Prestes a completar 50 anos de vida, em 2025, Danton Mello também comemora um marco importante: no ano que vem, o ator celebra 40 anos de carreira. Ter sido praticamente criado nos sets da TV Globo faz do artista uma figura representativa dentro da teledramaturgia brasileira. Afinal, desde a estreia em A gata comeu, ainda criança, ele esteve presente em alguns dos principais clássicos da história da televisão. Além da obra icônica de Ivani Ribeiro, de 1985, o mineiro de Passos atuou em novelas memoráveis como Vale tudo (1988), Tieta (1989), A viagem (1994), Terra nostra (1999), Sinhá Moça (2006) e Caminho das Índias (2009). Ele também tem no currículo a minissérie Hilda Furacão (1998) e foi o primeiro protagonista de Malhação (1995), que, também no próximo ano, completa 30 anos de sua estreia.
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"Tenho muito orgulho de ter feito parte dessa novela e da história da dramaturgia brasileira. Olhando para trás, eu tenho muito orgulho da história que eu construí, dos trabalhos que eu fiz, de tanta gente incrível com quem convivi, que me acolheu, que me ensinou, que me ajudou. Essa foi a minha escola. Eu comecei muito pequeno, eu não estudei, não venho de uma escola de teatro, uma faculdade, a minha escola foi a vida profissional, e os meus professores foram todos esses grandes artistas do nosso país", afirmou Danton em conversa com o Correio.
O artista defendeu que o ator é um grande observador, ele está sempre observando tudo e a cada trabalho aprendendo. "Acho que o nosso trabalho é um trabalho de troca, de muita sensibilidade, e a gente aprende com todo mundo", argumentou Danton, que estará no ar na próxima novela das 18h da Globo, Garota do momento, e na reprise do sucesso Cabocla, de 2004.
Sensibilidade na telinha
O trabalho mais recente do ator é a série antológica Justiça 2, em que interpretou Abílio, protagonista de uma das quatro histórias que se entrelaçam. Na trama, ele vive um servidor público viúvo e pacato que se vê diante da morte do filho traficante de drogas (Filipe Bragança). Pai de duas moças, Danton Mello precisou mergulhar na dor de um pai diante dessa tragédia familiar, e admite que foi uma preparação muito intensa. "Eu sou muito próximo das minhas filhas, e acabo trazendo, para os meus personagens que vivem a paternidade, as minhas histórias, minha relação com elas. Sem dúvida, a maior dor que um pai pode passar é a perda do seu filho, e o Abílio vive essa desgraça, de perder a mulher, ser um viúvo, ter uma relação difícil com o filho e acabar perdendo-o também. Foi muito dolorido e intenso", declarou o irmão mais novo de Selton Mello.
Na série, Danton protagoniza com a estreante no audiovisual Belize Pombal um dos momentos mais líricos da produção, que é o encontro de duas almas sofridas que se culpam, ao mesmo tempo em que se acolhem. A atriz paulista interpreta Geíza, uma mulher trabalhadora e pobre que mata o filho de Abílio em legítima defesa, passa sete anos na prisão e sai disposta a refazer sua vida, mas encontra a filha única (Gi Fernandes) envolvida em um esquema de corrupção no qual foi inserida por intermédio do servidor público defendido pelo ator. Ao longo da narrativa, a jovem é assassinada e, sentindo-se culpado, Abílio se aproxima afetivamente da mãe da moça e assassina do seu único filho.
"Foi um encontro incrível com a Belize. Eu acho linda a história deles, de duas pessoas que têm a maior perda da vida, eram para se odiar e, de repente, têm essa aproximação. Era o casal mais inusitado dessa temporada, duas pessoas que tiveram uma vida dura, com perdas gigantes, e, de repente, eles encontram o amor na dor. Foi um trabalho lindo, e eu fiquei muito feliz com o resultado, uma grande parceria", contou Danton.
