Abragames (Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Jogos de Digitais) criou a Brazil Games uma divisão em parceria com a ApexBrasil (Agência Brasileira de Exportação e Investimentos) para dar suporte aos desenvolvedores de jogos brasileiros independentes, direcionando eles tanto para eventos nacionais, internacionais, auxiliando na promoção dos jogos nacionais. O projeto já levou centenas de desenvolvedores a eventos de negócios voltados para o mundo dos games, como a Gamescon e mais recentemente até para a Tokyo Game Show, no Japão.
Em cima dessa ambição de ajudar a comunidade, a gerente da Brazil Games, Patrícia Sato, foi uma das idealizadoras do roadshow do projeto, que passou em três capitais do Brasil, Porto Alegre, Fortaleza e Brasília. O Correio conversou com a gerente do setor de games para entender como o projeto funciona e principalmente sobre sua visão com detalhes da indústria de jogos independentes do Brasil.
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Como você ingressou nesse mundo dos games e acabou parando na Brasil Games?
Tenho uma história bem longa de games assim no meu histórico, eu como qualquer outra pessoa sou muito nerd, só que desde pequena, eu gostava de criar jogos. A gente tinha trabalho de escola, eu era a criança esquisita que entregava um jogo para fazer um resumo de redação. Então, no momento que eu tava escolhendo a faculdade, minha mãe chegou para mim e falou: “por que você não vai fazer design de games?” e foi aí que começou a minha jornada de entender o que é indústria. Eu fui. Eu me formei em design de games. Tenho um bacharel. Exerci um tempo e na época que eu tava ingressando na indústria lá em 2014, por aí que eu me formei, a gente tava num cenário bem diferente do que ele é hoje, então é assim foi muito difícil no começo.
Percebi que muita das coisas, assim de mercado, eu não entendia porque aconteciam e daí em algum momento, eu topei com o pessoal da Abragames por conta de uma vaga que eles tinham para operacionalizar o projeto comprador Brazil games que eles faziam dentro do Big Festival, hoje Gamescom latam, né? Entrei, conheci o pessoal do festival, conheci o pessoal da Abragames e foi aí que tive a sacada, eu falei: “Ah, isso é indústria de games, entendi”, sabe? Porque foi a primeira vez que tive essa visão de macro. Por sorte, eles gostaram de mim e eu fui ficando, fui ficando e fui arrumando outras coisinhas para fazer e daí.
Há oito anos, eu tava prestando esse serviço de contratação internacional de feiras. Eu era a pessoa que no escopo do projeto Brazil Games fazia toda a parte aí de orquestração para uma delegação brasileira poder participar de um evento no exterior, desde tudo, desde contratar o chão até prestar uma mentoria aí para o pessoal poder viajar e é um escopo que foi crescendo, crescendo e daí a minha mentora, antiga gerente do projeto falou para mim: “Estou entrando no período de transição, gostaria que você fosse a próxima gerente” e estamos agora embarcando numa nova jornada muito divertida.
Como surgiu a ideia da Brazil Games e como ela apoia os desenvolvedores nacionais?
O projeto Brazil Games, na verdade, ele é um tipo de iniciativa que existe por conta da Apex Brasil, que é a Agência de Promoção de Exportações e Investimentos, então assim a APex Brasil atua, se eu não me engano, hoje em mais de 80 setores, então eles têm projeto de exportação de tudo, para feijões, para calçados, para segurança e tem nós, tem games e assim é legal porque a gente, games, é um mercado muito estranho, no melhor sentido possível, mas também no pior sentido possível que é muito difícil da gente explicar para qualquer outra pessoa que vem de fora da área é muito difícil, meio cultura, meio tecnologia uma coisa assim, né? E o Brazil Games, na verdade, ele nasceu com outro nome, ele chamava Brazilian Game Developers, o finado BGD, eu lembro, tenho uma camiseta até hoje.
