Em 2015, um jovem enxergava o mundo adulto pela primeira vez e sentia muita raiva. Para descontar essa raiva, ele decidiu fazer uma página de memes na internet. O assunto era o que mais consumia: o rap. Desse movimento, VN fundava o Rap, Falando, uma página no X (antigo Twitter) e Instagram que começou a lidar com o mundo do hip-hop de forma leve e divertida. Quase 10 anos depois, a página já subiu vários degraus de importância e faz o primeiro lançamento artístico, a mixtape Músicas para sair na mão vol.1.
O projeto capitaneado por VN, mas correalizado por uma equipe formada por Júlia Reis, Annavi, 808 Luke e niLL, é uma ideia que surgiu do raivoso Rap, Falando em 2017. “Quase entrando na fase adulta, com 18 ou 19 anos, eu era um moleque meio revoltado com as tretas cotidianas. Eu tinha isso, esse ódio dentro de mim e gastava ele fazendo os memes”, afirma VN em entrevista ao Correio. Ele lembra que a piada surgiu como uma proposta no Twitter: “por que a gente não cria um Tinder para sair na mão?”.
O que era brincadeira, virou playlist. VN separou 10 músicas do rap brasileiro que julgava ideiais para ser trilha sonora de uma briga. A playlist foi sendo atualizada até que o produtor 808 Luke e o rapper niLL começaram a colaborar com a página. Com dois nomes fortes na cena do hip-hop brasileiro, o meme pôde virar projeto e ser desenvolvido de forma séria, mesmo com a pouca experiência de VN na época. “Se me perguntassem, quando eu pensei em fazer uma mixtape, o que era registrar uma música, eu ia falar: ‘mano, o que você tá falando’”, brinca.
Aos poucos a ideia foi saindo do papel e grandes artistas se juntaram à empreitada. “É uma coisa que foi muito natural, foi acontecendo. Todas as pessoas que eu encontrei nesse caminho e falei sobre a mixtape conseguiam visualizar o que eu estava falando, elas conseguiam enxergar e elas conseguiam confiar”, avalia o idealizador.
A piada virou sonho realizado. Afinal, uma página de memes conseguiu juntar 808 Luke,
Rincon Sapiência, Clara Lima, Victor Xamã, Cab, MC Luanna, Tasha & Tracie, Ronald Rios, Rashid, Rodrigo Ogi, Coruja BC1, Jamés Ventura, Monna Brutal, Sant, Don L, Froid, Bl4ck, Fleezus, Aka AFK, Aurea Semiséria, Bruno Kroz, Enygma, Scarlett Wolff, Jovem Sam, Nikito Labrae, Sos, Kyan, MC Binn, Dalsin, Jovem MK, mu540, Nic Dias, Zudizilla, Fúria, Dudz, Bivolt, X Sem Peita, Luccas Carlos, Maui e niLL em um só disco.
Em 15 faixas e 47 minutos, os vários artistas fazem uma trilha sonora, dessa vez “oficial”, com as rimas que acreditam sonorizar uma boa troca de socos. O famoso “sair na mão sem perder a amizade” ganha letras e flows. A raiva é finalmente transformada em arte. “É uma coisa que eu tô processando ainda, pra ser bem sincero”, comemora incrédulo o fundador do Rap, Falando. “Olha quanta gente a gente conseguiu movimentar, olha quantas pessoas estão gostando, quantas pessoas estão engajadas nisso”, exalta.
Hora de falar sério
Agora que o Rap, Falando tem até mixtape lançada, é hora de pensar no futuro. Outros volumes com mais rappers rimando músicas de briga estão no horizonte. Contudo, VN imagina um futuro em que a página se torne algo mais. “Quero que se torne um hub criativo”, almeja. “ Sendo só uma página a gente não vai conseguir mudar muita coisa”, complementa.
O agora artista quer abrir as portas para espaços que ele mesmo construiu e, quem sabe em breve, ser uma figura importante no contexto do hip-hop brasileiro. “Quero trazer profissionais, principalmente pessoas pretas, para trabalhar com a gente e serem reconhecidas por isso. Quero conseguir propor coisas novas”, explica VN, que quer ser um agregador de pessoas interessadas em rap. “Eu não quero rivalidade, eu não quero nada disso. Pelo contrário, se eu puder ajudar nisso também de alguma maneira, se eu puder contribuir estarei aqui”, completa.