CINEMA

Filme sobre a vida de Silvio Santos chega aos cinemas

O filme que destaca a vida de Silvio Santos chega aos cinemas hoje. Rodrigo Faro, Johnnas Oliva e o diretor Marcelo Antunez conversaram com o Correio sobre a produção do longa metragem

A cinebiografia de um dos apresentadores mais amados do Brasil chega hoje aos cinemas. Com Rodrigo Faro interpretando o apresentador, a trama foca em contar a história de Senor Abravanel, e não o Silvio Santos da televisão, que é conhecido pelo Brasil. O maior foco do filme está no sequestro ocorrido em 2001. Patrícia Abravanel foi sequestrada por Fernando Dutra Pinto. Ela foi liberada após o pagamento de resgate. Mas uma semana depois, Fernando invade a casa de Silvio e o mantém refém por sete horas. 

Segundo o diretor Marcelo Antunez, o tema central da trama é a paternidade. Apesar de trazer as vitórias e derrotas do apresentador, a paternidade cerca a narrativa. Seja na relação ruim que tinha com as suas primeiras filhas ou na proteção do Fernando, Silvio carrega no filme uma energia paternal. “Quando eu li o roteiro, enxerguei claramente esse fio que ligava a história. A relação do Silvio com o próprio pai, as questões dele com a primeira família e a proteção de Fernando, mesmo na posição em que ele se encontrava mostra muito seu lado paternal”, comenta Marcelo.  

Fernando Dutra é interpretado por Johnnas Oliva. A produção foi iniciada em 2018 e teve algumas pausas e mudanças na equipe, mas Johnnas era uma decisão certeira. O ator conta que, para interpretar o personagem, fez pesquisas em notícias e livros mas, como um ator de método, decidiu viver algumas experiências que Fernando passou. "Fui em alguns cultos evangélicos, trabalhei em um mercado como empacotador de compras para sentir a invisibilidade que ele sentia, que causava uma grande frustração. Fernando só tinha 22 anos e queria vencer na vida, mas acabou escolhendo os meios errados”, comenta o ator. 

Silvio Santos faleceu menos de um mês antes da estreia do filme. A cinebiografia narra momentos da vida de Silvio como se ela estivesse passando diante de seus olhos.  “Em uma cena do filme, Silvio diz para Fernando que ele não pode morrer, por não ter resolvido algumas pendências, como ter o perdão de sua filha Cíntia. Quando recebi a notícia (da recente morte), fiquei pensando se ele conseguiu resolver tudo que desejava. É uma pena ele não ter assistido o filme, espero que a gente tenha conseguido contar a história dele da melhor maneira possível”, comenta o diretor. 

A pré-estreia do filme teve que ser adiada por conta da morte de Silvio Santos. O apresentador faleceu em 17 de agosto e a equipe decidiu postergar o evento, exibições para imprensa e entrevistas. Rodrigo Faro conversou com o Correio sobre a sua experiência interpretando o apresentador. 

ENTREVISTA / RODRIGO FARO 

Como foi o convite para interpretar o Silvio nos cinemas? 

O convite aconteceu em 2018. De início, eu realmente não queria aceitar porque era um desafio muito grande na altura da minha vida e da minha carreira, um desafio tão grande, voltar a ser ator depois de 15 anos parado, ainda mais fazendo um filme do Silvio Santos. Conversando com a minha esposa, ela falou: "Poxa, mas por que que você não ouve a opinião dele? Fala com o próprio Silvio, vê o que ele acha disso tudo". Eu tentei falar com Silvio e, para minha surpresa, ele me recebeu no camarim dele e ficamos conversando por uns 30 minutos. Ele falou que só iria responder para mim no palco. Ele me chamou no palco e fez aquele aquele texto em que ele diz que “ninguém melhor que você para fazer esse filme para viver a minha vida no cinema.” Eu me senti seguro para entrar nesse desafio, que é, sem dúvida nenhuma, o maior desafio profissional da minha carreira. 

Você sempre foi da Record mas teve essa conexão muito legal com o SBT. Você acha que isso tornou mais fácil a tarefa de interpretar o Silvio? 

Eu tenho respeito muito grande pelo SBT, já fui contratado do SBT. A minha relação com eles é incrível, eu adoro a família Abravanel, todas as meninas e a Dona Íris. Acaba ficando mais fácil quando você vai fazer um projeto que fala da vida de alguém que você ama, que você respeita, que é uma referência para você, é fácil, por um lado, mas é um desafio muito grande. É um comunicador vivendo a vida de outro muito maior, de um mito da televisão brasileira, acaba sendo uma uma responsabilidade muito grande. A minha relação com o SBT é maravilhosa, apesar de estar na Record. A gente sempre teve essa essa relação de carinho e de respeito. É minha casa também.