Ele nasceu, na verdade, se eu não me engano, ele foi um piloto da dentro um programa da Softex que é a Associação de Desenvolvedores de Software, né, de tecnologia. Em 2013, a gente formalizou ele como projeto setorial e ainda como BGD, o que, na verdade, ela tem 12 anos, se você for ver, né? Contando piloto de fazer isso, e um projeto de exportação, ele não é mais é do que assim é uma parceria entre Apex Brasil e a entidade do setor que no caso de nós, é a Abragames. Apex provê recursos e a Abragames gerencia esses recursos para promover a exportação e a internacionalização das empresas daquele setor então assim um meio, é por meio das feiras internacionais, mas a gente também atua no âmbito de capacitação, atua no âmbito de impulsionamento de imagem, do mesmo jeito que a gente precisava às vezes pegar o Brasil e levar ele para o mundo, para o exterior. Às vezes a gente tem que pegar o mundo e trazer para o Brasil e dizer “Existe vida aqui, várias indústrias incríveis aqui”.
Como foi a experiência do roadshow?
Tá sendo muito legal, é uma ação que a gente há muito tempo quer executar, então a gente tá muito feliz que tá chegando nesse ponto, né? {…} Então é algo muito novo, muito desafiador, mas é legal porque a gente já tá fazendo a sessão, a gente primeiro foi para essas três primeiras cidades, a gente ainda tem um evento internacional para cumprir ainda neste ano, mas depois disso a gente quer voltar e pingar e fazer essas ações em outras cidades também outros estados, né? Essa é nossa intenção e há muito dessa escuta e de também de procurar o apoio, e mapear os Players que estão interessados e tenha boa vontade de entrar conosco nessa e tá sendo muito legal, porque é uma coisa que está sendo bem recebida, a gente tá tendo ótimas discussões.
Gosto muito de falar que às vezes não é de você ter aquela, imediatamente, as respostas que você tem para um problema, mas de vocês achar as perguntas que você deveria estar fazendo para resolver esse problema, eu acho que a gente tá achando respostas e perguntas muito boas, o que é essencial. Já estive em Porto Alegre antes, mas assim em Brasília é a primeira vez, e é muito legal ver como o cenário e o próprio ecossistema da cidade daqui moldou os desenvolvedores de Brasília, do mesmo jeito que em Porto Alegre você tem outra coisa completamente diferente e os desenvolvedores se organizam de outras formas e tem outras características outras visões. O que é muito bom para nós porque cada pessoa pega e aponta uma coisa que a gente nunca tinha pensado, então assim a gente teve discussões muito diferentes nos dois estados que levantaram coisas que não tínhamos pensado em cobrir antes.
Por que Brasília, Porto Alegre e Fortaleza foram as cidades escolhidas e qual é o diferencial da capital na indústria de games?
Assim foi para a gente ir pincelando, mas também foi muito da parte estratégica, algumas associações que já estão conversando conosco há mais tempo, né? Que é alguns territórios onde a gente já tem conversas, mas foi muito mais por parte de agenda.
E especialmente em Brasília, a gente tem uma presença muito forte da própria Apex Brasil que está instalada aqui, então foi bacana porque pude ter a presença do nosso gestor, ele é nosso grande apoiador lá, esse projeto vem muito de uma força dele, de uma vontade dele de querer investir no nosso setor e acreditar. A gente vai passar por muito mais lugares ainda, porque não é só uma cidade do Sul que vai dar todo âmbito do Sul assim como não é todo o Nordeste que vai estar todo comprimido ali dentro de Fortaleza, a gente tem certeza, por exemplo, que ali do lado em Recife, a gente vai ter outro ecossistema, que é completamente diferente. A gente está sempre disposto a conversar, ouvir, construir juntos e essa é a grande mensagem deste roadshow, no final de tudo, é isso que a gente tá pensando em fazer, é uma coisa muito desafiadora, mas a gente tem muita confiança de que vai dar certo.
