Após viver Ronaldo Monteiro, um jardineiro ambicioso e mulherengo em Amor Perfeito (2023), Breno De Fillipo marca presença em dois trabalhos diferentes no streaming, porém com personagens bem parecidos. Na segunda temporada da série Dom (Amazon Prime), ele dá dando vida ao carcereiro Josias, que domina as regras da prisão e se torna um problema na vida do protagonista vivido por Gabriel Leone. Já em O jogo que mudou a história, da Globoplay, produzida pelo Afroreggae e Paranoid, o ator de 46 anos interpreta Xavier, o mateiro chefe da carceragem.
Sobre a coincidência, Breno admite que o mercado tende a colocar o ator em um lugar confortável para ele, mas, o phisique du rôle ainda é muito levado em consideração. "Estamos falando de identificação, vai pender pela maioria. As exceções são menos trabalhadas. Hoje, vemos uma tendência maior de quebra desses estereótipos. Porém, por mais que eu queira, eu tenho características físicas que me levam a cumprir papéis mais fortes, mais brutos. Polícia, bandido, vilão... O ideal seria não ficarmos em uma única prateleira, mas não é fácil. O ideal é encontrar mesmo com as semelhanças dos temas, as diferenças das personagens", afirmou o artista mineiro ao Correio.
Para ele, a diferença estará diretamente relacionada à construção, à pesquisa, à época, ao que pede a obra. "O arco dramático da personagem também terá um grande valor. Em caso de obra fechada, mais fácil de se criar um desenho. Na obra aberta (novela), isso já é mais volátil. Mas foram os personagens brutos que me abriram portas para os voos mais altos e, consequentemente, novas possibilidades", acrescenta Breno, citando o personagem Gelson, que está na primeira temporada da série Galera FC, já em exibição na HBO Max, e com a segunda temporada em produção.
Embora Galera FC tenha a mesma temática que O jogo que mudou a história — o mundo do futebol —, os personagens são diferentes. "Gelson é um jogador de futebol abandonando as chuteiras e não tem nada de bruto, de agressivo. Ele é um personagem leve, irreverente e irresponsável", explica. E assinala: "O mercado audiovisual ainda é moldado pelas aparências. Eu venho dessa época. Agora que estamos vivenciando uma transição de quebra de paradigmas, de quebra de estereótipos. Mas, mesmo assim, tenho consciência que, de 10 personagens, sete serão atrelados ao meu estereótipo".
O jogo que mudou a história de Breno
Breno declara que sempre faz laboratórios intensos para os personagens. "Tento me entranhar o máximo possível no universo proposto. Para o Xavier e o Josias, frequentei presídios, delegacias, convivi intensamente com carcereiros e policiais, foi bem prático meu treinamento, aprendi manusear armas, jargões, termos. Fiquei meses dentro de um presídio. Porém, como me formei em direito não é um universo distante. Trabalhei em delegacia, no MP, fui em presídios prestar assistência jurídica gratuita muitas vezes", enumera o ator, que abandonou a carreira jurídica para investir nas artes aos 26 anos de idade.
Há 21 anos, Breno vivenciou a centelha que mudou a sua vida. Em 2003, o advogado mineiro foi convidado para as entrevistas do seleção para o Big Brother Brasil (BBB) 3, passou por todas as etapas, mas ficou na última peneira. Três meses depois, ele foi convidado para participar de um programa que se chamaria O jogo, um reality show exibido pela Globo no mesmo ano. "Foi a primeira vez que 'o jogo mudou minha história', né?", diverte-se o ator, que participou do programa, que era uma mistura de reality com filme, em que os participantes tinham que desvendar um assassinato, com apresentação de Zeca Camargo e direção de Boninho. "Fui o finalista do reality e durante todo o programa não recebi nenhum voto, de nenhum colega", gaba-se.
A partir dali, Breno decidiu investir na carreira artística. E não se arrepende de ter mudado o curso profissional. "O direito ajuda na vida, ter feito direito me ensinou a ler, e uma das coisas que mais alimenta nossa arte é a leitura. A interpretação do texto está diretamente relacionada a interpretação cênica, sem ela nada acontece. Também aprendi a escrever e me ajuda muito. Nunca me arrependi de ter feito direito, menos ainda de trocá-lo pela arte. Tudo tem o seu porque e cada um tem sua história, a minha precisa passar por esses lugares, acredito que nada é em vão e que tudo é aprendizado. Tudo é vivência", conclui.
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