PARCERIA

Lô Borges lança álbum com letras da poeta brasiliense Manuela Costa

Com uma parceria improvável, mas de muita qualidade, o cantor e compositor mineiro apresenta 12 faixas inéditas no álbum 'Tobogã'

Lô Borges lança música com participação de Fernanda Takai nesta sexta. -  (crédito: Divulgação)
Lô Borges lança música com participação de Fernanda Takai nesta sexta. - (crédito: Divulgação)

Nos tempos atuais em que no cenário da música popular brasileira há total predominância dos singles, gravar 12 canções inéditas é, no mínimo, um ato de ousadia. Partindo dessa premissa, Lô Borges acrescenta capítulo importantíssimo em sua trajetória discográfica, ao lançar o álbum Tobogã. Desde 2019, o cantor e compositor mineiro tem desenvolvido o saudável hábito de chegar ao mercado fonográfico com novos trabalhos. "Compor, fazer música é uma coisa imperiosa para mim. É como beber água", ressaltou Lô, mostrando que continua em forma aos 50 anos de carreira.

O processo criativo de Tobogã teve início em 2023, fruto de uma amizade a distância, sustentada por correspondência on-line — a distância — com a médica e poeta Manuela Costa, autora das letras. Na troca de e-mails, ele, de Belo Horizonte, enviava as melodias, e ela, de Brasília, escrevia as letras. Concluído sem a presença física dos dois, mas em encontros virtuais motivados pela sintonia criativa, Tobogã recebeu mesmo nome do livro de memórias que Salomão Borges, pai de Lô, lançou em 1987.

"Eu sou de Brasília, mas meus pais são mineiros e meu coração também. Cresci ouvindo a música de Lô Borges em casa; assim como os Beatles, buscando referências e influências, querendo me aproximar da música do Lô. O processo de parceria com ele foi natural e totalmente intuitivo, apesar de nunca ter escrito antes letras para música", conta Manuela. "Eu sempre escrevi poesia, e há algum tempo, passei a criar alguns versos cantados e algumas canções, bem simples, no violão. Apesar de nunca ter feito letra para música antes", acrescenta. No dia 28 de setembro, Lô Borges estará ao lado de Beto Guedes apresentando o show inédito 50 anos da música de Minas, no Centro de Convenções Ulysses. 

Para Manuela, o processo com o Lô foi natural. "Eu brincava que ele compunha em marcianês e que eu era apenas uma tradutora. Acredito que as traduções foram fiéis porque, como fã, eu coloquei nelas todo o meu amor, o meu respeito e a minha gratidão pela obra dele".

Escolhido pelo cantor, um núcleo central ficou responsável pela produção do disco e trabalhou com autonomia no sound design do álbum (instrumentação, sonoridades e texturas finais dos arranjos). Há as participações das cantora Fernanda Takai, vocalista da banda Pato Fu, nas faixas Tobogã e Amor real; e de Manuela Costa em Pouso da manhã. Sozinho, Lô interpreta, entre outras, Minas e Marte, Na curva de um rio, Poema secreto, Presente, Teia e Vou ventando pra você.

Lô Borges lança música com participação de Fernanda Takai nesta sexta.
Lô Borges lança música com participação de Fernanda Takai nesta sexta. (foto: Fotos: Divulgação)

ENTREVISTA / Lô Borges 

Por que decidiu estabelecer parceria com a médica Manuela Costa? Dar nome de Tobogã ao disco é uma homenagem ao seu pai, Salomão Borges, que lançou o livro de memórias com título homônimo?