Qual o maior diferencial para você, da indústria independente brasileira da gringa?
Olha, pensando aqui nos meus 8 anos de acompanhar as empresas brasileiras, eu diria que o que se destaca para mim, primeiro é a nossa culturalidade, tem coisas que saem do Brasil que são inacreditáveis para as pessoas e eu acho que isso é muito do nosso DNA, o brasileiro é expert de receber uma coisa e ele transformar em dele e evoluir a linguagem, então é uma coisa que eu acho fantástica. E não tô falando só dos jogos que a gente exporta, nossas Ips (Propriedade Intelectual) que a gente exporta cultura brasileira, a gente tem jogos fantásticos disso, de cabo a rabo do Brasil, você encontra jogos fantásticos sobre brasilidade, mas também tudo que a gente pega para criar uma conversa a gente sabe deixar um gostinho de Brasil.
O brasileiro é um povo ele se adapta muito bem, a gente tá muito acostumado naquele negócio do se vira nos 30, a gente tá acostumado a passar por vários tipos de dificuldade, a gente levanta e vai, é aquele negócio, eu tô vendo aqui em Brasília com a questão das queimadas, eu vi em Porto Alegre pelas enchentes que a gente passou, o nosso povo aguenta muito tranco e a gente vai se vira e faz melhor, e eu acho que isso é uma coisa que transmite também na garra do nosso setor da indústria de games. Eu acho que esse poder de adaptabilidade do brasileiro é uma coisa que reflete sempre.
Qual é o seu olhar para essa quantidade massiva de demissões que estão ocorrendo nas grandes empresas de jogos? O mercado internacional começará a apostar nos jogos mais independentes com essa abertura?
Essa é uma pergunta bem complexa, do meu ponto de vista pessoal, é duro a gente falar apostar nos Independentes quando a gente fala de história de videogame, os desenvolvedores independentes, de novo igual nós brasileiros, é sempre o Underdog (O vira-lata, o azarão) é o cara que ele tá lá apostando uma visão, mas eu diria que vejo já essa onda vindo de muito antes, esse crescimento do independente e da visão especial do jogo enquanto cultura, enquanto arte, crescendo há muito tempo já. {..} Eu diria que nós como indústria, e isso eu digo no mundo, nós estamos muito melhor em nós organizar e ver isso como negócio, eu acho que é por isso que o nosso projeto setorial tem crescido tanto.
A gente apresenta números no projeto setorial assim de crescimento que são absurdos é um crescimento absurdo de exportações de número de empresas, a gente começou no projeto há 12 anos atrás com 12 empresas, se eu não me engano, e hoje a gente tem 150 dentro do projeto e tem muito mais para a gente mapear, então é aquilo, às vezes a gente vê assim, “Mas tem mil estúdios no Brasil, Patrícia”, mas eles são todos pequenos.
Em 12 anos a gente já aumentou o número de pessoas internacionalizadas, isso é, estão já atuando no mercado internacional e obtendo sucesso e não sobrevivendo, mas assim crescendo lá, então assim isso é um crescimento muito grande, eu diria, não sobre exatamente, a gente esperar que se aposte na gente, mas eu diria que a gente tá fazendo um ótimo trabalho em se organizar para que a gente cresça. A indústria especialmente lá fora a gente vê né, eu tenho os meus colegas de outras associações do mundo, que a gente conversa e assim embora, a gente tenha às vezes as coisas que dói, é muito difícil você ver isso o que aconteceu, né? Após aí a pandemia e a gente teve colegas, né, que a gente viu, que estava com empresa há muito tempo, daqui a pouco acontece uma coisa, acabou de acontecer, né, agora com Annapurna mesmo, a gente acabou de ver uma nova notícia, embora isso seja muito triste, eu vejo também que tem uma intenção de não desistência dessas pessoas, de sempre melhorar e querer fazer alguma coisa melhor. Então é por isso que fico esperançosa.
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