Pecuária

Preparando carne para exportação

Com mais 82 mil cabeças de gado bovino, região vem trabalhando para comercializar o produto em outros países. Ministério da Agricultura garante que o quadradinho está livre de febre aftosa sem a necessidade de vacinação

O Distrito Federal começa a se preparar para exportar carne bovina a outros países. De acordo com a Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural (Seagri-DF), fazendeiros candangos têm adotado medidas que melhoram a qualidade dos produtos pecuários de seus rebanhos. Isso, segundo a pasta, permitiu que, em 2023, a venda de carne movimentasse mais de R$ 65 milhões na região. Parte do bom desempenho se deve à chegada, nos últimos cinco anos, de 366 novos pecuaristas ao "quadradinho", que conta com 82 mil cabeças de gado.

Apesar de o número não ser expressivo, se comparado a outras áreas do Brasil com tradição no setor, as novas medidas tomadas, com vista às vendas ao exterior, geram boas expectativas para os produtores locais, que se empenham para alcançar o objetivo. Com fruto do esforço, em maio, o Ministério da Agricultura deu ao DF a declaração de região livre de febre aftosa sem a necessidade de vacinação do rebanho, requisito básico para a comercialização de carne fora do país.

Credenciais

Para conquistar a liberação, que retira a necessidade da imunização contra a doença, o secretário da Seagri-DF, Rafael Bueno, garantiu que foram necessários anos de dedicação. O esforço foi conjunto, tanto de órgãos públicos responsáveis pela fiscalização quanto de produtores locais. Por parte da iniciativa privada candanga, por exemplo, empresários criaram, em 2022, o Fundo de Desenvolvimento da Pecuária do DF (Fundepec).

Mas, para disputar um mercado com o europeu, por exemplo, é necessário ter um produto com valor agregado. De olho nisso, há mais de duas décadas, o projeto Guzerá da Capital tem buscado melhoramento genético do gado brasiliense. Na região do PAD-DF, Adriano Varela Galvão, 51 anos, e seus sócios — José Brilhante Neto e Geraldo Melo Filho — criam bois e vacas da raça guzerá. Os animais são destinados tanto ao corte quanto ao fornecimento de leite. Após haver passado, nos últimos anos, por um processo que permitiu ao empreendimento ter produção de bois e vacas em quantidade para atender a ambas as demandas, agora se inicia uma nova fase prevista no planejamento. O grupo busca ser fornecedor de espécimes nascidos em sua propriedade a outras fazendas com o objetivo de ampliar o faturamento.

Na Fazenda Entre-Rios, de Galvão e seus parceiros, trabalha-se o aperfeiçoamento da espécie. Além de vender os animais em si, também é feita a comercialização de embriões e sêmen para fazendeiros no DF e em outros estados. O propósito é ter, a partir de terras brasilienses, guzerás com carne e leite de melhor qualidade.

Galvão contou que seu rebanho possui reconhecimento nacional, com vendas para diversas localidades do país. Com pouco espaço para a produção no "quadradinho", ele acredita que a força do gado brasiliense se encontra no refinamento que tem sido alcançado. "O DF não tem grandes extensões de área, então o que ele precisa é de ter produtos com valor agregado, que é o que a gente faz com a genética", disse.

A liberação para a produção de gado sem a necessidade de vacinas contra a febre aftosa gera para Galvão e demais produtores a esperança de acesso a mercados estrangeiros. Galvão diz esperar que a condição de exportador habilitado se torne realidade até 2025.

Leite e corte

O fazendeiro de Brasília Eduardo Henrique de Oliveira, 46, também foca no segmento da pecuária. Ele começou a produzir leite em uma propriedade rural há 8 anos, após descobrir que suas filhas eram alérgicas aos laticínios que compravam em supermercados. Buscou e achou vacas com genótipo A2A2, fornecedoras de leite que não provoca desconforto digestivo. Além de resolver o problema na dieta das meninas, encontrou uma oportunidade de negócios a que a família se dedica, inclusive em derivados do alimento.

O criador de gado acredita que todos os pecuaristas têm a intenção de exportar e que, quando se chega a esse nível é porque houve a consolidação, com resultados satisfatórios e ajustados ao mercado-alvo, na produção. Ainda esperando a liberação para exportar carne, ele já comercializa seus laticínios para outras regiões do Brasil e até para países na América Latina.

Potencial

De acordo com Maximiliano Cardoso, coordenador do programa de ruminantes e equídeos da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF), a pecuária da capital federal tem particularidades e potencialidades para serem desenvolvidas e aproveitadas. Ele — que é zootecnista e mestre em Ciências Animais — explicou que o DF tem um enorme potencial para a venda de leite, derivados e carnes para consumo de subsistência, para programas sociais e vendas governamentais, e também para atender a uma fatia interessante do mercado consumidor de alta renda.

"Temos um órgão de fiscalização atuante e com profissionais competentes que, junto à atuação da extensão rural, caminham em direção à formalização da produção de carne e leite do DF, obedecendo à legislação vigente e com o olhar para produzir alimentos com qualidade à população", assegurou.

 

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