Manuela é uma médica-pediatra muito dedicada, que trabalha em hospital público, no Paranoá. Esta é sua ocupação principal. Mas é também uma poetisa bem talentosa. Nos conhecemos em 2005, quando ela veio a Belo Horizonte, como quase todos os fãs do Clube da Esquina, do Brasil e do mundo, bateu na casa dos meu pais, no Bairro de Santa Teresa, sendo recebida pelo meu pai, Salomão. Naquela ocasião, ele a presenteou com um exemplar do livro de memórias dele, intitulado Tobogã. Em 2008, nos encontramos numa tarde de autógrafos em Brasília, de um disco que estava lançando naquela altura. Daí, a Manuela começou a me enviar por e-mail os poemas que ela escrevia. Gostei muito de alguns e, em 2023, eu propus inverter o processo e enviei uma música para ela escrever uma letra. Ela topou o desafio. Fizemos a primeira, a segunda, a terceira e, quando vimos, nos tornamos parceiros em 12 músicas. E mesmo que a escrita da Manuela seja bastante original, ela usou em algumas letras deste álbum referências do que meu pai escreveu no livro. Então não deixa de ser uma homenagem ao meu pai.

Em que período as novas canções foram compostas?

No período de 2023 e 2024.

Em tempo de single, por que decidiu lançar um álbum com 12 faixas?

Porque, no meu livre-arbítrio, eu sigo investindo na ideia de lançar álbuns em que as canções contam juntas uma estória e que se relacionam entre si. Mas respeito aqueles que querem lançar um single ou outro, o que é uma forte tendência hoje na indústria da música. Respeito, mas ainda prefiro o álbum.

Ainda tem os Beatles como referência?

Sim, claro! Este álbum mesmo, diferentemente dos meus anteriores, tem uma pegada meio Beatles. Tanto eu quanto a Manuela somos dois beatlemaníacos de gerações diferentes.

Vocês juntam as vozes em quantas e quais músicas?

Amor Real; e a Manuela, a letrista desse disco, participa da faixa Pouso da manhã, que foi a primeira que compusemos. São três participações no total.

Incluirá músicas do Tobogã no roteiro do show da turnê que vem fazendo com Beto Guedes?

Sim, com certeza! Em São Paulo, eu já toquei a música Tobogã, que tinha acabado de ser lançada como faixa de trabalho. E no show que farei com o Beto Guedes em Brasília, no dia 28, ela também estará no repertório. E quem sabe mais uma do disco, agora que ele foi lançado completo.

Como tem sido dividir o palco com um companheiro de geração?

Tem sido muito legal! Eu e o Beto nos conhecemos desde os 10 anos de idade. Aos 12, formamos um "conjunto", The Beavers, que tocava covers dos Beatles, nas matinês de BH. E quando Milton me convidou para mudar para o Rio, para gravarmos o álbum Clube da Esquina (1972), já que tínhamos duas músicas chamadas Clube da Esquina, e ele havia gravado minha primeira composição Para Lennon & McCartney, eu disse: "Olha Bituca, eu vou se puder levar o Beto comigo". E assim foi. Primeiro moramos juntos numa casa na enseada de Mar Azul, em Piratininga, Niterói, onde compusemos várias músicas do Clube. E quando fomos para o Rio, gravar o disco no estúdio da Odeon, o Beto também seguiu com a gente, já que ele conhecia todo o repertório que seria gravado. Dessa maneira, o Beto contribuiu enormemente na feitura do Clube da Esquina, em que ele tocou em quase todas as faixas e cantou em duas.

Qual foi a importância de Milton Nascimento em sua decisão de se dedicar à música?

Milton e Beatles foram fundamentais na minha decisão de ser compositor e também de eu ter uma carreira como artista, que vai pra estrada, forma o seu público, grava e lança seus discos. Foi ele quem gravou as minhas primeiras composições e depois me levou pro Rio para fazermos o Clube da Esquina. Inclusive o Bituca teve que brigar na gravadora para que ela concordasse que eu, um ilustre desconhecido, fosse coautor desse álbum. Então Bituca é mais que um mestre para mim. Bituca é meu irmão. E o resto é a história que conhecemos. Desde então exerço este ofício, aliás, continuo compondo, gravando e lançando discos, me apresentando em shows pelo país, até hoje, 50 anos depois do nosso Clube da Esquina. 

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postado em 15/09/2024 06:00 / atualizado em 18/09/2024 17:27
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