Crítica

Novo filme de Blake Lively traz agressão à personagem e ao público

'É assim que acaba': um certo glamour para a agressão física e mental

É assim que acaba: drama superficialmente pesado, com Blake Lively
 -  (crédito: Sony Pictures/Divulgação)
É assim que acaba: drama superficialmente pesado, com Blake Lively - (crédito: Sony Pictures/Divulgação)

Truclência de boutique

Crítica // É assim que acaba ★★

O mesmo desserviço que a trilogia 50 tons de cinza prestou ao erotismo o novo longa É assim que acaba presta à discussão da violência doméstica. Sem um colorido mais intenso, o filme não encara o registro das agressões que a protagonista (Blake Lively) sofre no curso da vida — num reflexo a tudo o que, no passado, a mãe dela (papel de Amy Morton) vivenciou. Quem lembrar do estilo das adaptações melosas da literatura de Nicholas Sparks para a telona, a exemplo de Querido John e Um porto seguro, terá a percepção do que o diretor (e astro) Justin Baldoni (de A cinco passos de você e da série Jane the virgin) faz pelos escritos da autora Colleen Hoover, vertido em roteiro da jovem Christy Hall.

No lugar do clássico "sua batata está assando", a dócil Lily Bloom (Lively) dispara ao parceiro Ryle (Baldoni) um "sua fritada está queimando", numa inofensiva e mera constatação, na cozinha. Sem demora, sofrerá a primeira das sucessivas violências. Brota, com naturalidade, a corriqueira autodefesa dita por Ryle: "(Desculpe) Foi sem querer".

E é assim, entre uma atmosfera sexy, na qual grita a boa trilha sonora (ao estilo Grey´s Anatomy), que correm as vidas paralelas narradas no corpo de Lily: ela, na juventude, fora apaixonada pelo "mendigo" (ou "desalojado" Atlas, personagem de Brandon Sklenar, e agora, numa espécie de distração de grã-fina, se deixa engambelar pelos sentimento do neurocirurgião (e ricaço) Ryle. Ele a quer como uma espécie de Amélia, e, ao que diz adorar "o prazer", se gaba de desviar do amor. Complicações e tolerância habitam a novela açucarada para a qual o filme traz vocação, isso depois de uma encenação espirituosa de Lily e Ryle.

Em Boston, cidade na qual Lily estabelece o sonho de ser proprietária de floricultura, ela vai esbarrar num amontoado de confusões amorosas, ao reencontrar Atlas. Para o deleite da legião de fãs dos livros (sim, haverá continuação), desdobram-se os traumas de todos os personagens, no surreal conto que traça o óbvio paralelo da efemeridade do amor e da resistência e beleza das flores. Haverá quem goste.

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postado em 09/08/2024 11:27 / atualizado em 09/08/2024 11:27
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