TELEVISÃO

'Nostalgia e gratidão', diz Malvino Salvador sobre reprises às tarde

Malvino Salvador, 48 anos, está no ar em Cabocla (2004) e Alma gêmea (2005) nas tardes da TV Globo. Novelas foram as primeiras do ator de Manaus (AM), que comemora 20 anos de carreira e falou ao Correio sobre os destaques de sua carreira e o rótulo de galã

Desde a última segunda-feira, com a volta de Cabocla (2004) na Edição especial nas tardes da TV Globo, dividindo a grade com a reprise de Alma gêmea (2005) no Vale a pena ver de novo, uma coincidência veio à tona. No elenco de ambas novelas, em papeis de destaque nas tramas, o ator Malvino Salvador não somente marca presença em dose dupla no ar como também têm a oportunidade de rever os seus dois primeiros trabalhos na televisão.

Para o manaura de 48 anos, que comemora duas décadas de carreira no audiovisual, revisitar o peão Tobias e o cozinheiro Vitório é uma mistura de nostalgia e gratidão. "Naquela época, tudo era mágico, como se cada momento fosse uma grande descoberta", afirmou ao Correio.

Marcio Farias/Divulgação - Malvino Salvador, ator

Confira a entrevista:

Cabocla e Alma Gêmea, seus dois primeiros trabalhos na tevê, estão no ar novamente. Como é para você revisitar esse início de carreira?

É um sentimento muito especial, uma mistura de nostalgia e gratidão. Nostalgia daquela fase de inocência e descobertas, quando tudo era novidade. Quando a gente está começando e tem a sorte de ganhar personagens incríveis como o Tobias e o Vitório logo de cara! A sensação de realização é indescritível, é como um sonho acontecendo. E a gratidão vem porque essas novelas foram realmente decisivas na minha trajetória, elas abriram as portas para papéis importantes que vieram depois. Ver Cabocla e Alma Gêmea no ar de novo não só me traz lembranças maravilhosas, mas também uma felicidade enorme em saber que essas histórias ainda encantam o público até hoje.

Quais as maiores lembranças que você traz dessa época?

Ah, foram momentos realmente inesquecíveis! Quando você está começando, cada conquista é como ganhar na loteria. Eu era modelo em São Paulo, estava na batalha diária, e lembro dos primeiros testes para Cabocla. Foi ali que conheci o Eriberto Leão, a gente foi colocado numa ante-sala antes de fazer o teste e começamos a conversar. Mal sabia eu que aquela conversa seria o início de uma amizade que dura até hoje! E a emoção de receber a notícia de que tinha conseguido o papel? Eu estava no carro com alguns amigos, voltando de um teste em São Paulo, quando o Ricardo Waddington me ligou. Assim que desliguei, comecei a berrar de alegria! Outra coisa que me marcou muito foram os primeiros contatos com atores que eu só via na TV e admirava demais, e, de repente, eu estava trabalhando ao lado deles. São lembranças de um tempo em que a energia e a empolgação juvenil estavam a mil. Claro, hoje ainda me emociono com minhas conquistas, mas naquela época, tudo era mágico, como se cada momento fosse uma grande descoberta.

São 20 anos na televisão brasileira. Que balanço que você faz dessa jornada?

Eu jamais imaginaria que um dia seria ator e alcançaria a notoriedade que conquistei. Vindo de Manaus, isso era algo que parecia fora da minha realidade. Mas acredito que soube agarrar as oportunidades quando elas apareceram. Quando cheguei a São Paulo, não conhecia ninguém, e, em apenas seis meses, já estava participando de uma peça profissional. Vi aquilo como um sinal de que precisava me preparar e levar a sério essa nova possibilidade. E foi o que fiz. Quando as oportunidades surgiram, eu estava pronto para encará-las. Ao longo desses 20 anos, aprendi muito na prática. Cada personagem foi um novo desafio, e fui crescendo com cada erro e acerto. Hoje, me sinto um ator muito mais completo e seguro do meu trabalho. É uma jornada de constante aprendizado, mas olho para trás com muito orgulho e gratidão por tudo o que vivi e realizei.

Você é considerado um galã da nossa TV. Como foi para você no início e como é ainda hoje administrar esse rótulo? Sente algum tipo de peso ou cobrança agora que está chegando perto dos 50 anos?

