O texto da peça Prima facie, da autora australiana Suzie Miller, acabava de ser vendido a um produtor brasileiro quando a atriz Débora Falabella escolheu o monólogo como próximo projeto. "Por coincidência, os produtores que tinham comprado entraram em contato comigo, então as coisas se encaixaram", conta Débora, que também é produtora e desembarca hoje em Brasília para encenar a peça no Teatro Unip.
No palco, a atriz vive Tessa, uma advogada de defesa criminal bem-sucedida, de família humilde e apaixonada pelo trabalho. Tessa não faz distinção de casos, trabalha num grande escritório e tem a lei como norte, inclusive para defender eventuais culpados de crimes. A personagem não tem dúvidas sobre o sistema legal e sua aplicabilidade até sofrer, ela mesma, com um ato de violência. Tessa passa então a questionar todo o sistema. "Ela teve que lidar com diversos casos de violência sexual defendendo homens e tem uma visão de como o advogado tem que agir muito voltada para esse sistema de leis, que foi onde ela aprendeu. Então acontece com ela um caso de violência sexual e ela se vê do outro lado", conta Débora.
No segundo ato da peça, Tessa entra na justiça como uma vítima e acaba julgada por estar denunciando um caso que ela mesma sofreu. O texto mergulha então em como a personagem vai lidar com o sistema que sempre seguiu e defendeu. "Dramaturgicamente, é um texto muito bom. É o segundo espetáculo que monto em que falo sobre violência contra a mulher. É um tema que me interessa tanto dramaturgicamente, quanto em relação à importância do que o texto diz", explica a atriz, que também nunca havia feito um monólogo antes.
Peça de sucesso na Broadway (Nova York) e em West End (Londres), com a atriz Jodie Comer (de Killing Eve) no papel de Tessa, Prima facie foi transformada em romance pela autora no ano passado. A versão filmada da peça se tornou praticamente obrigatória entre estudantes de direito da Inglaterra. "É um texto que impacta o público, mas também chega aos juristas, aos formandos, às pessoas que estudam direito", avalia Débora, que foi vista no palco, no Rio de Janeiro, pela procuradora Raquel Dodge e participa hoje de debate com a ministra Cármen Lúcia e com o ex-ministro Carlos Ayres Britto, do Supremo Tribunal Federal (STF). A diretora da peça, Yara de Novaes, também estará no encontro após o espetáculo.
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Um dos pontos mais interessantes de Prima facie é acompanhar como Tessa se dá conta do quão forte é a presença masculina até mesmo numa estrutura que tem, entre seus valores, o tratamento equilibrado e a igualdade para todos. "Hoje a escola de direito tem uma maneira de falar de casos femininos de uma forma diferente, mas era sempre tudo muito masculino em decorrência de leis que foram criadas por homens", diz a atriz. "São poucas as leis e elas são muito eficientes, mas o sistema jurídico foi criado por homens. É muito importante ter uma peça que reflita sobre isso a partir do ponto de vista de uma personagem. Quando você vê uma pessoa através de uma personagem, é muito poderoso."
Prima Facie
Texto de Suzie Miller. Com Débora Falabella. Direção: Yara de Novaes. Hoje e amanhã, às 20h, no Teatro Unip (SGAS 913 Conjunto B). Ingressos: R$ 20 a R$ 150, no Sympla. Hoje, após a sessão, haverá debate com Cármen Lúcia, Ayres Britto e Raquel Dodge.