As obras escritas a partir da inspiração do momento político e social do país representam momentos distintos, mas interligados, da produção literária do poeta.
Em Certezas para as Madressilvas, Salomão explora uma poesia visceral, nascida no calor da descrença e da crise que assola o mundo contemporâneo. Escritos em tempos de ódio e de isolamento, os poemas trazem à tona temas como a violência, a perda de identidade coletiva e a indiferença em relação à liberdade. O poeta argumenta que as palavras cruas e diretas dos textos não buscam a pacificação, mas o enfrentamento das crises que afligem o ser humano: "Foi um momento de desconforto, mas a poesia também traz esperança."
Na obra Poesia e alteridade, a reflexão de Salomão é ampliada ao abordar a desestruturação política e a urgência de um novo olhar para a convivência humana. O livro reúne 10 textos que discutem desde a compreensão da poesia até a crítica às organizações totalitárias. Salomão analisa grandes obras literárias, como Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa; e O castelo, de Kafka. "A alteridade é o caminho para que as pessoas resgatem o respeito mútuo e a cidadania num mundo fragmentado", afirma o poeta.
Salomão enxerga a poesia de forma complementar em tempos de crises sociais e políticas. Ambos os livros dialogam com os mesmos temas críticos. "A poesia não é um campo de atuação, ela existe para uma expressão participativa enquanto elemento psicológico na melhoria do indivíduo", ressalta. Ele reflete que a partir da expressão, a sociedade demonstra preocupação.
O processo criativo do poeta de transformar as emoções de desconformidade em arte partiu da necessidade de mostrar que as pessoas devem continuar a acreditar nos desejos pessoais: "Apesar de a esperança ser mínima, ela existe." A indigência da juventude também foi um fator de reflexão para com a atitude das pessoas com o mundo. "O contato essencial com a manifestações culturais têm ficado cada vez mais raro entre os jovens, que gera uma falta de senso crítico e educação", declara.
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Salomão acredita que, ao elevar o pensamento ao outro, o respeito e a cidadania são alcançados. Ações do cotidiano são abordadas com o intuito de mostrar como somos seres sociais e a empatia é necessária. "O dia a dia também pode ser belo e reflexivo. Escrever e ler são processos solitários, mas as lições após produção e leitura são sociais", defende o poeta.
Durante o evento, os leitores que adquirirem um dos livros participarão do sorteio de uma gravura original do artista Beto Nascimento, ilustrador da capa de uma das obras de Salomão. A noite promete ser de celebração, reflexão e resistência.
*Estagiária sob a supervisão de José Carlos Vieira