Uma audiência pública marcada para a próxima sexta-feira, no Museu Nacional da República, discutirá a concessão de um terreno no Setor de Divulgação Cultural para a futura sede da Fundação Athos Bulcão que, atualmente, funciona na 510 Sul. A entidade foi criada em dezembro de 1992 para preservar e divulgar a obra do artista plástico, que morreu em julho de 2008. Ao Podcast do Correio, a presidente da fundação, Marcia Zarur, e a secretária-executiva, Valéria Cabral, conversaram com o cronista e subeditor de Cultura Severino Francisco. Ambas falaram sobre a expectativa quanto ao processo.
A futura sede contará com um projeto arquitetônico de João Filgueiras Lima, o Lelé, grande colaborador de Athos. Valéria salienta que o espaço ajudará bastante, tendo em vista que há custos muito altos para a manutenção da loja, pois a fundação não possui nenhum suporte financeiro do Executivo. "Vivemos do trabalho que realizamos. Desse trabalho, temos que pagar aluguel, água, luz, telefone, internet, salários, entre outros. Com uma sede, não teríamos mais preocupações em pagar parte desses custos", explicou.
"O projeto desenvolvido pelo Lelé não é pouca coisa. Ele é um grande arquiteto. O próprio Lelé tomou conta de muitas obras de Oscar Niemeyer enquanto Brasília estava sendo construída e vivia dizendo que desenhava projetos para o Athos. Isso é um prazer e um presente que nós recebemos e pretendemos compartilhar com a cidade, porque teremos condições de oferecer, agora em outra escala", ressaltou a secretária-executiva.
No mesmo ano em que chegou a Brasília, em 1958, Athos criou os azulejos da Igrejinha de Nossa Senhora de Fátima, na 307/308 Sul. O painel é o único trabalho figurativo do artista plástico, com a pomba representando o Espírito Santo e a estrela, a Estrela de Belém, que guiou os reis magos até o menino Jesus. Mesmo dedicando 50 anos de sua vida à capital federal, o artista plástico é o único dos grandes criadores que não tem um espaço para chamar de seu.
"Nós temos hoje a marca registrada de Brasília, os azulejos de Athos Bulcão. Não tem como você olhar para eles e não pensar na nossa capital. Acreditamos que é uma dívida que a cidade tem com Athos Bulcão. Não é só um presente a sede, mas uma dívida que a cidade vai pagar para esse grande mestre, que contribuiu tanto com Brasília", salientou a jornalista Marcia Zarur.
Acervo
O acervo doado por Athos Bulcão em vida à fundação gira em torno de 400 obras, mas, hoje, já são 700 sob a guarda da entidade. Valéria contou que, ao longo dos anos, conseguiu obter parte das obras, preservando, assim, o patrimônio cultural do artista plástico.
"Em momentos em que estivemos financeiramente melhores, adquirimos, por exemplo, uma máscara. Alguém descobriu que o pai havia trocado com o professor Athos um guache, e conseguimos obter a máscara trocando por outro produto da loja. Ao longo desse trabalho, conseguimos amealhar quase 700 obras para a fundação", disse a secretária-executiva.
As obras também são levadas para dentro das salas de aula. Uma parceria entre a fundação e a Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEE-DF) leva estudantes da rede pública de ensino à loja do artista plástico. "Acredito que só este ano, 28 escolas vieram aqui. Após as visitas, os alunos recebem um lanche, um azulejo e adesivos vinílicos para criarem suas próprias obras. O trajeto passa pela Igrejinha e pelo Parque da Cidade, onde há obras do arquiteto", detalhou Valéria.
Em outras ocasiões, a própria entidade se insere no ambiente escolar, levando parte do acervo para exibição aos estudantes. "O trabalho de educação patrimonial e de preparar os cidadãos do amanhã para entenderem quem foi Athos Bulcão é fundamental. Acho que é essencial para todas as faixas etárias saberem quem foi o artista plástico, suas obras, seus legados e sua contribuição para a cidade. Nós fazemos isso muito bem, há tanto tempo, mesmo sem apoio algum", completou Márcia.