Cinema

Ninguém fica indiferente ao terror 'MaXXXine', com sangue e Mia Goth

Terceiro filme criado Ty West, MaXXXine foi precedido por X: A marca da morte e Pearl

Crítica// MaXXXine ★★★

Embalado por violentos excessos gráficos e ainda encharcado de referências de cinema (algumas até involuntárias), MaXXXine flerta com o erotismo desajeitado do primário O diabo na carne de Miss Jones (1973) e faz homenagens à estrelas vívidas do porte da vampiresca Theda Bara, que, não ao acaso, tem a estrela (na Calçada da Fama) pisada pela protagonista de MaXXXine interpretada por Mia Goth.

O novo filme vem a reboque de outros dois longas de terror criados pelo cineasta Ty West, X: A marca da morte e Pearl: neles estão os embriões das crises de Maxine Minx, que novamente se vê perseguida pela mácula de, como atriz, ter participado do entretenimento adulto e pela claustrofobia de ter um serial killer no rastro dos passos.

Morto há mais de 20 anos, o diretor Affonso Brazza, com a cômica imperfeição cênica, tem um revival, por momentos do filme. Para além do voyeurismo doentio empregado no longa de terror, há exame dos efeitos do sufocamento da criança (candidata à estrela) criada na pressão e no capricho de tipos conservadores. Claramente, ressona a frase de Bette Davis que associa à monstruosidade a criação de astros e estrelas de cinema. No longa MaXXXine, a atriz Maxine Minx celebra a entrada dela num "filme de verdade", diante da oportunidade de estrelar Puritana 2, em período ainda sob as asas da onda conservadora de Ronald Reagan. Quem colabora para a ascensão é a diretora interpretada por Elizabeth Debicki (de The crown), numa participação de peso neste filme que celebra os anos 80.

O desconforto e o pânico se espalham até mesmo entre os espectadores de MaXXXine: de cara, ao desnudar um homem, ela passa de caça a caçadora, com efeitos traumáticos (em especial para a plateia masculina). Previsível na trama detetivesca, comandada pela participação John Labat (o divertido Kevin Bacon, em cena), MaXXXine traz cenas inesquecíveis como a do depósito de ferro velho e da corrida nas cercanias das locações do Bates Motel (de Psicose). Ao fim, com final tosco (à la terror de Terrifier), o longa perde o peso da citação a David Lynch, com imagens aos pés do letreiro de Hollywood (visto em Cidade dos sonhos e Império dos sonhos). Uma grande pena.

 

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