Como foi essa volta ao set, depois de muito tempo sem atuar? 

Na primeira conversa com o diretor, estava muito inseguro e preocupado. E ele me falou uma coisa que me deixou tranquilo: disse que, para esse filme, a preocupação e a insegurança era maravilhoso, porque meu papel era fazer um Silvio que ninguém conhece. O Silvio da televisão todo mundo conhece, todo mundo sabe imitar todo mundo sabe brincar, mas o filme não é uma caricatura. O fio condutor do longa é um momento em que Silvio está rendido por um sequestrador armado dentro da casa dele. O Silvio que eu tinha que interpretar estava com medo, inseguro, com medo de morrer e preocupado com a família. O olhar dele no início do filme é de medo. E aí que vem a genialidade dele, Silvio consegue, por meio da sua inteligência emocional, do seu poder de persuasão para sair da posição de coadjuvante e ser o dono daquela situação, justamente para salvar a vida dele e a vida do próprio sequestrador. Sai daquela cena como um super-herói de carne e osso.

Você interpreta o Silvio em vários momentos da vida dele. Como foi esse desafio?

É complicado porque são Silvios diferentes. A gente tem o Silvio alegre e feliz, o Silvio sonhador, tem o Silvio chateado com a Rede Globo, tem o Silvio empreendedor que transforma o Baú da Felicidade em grande sucesso. Mas a gente também tem o Silvio desesperado no momento da perda da sua primeira esposa, tem o Silvio tomando decisões certas e tomando decisões erradas. Acima de tudo, a gente tem um Silvio no meio de um sequestro, com um olhar diferente. Isso é desafiador, a gente buscou estudar muito e se preparar muito para poder fazer isso com a máxima verdade possível, sem deixar caricato. 

Você citou que ele te deu a benção no palco e eu queria saber das filhas dele. Elas tiveram alguma participação ou algum contato com você sobre o filme? 

Eu conheço a família, nos encontramos poucas vezes, mas sempre foi incrível. A filha com quem eu mais falo é a Dani Beyruti, que é uma amiga minha pessoal e eu liguei para ela quando o filme estava pronto. Eu falei: “Dani, eu queria fazer uma sessão para vocês, só para vocês. A Dani falou com as meninas e ela voltou dizendo que todo mundo queria ver, era só marcar. E na outra semana, o Silvio foi internado com H1N1 e ela falou que iríamos fazer a sessão assim que ele melhorasse. Mas ele acabou falecendo. Outra vez que foi muito especial também foi quando eu encontrei a Silvia Abravanel. Eu lembro que ela chegou em mim e disse: ”Oi, Silvio!” O meu carinho é recíproco e essa homenagem, que era para ser uma homenagem em vida, vai ficar agora para o cara que marcou a minha vida e a vida de milhões de brasileiros. 

Infelizmente, ele não conseguiu ver o filme. Como foi receber essa notícia do falecimento? Criou um peso maior de entregar um trabalho bonito sobre ele? 

Receber a notícia da passagem do Silvio foi muito difícil. A minha primeira reação foi de não acreditar, de demorar a cair a ficha, eu passei horas anestesiado sem saber o que fazer. Em meia hora, tinha centenas de veículos entrando em contato e equipes de reportagem na porta da minha casa e eu não sabia o que fazer. Acho que a melhor maneira de homenagear o Silvio é falar o que eu sinto por ele, o que ele representa para mim e o que ele representa para as pessoas. É óbvio que o filme agora está cercado de uma emoção, de um sentimento muito maior por conta de tudo que aconteceu, não era para ser assim. 

Quais são as expectativas para a recepção do público?

Eu espero que o filme surpreenda as pessoas, quero que toque no coração das pessoas. Cada brasileiro tem o seu Sílvio dentro do coração dentro da sua mente. É um filme que faz pensar, um filme que toca e espero que saiam do filme transformadas de alguma forma. 

Mais Lidas

Andre Cherri/ Divulgação - Johnnas Oliva interpreta Fernando Dutra Pinto, que o fez refém durante sete horas em 2001
Fotos: Andre Cherri/ Divulgação - Rodrigo Faro e Polliana Aleixo interpretando Silvio Santos e Patrícia Abravanel