Gravada em Brasília, Justiça 2 promoveu o reencontro do mineiro com a capital do país. Em 1996, ele atuou em um curta do cineasta brasiliense Erik de Castro e esteve outras vezes fazendo alguns trabalhos, inclusive, no teatro. "Confesso que tinha ido pouco na cidade, mas sempre tive um encantamento, por ser a nossa capital e ser uma cidade tão importante, além de muito bonita e cinematográfica. O Gustavo Fernández, nosso diretor, falou muito sobre isso, que ele sempre teve muita vontade de filmar Brasília. Então, não era uma relação de muito conhecimento com a cidade, mas sempre a achei muito bonita, arquitetônica, e eu acho que ficou incrível Justiça 2 ter se passado aí. Brasília está linda na nossa série", elogiou o ator.
Outras plataformas
A segunda parte da antologia criada por Manuela Dias foi o primeiro trabalho de Danton nos Estúdios Globo após o fim do contrato de uma vida toda com a emissora. Esse rompimento, porém, ocorrido logo após a sua participação na novela Um lugar ao sol (2021), não o impediu de fazer um novo projeto na casa — via Globoplay — e vários outros fora. Para o artista, a nova fase tem sido muito positiva. Ele contou que já estava pensando nesse movimento de entender o mercado e tudo que está acontecendo, com novas plataformas e novos players. "Eu tinha muita vontade de me arriscar, mas, ao mesmo tempo, era muito apegado à história que eu criei dentro dessa empresa incrível, então eu tinha bastante receio de como seria isso. Depois que a gente finalizou o contrato, fiz muitos trabalhos fora, então, acho que, hoje em dia, nós temos muitas opções, o mercado está muito aquecido. E claro, o mais importante, o público tem muita opção. Pode escolher o que assistir, quando assistir e onde assistir", defendeu ele, que, ao longo das quatro décadas de carreira, também havia atuado em produções da Manchete e do SBT.
Um dos trabalhos recentes feito fora da Globo foi o recém-lançado filme Apaixonada, da cineasta Natalia Warth, na Netflix, protagonizado por ele, Giovanna Antonelli, Rodrigo Simas e Raysa Bratillieri. Comédia romântica que reforça o empoderamento feminino, a história gira em torno de uma mulher que se apaixona novamente após se divorciar, aos 40 anos. Para Danton Mello, é um movimento importantíssimo. "Eu sou pai de duas mulheres, e tudo o que eu quero é que elas tenham espaço e direitos iguais, seja na profissão, em salário e tudo. A gente vive realmente numa sociedade machista, patriarcal, então o movimento é muito importante. E é um filme que fala sobre empoderamento feminino, que mostra que a mulher pode ser feliz em qualquer idade. Um filme que mostra que a mulher é dona de si mesma e tem que ser feliz", argumentou.
Maturidade
Geminiano, Danton acabou de completar 49 anos, então, como ele próprio salientou, já está vivendo os 50. "Estou ótimo, não tenho o menor problema com idade, me sinto jovem, me sinto ativo, ainda tenho muitos sonhos e muita vontade de trabalhar, muita vontade de viver, viajar, conhecer novas culturas. Quero aproveitar a vida, cuidar da saúde, física e mental, e pensar em novos projetos, seguir. Não tenho medo de envelhecer, acho lindo, inclusive. Quanto mais o tempo passa, mais maturidade, mais conhecimento e autoconhecimento. Quero cuidar da saúde para viver uma vida longa, contar muitas histórias e estar perto das pessoas que eu amo, minha família, minhas filhas, meus pais, meu irmão, minha esposa, meus amigos", concluiu.
E, para quem não sabe, vai uma curiosidade: Danton Mello também é dublador. É dele a voz de atores emblemáticos do cinema mundial, como de Jason Biggs, de American pie, e de Leonardo Dicaprio. Quando assistir a Titanic ou a outro clássico protagonizado pelo icônico norte-americano defensor da Amazônia, em versão dublada, preste atenção. Ambos, aliás, têm uma paixão em comum além da arte: a defesa do meio ambiente. Nos anos 1990, ele foi apresentador do programa Globo Ecologia — inclusive, foi trabalhando nessa produção que ele sobreviveu a um grave acidente aéreo, em 14 de setembro, de 1998. O helicóptero em que ele e a equipe estavam caiu depois de sobrevoar o Monte Roraima, na Região Norte do Brasil.