Nunca tive problemas com esse rótulo de galã, não. Sempre levei isso numa boa. Acho que, ao longo da minha carreira, tive a sorte de interpretar personagens de perfis bem variados, o que me permitiu mostrar diferentes facetas como ator. Por exemplo, em Cabocla, fiz o Tobias, um peão apaixonado, rude e sonhador, numa trama bem dramática. Já em Alma gêmea, vivi o Vitório, um cozinheiro cheio de carisma, num papel que tinha uma pegada mais cômica. Eram personagens totalmente distintos em termos de narrativa, gênero e composição. Isso me deu a chance de ir além do rótulo de galã e explorar outras camadas. Quanto à idade, não sinto um peso ou cobrança especial. Me cuido, claro, mas acredito que o importante é continuar entregando trabalhos de qualidade, independente da faixa etária.

Entre tantos personagens machões e rústicos, o Walcyr Carrasco, com quem trabalhou em diversas produções, te entregou um homem bissexual. Como foi para você esse desafio?

O Walcyr sempre me presenteou com personagens incríveis! Devo muito da minha trajetória às apostas que ele fez comigo. Tenho imenso carinho e gratidão por ele! Fiz a minha primeira incursão no humor com o Vitório, depois meu primeiro vilão com o Camilo em O profeta (2006), interpretei um boxeador com o Régis em Sete pecados (2007), e meu primeiro protagonista foi o Gabriel, de Caras e bocas (2009). Mais tarde, fui o Bruno, protagonista de uma novela das nove, Amor à vida (2013). E aí veio o Agno, em A dona do pedaço (2019), um dos personagens mais complexos e desafiadores que já fiz, por se tratar de um homem bissexual. Eu realmente me preocupei em não cair na caricatura, em fazer um personagem autêntico e profundo. Para mim, como ator, essas oportunidades foram fundamentais para mostrar versatilidade e crescer na profissão.

Ser pai de meninas mudou, de alguma forma, a sua percepção das mulheres?

Na verdade, não, porque eu já fui criado num ambiente onde se acreditava que mulheres e homens têm os mesmos direitos. Minha mãe sempre foi uma mulher muito forte e batalhadora, e isso me influenciou bastante na forma de enxergar o respeito que as mulheres merecem. Cresci com uma irmã e várias primas, então desde cedo aprendi a lidar com as mulheres de forma respeitosa e igualitária. O que eu e a Kyra ensinamos para nossas filhas, e também para o nosso filho, é que não importa o gênero, todos devem ser fortes, buscar seus sonhos com determinação, e sempre tratar o próximo com respeito e dignidade. Isso é o que realmente importa e é o que espero para eles.

Com essa onda de remakes, existe algum personagem que você gostaria de interpretar?

Um dia, um colega ator me disse: “Não é o ator que escolhe os personagens, mas o personagem que escolhe o ator”. Isso me marcou e me ensinou a não criar grandes expectativas, a deixar as coisas fluírem. Se aparecer um personagem, o importante é mergulhar de cabeça e ver o que dá para extrair dele. Por outro lado, quando produzi minhas peças de teatro, como Mente mentira e Chuva constante, isso foi uma forma de direcionar a minha carreira e mostrar outras facetas minhas. Essas peças foram muito bem recebidas no cenário teatral brasileiro e me permitiram explorar nuances diferentes, que eu tinha vontade de apresentar ao público. Então, no final das contas, mais do que querer interpretar um personagem específico, o que me motiva é a oportunidade de trazer algo novo e desafiador para a minha trajetória.

Fora da Globo, você protagonizou a série chamada O negociador. Como você enxerga essa nova porta que o streaming está abrindo?

Eu sempre acredito que devemos usar o passado como referência, viver o presente com entusiasmo e estar abertos para as possibilidades do futuro. E é exatamente isso que o streaming representa para mim: uma oportunidade incrível. Não só para mim, mas principalmente para novos atores ou para aqueles que, por algum motivo, não encontravam espaço na TV tradicional. Com o streaming, mais gente pode trabalhar, explorar seu talento e ter a chance de brilhar. A concorrência é sempre saudável para o mercado, e o streaming veio para diversificar, trazendo novas histórias, novos formatos e atingindo públicos diferentes. O negociador me permitiu experimentar uma linguagem e um ritmo que fogem do que eu estava acostumado na TV aberta. Então, vejo o streaming não só como uma oportunidade para nós, atores, mas também como um meio de levar ao público conteúdos mais variados e inovadores.

Reprodução -
Marcio Farias/Divulgação -
Memória Globo -
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Paulo Belote/CB/D.A Press -

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